Novo Governo toma posse em Bissau com demissões à mistura
Iancuba Dansó (Bissau)
10 de junho de 2022
Um dia depois de ser conhecido o novo Governo guineense, o Presidente Umaro Sissoco Embaló exonerou três ministros que faltaram à tomada de posse, por discordarem com a formação do novo Executivo.
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Três altos dirigentes do Partido da Renovação Social (PRS), nomeados para diferentes pastas ministeriais, não marcaram presença na tomada de posse, esta sexta-feira (10.06), no Palácio da República, em sinal de descontentamento pela forma como foi formado o novo Executivo.
Em reação, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, exonerou as três figuras: Mário Fambé, ministro da Energia, Fernando Dias, ministro dos Recursos Naturais, e Tcherno Djaló, ministro da Educação Nacional.
O Partido da Renovação Social (PRS) convocou, esta sexta-feira, com caráter de urgência, a reunião da sua Comissão Política Nacional, para analisar os últimos desenvolvimentos políticos na Guiné-Bissau.
Após a tomada de posse dos novos membros do governo, o primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam, falou da ausência do PAIGC: "Indigitei o vice-primeiro-ministro [Soares Sambú] para negociar com o PAIGC, e por fim, decidiram não integrar o Governo. Portanto, esta é a decisão unilateral do PAIGC e nós não podemos dizer algo mais do que isto", explicou.
Entretanto, em curtas declarações à DW África, Manuel dos Santos - 'Manecas', dirigente do PAIGC, evocou as razões que motivaram o partido a declinar o convite para adesão ao executivo.
"O Bureau Político do PAIGC [reunido na quinta-feira (09.06)] disse que o partido não tem condições para realizar o seu congresso [é impedido pela justiça]. Não se levantam as medidas de coação ilegais que foram impostas ao presidente [do partido - impedido pela justiça de deixar o país]", lamentou.
"O PAIGC não tem condições para participar no Governo", asseverou.
‘Manecas’ disponível para dialogar
Manuel dos Santos disse que o PAIGC está aberto e disponível para o diálogo, sempre que o Presidente da República o solicitar.
O jornalista Sabino Santos defende que o choque de Umaro Sissoco Embaló com as várias entidades políticas guineenses é prejudicial para o chefe de Estado e para o país.
"Para o Presidente da República, ficou provado que já não tem aliança política capaz de o suportar em qualquer embate eleitoral. Para o país, vamos continuar com esta crise cíclica, até onde for possível”, comentou.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.