Novo líder interino do Sudão promete voltar ao governo civil
DPA | AP | AFP | Reuters | cvt
13 de abril de 2019
O General Abdel-Fattah Burhan é o segundo oficial militar a tomar posse como líder do Sudão, depois da deposição de Omar al-Bashir num golpe de Estado. Manifestantes acusam os militares de "roubar a revolução".
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Horas depois que o general Awad Ibn Ouf deixou o cargo de governante militar do Sudão, o general Abdel-Fattah Burhan, que é amplamente desconhecido fora do círculo militar, tornou-se chefe do Conselho Militar de Transição que depôs o antigo Presidente Omar al-Bashir na quinta-feira (11.04).
Ibn Ouf, que está sob sanções dos Estados Unidos por apoiar milícias genocidas na região de Darfur, esteve sob pressão internacional para estabelecer um governo de transição civil.
"Burhan é um oficial de alta patente dentro das forças armadas, mas basicamente é um soldado veterano", disse um oficial do exército sob condição de anonimato.
Na quinta-feira, o exército sudanês removeu o Presidente al-Bashir em um golpe, após meses de protestos populares contra suas três décadas de governo. Desde meados de dezembro, os manifestantes têm se insurgido contra a triplicação dos preços do pão e uma crise económica que levou à escassez de bens básicos.
Salah Ghosh, chefe do Serviço Nacional de Inteligência e Segurança do Sudão (NISS), também deixou o cargo, os novos governantes militares do país confirmaram este sábado (13.04).
"O chefe do Conselho Militar de Transição, Abdel-Fattah Burhan, aceitou a demissão do chefe do NISS", declarou o órgão.
"Desenraizar" o antigo regime
Em seu primeiro discurso dirigido à nação transmitido pela televisão estatal este sábado, o líder interino anunciou que estava levantando o toque de recolher em todo o país, acrescentando que todos os presos políticos seriam libertados. Burhan disse ainda que um governo civil logo seria estabelecido no Sudão e prometeu "desenraizar" o antigo regime sudanês.
"Anuncio a reestruturação das instituições estatais de acordo com a lei e prometo lutar contra a corrupção e desenraizar o regime e seus símbolos", declarou o general Burhan.
O general Burhan acrescentou que todos os envolvidos no assassinato de manifestantes enfrentariam a justiça.
"Não é golpe“
No início da sexta-feira (12.04), o Conselho Militar informou que não tinha "ambições" de governar permanentemente o país da África Oriental.
Segundo o tenente-general Omar Zein Abedeen, chefe do comitê político do conselho, "o papel do Conselho Militar é proteger a segurança e a estabilidade do país. Isto não é um golpe militar, mas tomar o partido do povo".
A Associação de Profissionais do Sudão, um dos grupos que lideram os protestos, disse que a renúncia de Ibn Ouf foi "uma vitória da vontade do povo". A associação prometeu continuar seus comícios a menos que Burhan concordasse em "transferir os poderes do Conselho Militar para um governo civil de transição".
Remoção de Al-Bashir
Na sequência dos protestos populares, os militares sudaneses retiraram do poder, na quinta-feira (11.04), o antigo governante Omar al-Bashir, num movimento amplamente considerado como um golpe de Estado.
O que começou como protestos contra o aumento dos preços dos alimentos rapidamente se transformou em um desafio sustentado contra o governo de 30 anos de al-Bashir. Os protestos ganharam impulso na semana passada, quando o presidente argelino Abdelaziz Bouteflika renunciou após protestos contra suas duas décadas no poder.
Apesar do júbilo imediato em torno da queda de al-Bashir, a intervenção militar corre o risco de substituir uma ditadura por outra, frustrando as esperanças dos manifestantes por um governo civil e abrindo caminho para mais instabilidade.
Neste sábado, milhares de sudaneses protestaram em frente à sede militar em Cartum. Juraram permanecer nas ruas até que um governo civil chegue ao poder.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.