O Presidente cessante, Hassan Sheik Mohamud, aceitou a derrota após duas rondas de votação. O seu sucessor, o ex-primeiro-ministro somali Mohamed Abdullahi Farmajo, já reconheceu ter pela frente uma tarefa nada fácil.
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Mohammed Abdullahi Farmajo foi esta quarta-feira (08.02) eleito novo Presidente da Somália por votação da Assembleia Nacional.
Com 184 votos, o antigo primeiro-ministro, com cidadania somali e norte-americana, obteve mais de metade dos votos dos 329 deputados na segunda volta, depois de o atual chefe de Estado, Hassan Sheikh Mohamud, que concorria à reeleição, reconhecer a derrota.
"Fez-se história, nós tomámos este caminho na direção da democracia e agora quero felicitar Mohamed Abdullahi Farmajo", declarou Hassan Sheik Mohamud.
A votação teve lugar no aeroporto, uma antiga base da força aérea sob forte vigilância das forças da AMISOM, a missão de paz da União Africana na Somália, devido a uma ameaça de ataque da milícia Al-Shabaab.
"Tarefa assustadora"
"Tenho uma tarefa assustadora à minha frente", reconheceu o novo Presidente no seu discurso perante os membros do Parlamento logo após o resultado. "Vou trabalhar arduamente para realizar os vossos sonhos", prometeu Farmajo.
Milhares de apoiantes do novo chefe de Estado celebraram a vitória nas ruas da capital, Mogadíscio. Lojas, escolas e universidades foram encerradas.
"Farmajo derrotou políticos poderosos. Ele conquistou as nossas mentes e os nossos corações", disse um jovem apoiante do Presidente eleito.
O chefe do comité eleitoral da Somália, Abdirahman Beyle, pediu à população para trabalhar em conjunto com o novo Presidente. "É um dia muito feliz por termos eleito um novo presidente, um novo governo e uma nova história."
EUA lamentam irregularidades
Os Estados Unidos da América (EUA) já felicitaram Mohamed Abdullahi Farmajo pela sua eleição como Presidente da Somália num clima eleitoral "relativamente seguro", apesar de lamentarem as "irregularidades registadas durante esse processo".
09.02.17 Eleições Somália - MP3-Stereo
"Felicitamos os milhares de somalis de todo o país, incluindo jovens e mulheres, que puderam votar em maior número do que nas eleições de 2012, mas lamentamos as inúmeras informações credíveis de irregularidades no processo eleitoral", lê-se num comunicado do Departamento de Estado.
Os EUA instam o novo Governo a estabelecer um sistema eleitoral de "uma pessoa, um voto" para que as eleições de 2020 sejam "livres e justas", ao contrário das de 2016 e 2012.
País mais corrupto do mundo
Essa é a primeira tentativa em 25 anos de se constituir um governo central na Somália, o país mais corrupto do mundo, segundo a organização não-governamental Transparência Internacional. O país estava sem um governo funcional desde a queda do regime de Siad Barre, em 1991.
O anterior Presidente Hassan Sheikh Mohamud foi altamente criticado por doadores internacionais por envolvimento em escândalos de corrupção.
O processo eleitoral, que deveria ter decorrido em agosto de 2016, foi marcado por trocas de acusações sobre compra de votos. 275 membros do Parlamento e 54 senadores foram nomeados por 14 mil chefes de clã e tiveram que escolher o vencedor entre 21 candidatos.
O jornal "The New York Times" classificou o processo eleitoral como o mais fraudulento da história da Somália.
Somália - Entre o terror e o quotidiano
O país, marcado pela guerra civil e confrontos com a milícia islâmica Al-Shabab, oscila entre o retorno à normalidade e ataques terroristas.
Foto: STUART PRICE/AFP/Getty Images
O regresso à normalidade?
A Somália, um país do Corno de África devastado pela guerra. Depois da brutal guerra civil e a queda do regime de Mohamed Siad Barre, em 1991, o país, já atingido pela pobreza e pelas secas, tornou-se um paraíso para os piratas e radicais islâmicos. A milícia Al-Shabab baniu o futebol. Hoje, este rapaz pode jogar com os soldados da missão da União Africana na Somália, a AMISOM.
Foto: STUART PRICE/AFP/Getty Images
Um novo parlamento para a Somália
Em 2012, as forças da AMISOM, apoiadas por unidades etíopes e somalis, expulsaram os islamistas da Al-Shabab de Mogadíscio e outras grandes cidades. Em Agosto do mesmo ano, o novo parlamento da Somália é juramentado – o primeiro, depois de oito anos de um governo de transição. Por razões de segurança, o evento não tem lugar no Parlamento, mas no aeroporto, um local mais seguro.
Foto: Mohamed Abdiwahab/AFP/GettyImages
Uma vitória de esperança
Em Setembro de 2012, pela primeira vez em 20 anos, o Parlamento elege um novo presidente, Hassan Sheikh Mohamud. Apenas dois dias após a tomada de posse, o presidente escapa a um ataque suicida: diante do seu gabinete improvisado, num hotel, dois bombistas fazem-se explodir. O professor universitário, de 56 anos, muçulmano moderado, foi várias vezes alvo de ataques.
Foto: ABDURASHID ABDULLE ABIKAR/AFP/GettyImages
Libertação das cidades costeiras
Pescadores somalis em Marka, a cerca de 100 km de Mogadíscio, assistem à chegada das tropas da União Africana, em Setembro de 2012. A cidade, no oceano Índico, foi, durante muito tempo, um ponto estratégico da Al-Shabab. No final do mês, os rebeldes deixam a cidade, após combates com soldados quenianos da UA. A missão expulsa também as milícias do seu último bastião, a cidade costeira de Kismayo.
Foto: SIMON MAINA/AFP/GettyImages
Fome, desespero e medo
Receando os radicais islâmicos, muitos civis fogem das áreas controladas pela Al-Shabab. Esta família carregou um camião com os seus pertences. Há quem transporte os seus bens em carros puxados por burros. Por causa da seca e da guerra, muitos somalis sofrem de fome: entre 2010 e 2012, cerca de 260 mil pessoas morreram de fome, de acordo com dados da ONU.
Foto: Mohamed Abdiwahab/AFP/GettyImages
Proteger a população
A presença das tropas da União Africana (UA) na Somália já é normal. As primeiras chegaram em 2007, após uma decisão do Conselho de Segurança da UA no país. Apoiar o governo de transição também fazia parte da missão. A UA garante a segurança dos habitantes de Afgoye, cidade localizada a oeste de Mogadíscio, bem como de 400 mil deslocados.
Foto: STUART PRICE/AFP/GettyImages
Recuperar as áreas rurais
Dezembro de 2012: as tropas da UA avançam para os bastiões rebeldes a norte. 17 mil soldados, no total, participam na luta contra a Al-Qaeda e as milícias da Al-Shabab. Pouco a pouco, as áreas rurais são retomadas pelas tropas e, no geral, a situação de segurança melhorou na Somália. Mas os ataques e atentados ainda são frequentes em Mogadíscio.
Foto: STUART PRICE/AFP/Getty Images
Bombas e tiros em Mogadíscio
Numa altura em que a Somália voltava à normalidade, vários meses depois, uma série de atentados atinge novamente o país. Dois veículos armadilhados explodem em abril de 2013, diante do Palácio da Justiça de Mogadíscio, matando 16 pessoas. Duas semanas mais tarde, um funcionário da justiça e um jornalista são mortos a tiro na rua.
Foto: Mohamed Abdiwahab/AFP/Getty Images
Passo a passo, em direcção à paz
Apesar dos incidentes, a Somália está no caminho da normalidade: desde o início do ano, vários cidadãos somalis regressaram ao seu país. O Reino Unido reabriu uma embaixada em Mogadíscio, depois de 22 anos de encerramento. A ONU decidiu, no início de maio de 2013, enviar peritos para a Somália. Também os ataques piratas ao largo do Corno de África diminuíram significativamente.