Novo Presidente da Somália promete trazer paz ao país
cm | com agências
10 de junho de 2022
O recém-eleito Presidente Hassan Sheikh Mohamud tomou posse esta quinta-feira, em Mogadíscio, com a capital em confinamento obrigatório por razões de segurança. E pediu ajuda internacional para combater a fome no país.
Publicidade
Há anos que o grupo Al-Shabaab, ligado à Al-Qaeda, luta para derrubar o governo apoiado pelo Ocidente. Hassan Sheikh Mohamud prometeu repor a paz no país: "A linha do meu governo para a democracia será baseada na Somália em paz consigo mesma e com o resto do mundo".
"Precisamos dar as mãos ao resto do mundo em matéria de segurança e, em particular, aos países do Corno de África que enfrentam desafios de segurança provenientes de grupos terroristas como Al-Shabab e Estado Islâmico", sublinhou o Presidente.
Por isso, defendeu, "é imperativo que nos unamos e trabalhemos em conjunto para nos defendermos contra esses inimigos, a fim de salvarmos o nosso povo contra eles."
O ato solene teve lugar na zona VIP do aeroporto internacional da capital, sob estrita segurança.
Na véspera, vários morteiros caíram perto do aeroporto, onde a ONU, a missão de paz da União Africana e embaixadas estrangeiras têm escritórios, causando vários feridos, após ter sido decretado o toque de recolher obrigatório por causa da tomada de posse.
País enfrenta fome e seca
A posse do Sheikh Mohammud acontece no momento em que pelo menos sete milhões de somalis enfrentam fome e escassez de alimentos, com o país a atravessar a pior seca em 40 anos.
O novo Presidente apelou ainda à diáspora somali e à comunidade internacional a ajudar o país a combater a fome e ultrapassar a crise humanitária.
Somália: A fome num Estado falhado
01:43
Apesar dos repetidos apelos das organizações humanitárias, apenas foram atribuídos 18% dos estimados 1,5 mil milhões de dólares necessários para evitar uma repetição da fome de 2011, que matou 260.000 pessoas.
Nas ruas da capital, as opiniões dividem-se. "Estou muito feliz por ver o nosso novo Presidente empossado hoje e espero que ele lide com os desafios de segurança", diz Maryan Ali, estudante de 18 anos.
"O nosso país está a enfrentar uma seca severa. Sabemos que o novo presidente pediu recentemente uma intervenção internacional e local. Além disso, não estou feliz com o confinamento na capital hoje", critica.
"Este é um dia histórico, pois estamos a testemunhar uma transferência pacífica de poder", considera Mohamud Ibrahim, residente em Mogadíscio. "É também um privilégio para a Somália porque foram convidados dignitários de alto nível, o que transmite uma imagem positiva do nosso país."
Publicidade
Grandes desafios
A cerimónia contou com a presença de líderes de nações vizinhas, como a Etiópia, Quénia e Djibutim que prometeram uma colaboração mais estreita com a Somália.
Hassan Sheikh Mohamud regressa ao cargo de chefe de Estado para um mandato de quatro anos, depois de ter cumprido um primeiro mandato, entre 2012 e 2017.
Além de grandes desafios como o terrorismo, tem outras prioridades como a "reconciliação política" e a recuperação económica do país.
Mogadíscio - cidade de extremos
A capital da Somália é uma cidade de desespero e de esperança. Assolada por quase 30 anos de guerra civil, Mogadíscio tenta reconstruir-se e recuperar um Estado falido.
Foto: DW/S. Petersmann
Combate à fome
Xamdi é filha de nómades somalis e esteve na enfermaria de nutrição do Hospital Banadir, de Mogadíscio, desde o início de agosto. A sua mãe alimenta-a com uma pasta à base de amendoim, para tratamento de desnutrição aguda. Xamdi tem três anos e pesa apenas sete quilos. A maioria das crianças na Alemanha na mesma faixa etária pesa duas vezes mais. Cerca de 800 mil somalis enfrentam fome.
Foto: DW/S. Petersmann
Sistema de saúde em colapso
Este menino recupera na cama ao lado de Xamdi. Luta contra a pneumonia, uma das infecções mais comuns causadas pela desnutrição crónica e condições superlotadas nos campos de refugiados. As suas mãos estão envolvidas em papel para evitar que ele tire o tubo de alimentação. O Hospital Banadir é a maior clínica pública de Mogadíscio, mas mesmo aqui é visível o caos do sistema de saúde.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de refugiados
A capital somali está cheia de casas improvisadas. Muitos nómadas e camponeses estão determinados a ficar. Fugiram da guerra civil, do terror, da violência e da fome extrema. A população da cidade saltou para cerca de 2,5 milhões. Pelo menos 600 mil são oficialmente consideradas "pessoas internamente deslocadas".
Foto: DW/S. Petersmann
Um fardo pesado
Os conglomerados e as condições de vida sem higiene nos campos são um risco para a saúde. As infecções agudas de foro respiratório e a diarreia são doenças comuns entre os deslocados internos de Mogadíscio. A vida nos campos improvisados é uma luta diária para a próxima refeição e o próximo balde de água.
Foto: DW/S. Petersmann
A vida à espera
Não há muito a fazer dentro dos campos, mas sim sentar e esperar. Muitas crianças não têm acesso a educação. A maioria dos acampamentos improvisados não tem parque infantil ou outros espaços recreativos.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade feita de ruínas
Também há muito dificuldade fora dos campos. Especialmente a parte antiga de Mogadíscio é marcada por quase três décadas de conflito interno. Mas também há sinais de novos começos.
Foto: DW/S. Petersmann
A hora da "selfie"
Esses jovens divertem-se no Parque da Paz de Mogadíscio. Todos eles são estudantes, todos expressam fé no novo Governo do Presidente Abdullahi, apoiado pelo Ocidente. Um dos estudantes, que quer ser engenheiro de aviação civil, diz: "é muito mais seguro aqui do que há cinco anos. Hoje temos lugares como o Parque da Paz. Mogadíscio está mudando e nós estamos adoramos".
Foto: DW/S. Petersmann
Não às armas
Logo na entrada do Parque da Paz, os visitantes são lembrados de deixar para trás armas, como as chamadas Kalashnikovs, facas, granadas de mão e pistolas.
Foto: DW/S. Petersmann
Onde tudo acontece
A praia de Liido, em Mogadisci, atrai multidões, especialmente após as preces islâmicas de sexta-feira. As pessoas juntam-se para dançar e jogar futebol. Este desporto é extremamente popular na Somália e os jovens amantes reúnem-se na praia de Liido, um local antes de acesso difícil a civis, que estava sob controlo da milícia Al-Shabab.
Foto: DW/S. Petersmann
Reconstrução em pleno andamento
A comunidade internacional começou a investir na reconstrução do Estado fracassado da Somália. Os sinais visíveis estão na capital, como esta nova rua foi feita com ajuda da Turquia. Os turcos também criaram uma grande base militar em Mogadíscio para treinar soldados da Somália.
Foto: DW/S. Petersmann
Muros e cercas
Novas residências brotam em toda a Mogadíscio. A diáspora que retorna para a Somália investe no mercado imobiliário em expansão da cidade. Assim como políticos e outras classes mais ricas. Muitos dos novos edifícios estão rodeados por altos muros de proteção contra explosão e arames farpados para afastar terroristas, criminosos e grupos rivais.
Foto: DW/S. Petersmann
Zona Verde
O terreno do aeroporto tornou-se o centro dos expatriados. Como Bagdad e Kabul, Mogadíscio também tem uma chamada "zona verde". As Nações Unidas e a maioria das missões diplomáticas que retornam vivem e trabalham neste vasto complexo que se desenvolveu em torno do Aeroporto Internacional de Mogadíscio. Está cercado e protegido pelas tropas da União Africana.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de murais
A maioria das fachadas das lojas ou vitrines é pintada à mão, em Mogadíscio. Os trabalhos agregam uma cor necessária a uma cidade que se ergue lentamente de suas ruínas.
Foto: DW/S. Petersmann
Compras pela internet
Cartazes modernos também têm conquistado as ruas, anunciando compras on-line de moda árabe ou uniformes para instituições privadas de ensino.
Foto: DW/S. Petersmann
Novidades não são para todos
As novas atrações da cidade estão fora do alcance dos muitos deslocados e pobres. O progresso e a estabilidade da Somália também dependerão da capacidade do Estado de conquistar a confiança dos habitantes. Atualmente, quase sete milhões de pessoas, cerca de metade da população do país, dependem de ajuda humanitária.
Foto: DW/S. Petersmann
Explosão juvenil
Mais de metade da população da Somália tem menos de 18 anos. A maioria dos cidadãos nasceu após queda de Mohammed Siad Barre, em 1991 - o evento crucial que desmoronou o Estado. A juventude da capital, quando não está envolvida em alguma atividade, sente-se marginalizada, aumentando a vulnerabilidade da Somália.