Novo presidente do Egito terá como desafio a crise económica
22 de maio de 2012Na véspera das eleições presidenciais, o debate público no Egito aponta para preocupações muito concretas dos eleitores. Ao contrário do que se passou nas legislativas, a situação económica do país parece dominar esta campanha.
É essa também a conclusão de analistas como o politólogo alemão Thomas Demmelhuber, da Universidade de Hildesheim, que lembra que o Egito atravessa atualmente grandes problemas de ordem macroeconómica. “Os eleitores, no entanto, esperam uma melhoria da qualidade de vida após a queda do regime autocrático de Hosni Mubarak. Os egípcios querem os dividendos económicos da revolução”, afirma.
É por isso que as negociações com os doadores internacionais e regionais assumem tanta importância. Sem ajuda, o Egito estaria à beira da bancarrota, adianta o especialista. Estas negociações, porém, só avançam muito lentamente, devido à incerteza política, e a economia tarda a recuperar. Um dos sectores económicos mais fortemente afetados é o do turismo, que sofreu um recuo drástico de 30% desde o início de 2011. Outro problema é o colapso da reservas cambiais.
Campanha entra em fase de “silêncio”
Entretanto, a campanha para as eleições presidenciais terminou na segunda-feira (21.05). Até ao final do escrutínio, como mandam as regras eleitorais, os candidatos não podem dar entrevistas ou fazer declarações públicas.
Os principais candidatos são o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente da Liga Árabe, Amr Mussa, o último primeiro-ministro de Mubarak, Ahmed Shafiq, o representante da Irmandade Muçulmana (vencedora do sufrágio parlamentar) Mohamed Mursi e o islamista independente Abdel Moneim Abol Fotouh. Todos passaram as últimas semanas em digressão pelo Egito, prometendo um futuro melhor aos 50 milhões de eleitores.
A nova Constituição do Egito ainda não está concluída, mas tudo indica que vai reservar amplos poderes ao Presidente. Segundo Thomas Demmelhuber, “há uma resistência grande no debate atual sobre a futura Constituição em limitar os poderes do presidente e alargar aqueles do Parlamento”. Por isso, o analista parte do princípio de que “o Presidente continuará a marcar a atualidade política.”
Militares acusados de celebrar acordo secreto
Algumas sondagens vêem o candidato da Irmandade Muçulmana atrás de três outros. Estes inquéritos, no entanto, foram levados a cabo por um instituto de pesquisa financiado pelo Governo.
O Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu o governo após a queda de Mubarak, garantiu eleições justas e livres, e prometeu entregar o poder aos civis após o escrutínio. No entanto, há quem acuse os militares de terem chegado a um acordo secreto com a Irmandade Muçulmana. “Há muitos boatos a circular neste momento”, refere Thomas Demmelhuber. “A verdade é que o Conselho Militar não pode ignorar os novos centros de poder já criados pelas eleições parlamentares. É difícil avaliar se há acordos informais, mas a falta de transparência na divisão de poderes é solo fértil para teorias da conspiração”, explica.
Para o analista, a questão premente é a forma como os militares tentarão manter o seu papel privilegiado na política, economia e sociedade após a entrega do poder aos civis. O especialista deteta uma estratégia dos militares, que continuarão a querer desempenhar o papel de guardas das instituições.
Autores: Kersten Knipp/ Cristina Krippahl
Edição: Madalena Sampaio/António Rocha