Delfim Neves, deputado da oposição, vai chefiar o Parlamento de São Tomé e Príncipe. Em discurso, na presença do Presidente da República e sem o primeiro-ministro cessante, pediu "união" e "um projeto em nome do país".
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O vice-presidente do Partido da Convergência Democrata (PCD), Delfim Neves, na oposição, foi eleito nesta quinta-feira (22.11) presidente da Assembleia Nacional de São de São Tomé e Príncipe, no início dos trabalhos da 11ª legislatura, em que também foram empossados os 55 novos deputados para um mandato de quatro anos.
Esta foi a primeira sessão do novo Parlamento sem maiorias claras em São Tomé e Príncipe. No discurso proferido momentos depois da sua eleição, Delfim Neves prometeu trabalhar para a consolidação da democracia em São Tomé e Príncipe e no sentido de respeitar os tratados internacionais.
"Aos nossos parceiros de cooperação, podeis transmitir aos Governos e as organizações que representam, que os deputados que compõem este órgão na legislatura que hoje se inicia, os quais represento, tudo farão para que a democracia prevaleça e consolide em São Tomé e Príncipe, e que aos acordos de cooperação bem como os tratados internacionais rubricados entre legítimos Governos sejam igualmente respeitados", disse Delfim Neves no seu discurso de posse como líder do Parlamento.
O empresário concorreu ao cargo com o apoio do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), o segundo mais votado nas legislativas, elegendo 23 deputados. O maior partido da oposição e a coligação assinaram um acordo de incidência parlamentar, reclamando ter maioria absoluta, com 28 deputados, e pretende formar Governo.
"Interesse do povo"
Perante os deputados, Delfim Neves disse que é preciso unir sinergias entre os atores políticos para minimizar o sofrimento do povo. "O país está praticamente parado, inoperante, e o povo já manifesta cansaço. É necessário que unamos todos em torno de um projeto em nome de São Tomé e Príncipe, colocando em primeiro lugar os interesses da nação, acima dos interesses particulares e de grupos".
Entretanto, o primeiro-ministro cessante Patrice Trovoada, não esteve presente na cerimónia de tomada de posse dos novos deputados. Segundo várias fontes, Trovoada encontra-se ausente do país. Quem marcou a presença foi Presidente Evaristo Carvalho, que foi vaiado antes de entrar no Parlamento.
O chefe de Estado sublinhou que face ao novo cenário político no país, as leis devem ser cumpridas no país. "Num estado de direito democrático, em particular nosso regime de Governo semipresidencialista, de pendor parlamentar, a Assembleia Nacional é o palco institucional do jogo democrático, onde verdadeiramente reside o poder do povo", disse Evaristo Carvalho.
Para os analistas, as entrelinhas do Evaristo de Carvalho podem ser interpretadas como quem avisa que, sem uma maioria, a Ação Democrática Independente (ADI), que venceu as eleições com maioria simples, não terá possibilidade de governar o país.
Novo presidente do Parlamento são-tomense pede união pelo "interesse da nação"
Crise energética
O chefe de Estado de São Tomé aproveitou a oportunidade para sublinhar a necessidade de pôr cobro à prolongada crise energética que se vive no país há várias semanas.
"Não obstante, a sucessivas explicações sobre as suas eventuais causas, parece-me sensato e conveniente que seja encarrada a possibilidade de abertura de um inquérito para o apuramento cabal dos fatos", afirmou o Presidente são-tomense na cerimónia de posse dos 55 novos deputados do país.
São Tomé e Príncipe realizou eleições legislativas, autárquicas e regionais da ilha do Príncipe em 7 de outubro.
São Sebastião: A fortaleza que conta a história de São Tomé
Erguido contra os ataques dos corsários, no século XVI, o forte de São Sebastião defende hoje a história de São Tomé e Príncipe. Museu Nacional retrata os 500 anos da colonização portuguesa e a luta pela independência.
Foto: DW/Ramusel Graça
Um forte transformado em museu
Construído em 1545 pelos portugueses para defender a ilha dos corsários holandeses e franceses, o forte de São Sebastião, na baía de Ana Chaves, em São Tomé, é hoje o Museu Nacional. Um repositório da memória coletiva são-tomense que se espalha por diversas salas dedicadas à história e cultura do país, desde a escravatura à independência, passando pela agricultura e pela religião.
Foto: DW/Ramusel Graça
Os "guardiões" da fortaleza
As estátuas de João de Santarém, Pêro Escobar e João de Paiva guardam a entrada da fortaleza. São os nomes ligados ao descobrimento das ilhas de São Tomé, a 21 de dezembro de 1470, e do Príncipe, a 17 de janeiro de 1471. As estátuas foram retiradas das praças e jardins de São Tomé logo após a independência, em 1975.
Foto: DW/Ramusel Graça
Canhões contra as ameaças
Este é um dos canhões usados no forte de São Sebastião para defender a ilha dos ataques dos corsários nos séculos XVII e XVIII.
Foto: DW/Ramusel Graça
Marcas de 500 anos de colonização
No interior do forte, o acervo do Museu Nacional inclui marcas da história e da cultura do país, dominado pelos colonos portugueses durante 500 anos. Um exemplo é esta sala de jantar de uma roça, simbolizando a forma como viviam os antigos patrões das plantações de cacau e café, base da economia são-tomense até à independência. A loiça e talheres apresentam o brasão da roça.
Foto: DW/Ramusel Graça
Trabalhos forçados
No sentido contrário dos aposentos dos proprietários surge este quarto simbolizando a vida dos serviçais - naturais de Angola, Moçambique e Cabo Verde levados para São Tomé e Príncipe para trabalharem nas roças - e dos trabalhadores nativos "contratados". São Sebastião conta a história de São Tomé como entreposto de escravos e retrata os maus-tratos sofridos pelos trabalhadores.
Foto: DW/Ramusel Graça
Símbolos da resistência
Amador Vieira é uma das figuras históricas em destaque nas salas do Museu Nacional. Simboliza a luta contra a colonização portuguesa, depois de liderar a revolta dos escravos de 1595. A insurreição ficou marcada pelos combates contra as tropas do governador e pela destruição de infraestruturas e ferramentas usadas na exploração da cana do açúcar.
Foto: DW/Ramusel Graça
Do museu para as ruas
Figura preponderante no combate ao domínio colonial, Amador Vieira está também representado no centro da capital são-tomense.
Foto: DW/Ramusel Graça
Padroeiro dos marinheiros
São Jorge, santo padroeiro dos marinheiros, é a imagem de destaque à entrada da capela da fortaleza de São Sebastião. Simboliza a trajectória que dos navegadores portugueses até à descoberta das ilhas. Demonstra também a forte influência da colonização no modo de vida dos são-tomenses: o catolicismo é a religião da maioria da população.
Foto: DW/Ramusel Graça
Herança religiosa
"A marca do colonizador é grande. Vemos a presença portuguesa em quase tudo", diz o historiador Carlos Neves, apontando o exemplo da religião católica, introduzida em São Tomé e Príncipe pelos colonos. O Museu Nacional dedica uma sala à arte sacra. E a 1,2 km do forte de São Sebastião está a Sé Catedral de São Tomé e Príncipe, que remonta ao século XVI.