Novo representante da ONU já está na Guiné-Bissau
13 de fevereiro de 2013 José Ramos-Horta irá atuar como representante do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, no país lusófono da África Ocidental que, em abril de 2012, foi palco de um golpe de Estado militar.
“As Nações Unidas estão aqui para ajudar. Fui enviado pelo secretário-geral, Ban Ki-moon, com a sua mensagem clara e pessoal, [em nome] do seu compromisso de apoiar a Guiné-Bissau”, declarou Ramos-Horta, após a chegada a Bissau.
O primeiro dia do antigo presidente de Timor-Leste em solo guineense começou com uma reunião com as autoridades de transição, com elementos da sociedade civil e outros envolvidos na atual situação do país, a fim de se chegar a um acordo sobre a realização do processo eleitoral ainda em 2013.
Depois de mais de oito meses sob um governo de transição, a prioridade número um da Guiné-Bissau é realizar eleições para estabilizar o país. José Ramos-Horta deverá ajudar a concretizar este objetivo.
O prémio Nobel da Paz afirmou que chega com mandato para “trabalhar com as autoridades da Guiné-Bissau, com a sociedade civil, com os parceiros regionais”, com o objetivo de construir, “com prudência, os caminhos do futuro para que a Guiné-Bissau saia da crise, que tem afetado o país ao longo de década e meia”.
É necessário mais apoio internacional
O novo representante da ONU inicia funções num momento delicado da história da Guiné-Bissau, país que vive períodos de instabilidade cíclicos.
As autoridades de transição, que dirigem o país, têm estado praticamente isoladas, não sendo reconhecidas pela generalidade da comunidade internacional, à exceção da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Pelo que observou Ramos-Horta, “ao longo de muitos anos, a Guiné-Bissau nunca teve muito apoio da comunidade internacional”. O líder da UNIOGBIS defende que “é preciso que a comunidade internacional aprenda com os erros do passado”. Classificando a Guiné-Bissau como um “Estado muito frágil”, José Ramos-Horta diz que “precisa de ser apoiado pela comunidade internacional”.
De lembrar que, depois do golpe de Estado militar de abril de 2012, a maior parte dos parceiros internacionais da Guiné-Bissau – incluindo a União Europeia, um dos doadores mais importantes do país – suspendeu a ajuda à antiga colónia portuguesa. Desde a sua independência, em 1974, a Guiné-Bissau é confrontada com uma instabilidade política e militar crónica, também por causa da disputa constante de poder entre civis e forças armadas.
A substituição de Mutaboba era desejada
Ramos-Horta mostra-se confiante no sucesso da sua missão: “Vamos tentar abrir um novo capítulo, mas as decisões pertencem aos guineenses, aos seus dirigentes, ao seu povo”, declarou.
O antigo Chefe de Estado timorense substitui o diplomata ruandês Joseph Mutaboba, cujo mandato terminou a 31 de dezembro passado, na liderança do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau – UNIOGBIS.
Mutaboba foi fortemente contestado pelo governo de transição que o acusava de favorecer as autoridades depostas no golpe de Estado.
Desafios na Guiné-Bissau
Organizar eleições gerais, ainda sem uma data marcada, levar avante o processo da reforma nos sectores da Defesa e Segurança, tida como indispensável para a estabilização do país, e criar um fórum de diálogo e reconciliação entre os guineenses, são os principais desafios de Ramos-Horta, a curto prazo na Guiné-Bissau.
Mas o país regista um outro problema, o tráfico de droga. O secretário-geral, Ban Ki-moon, afirmou, em dezembro último, que o tráfico de droga aumentou muito, desde o golpe de Estado de 12 de abril, liderado pelo agora chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), general António Indjai, e faz-se ainda com a cumplicidade das chefias militares e da elite política.
José Ramos-Horta, ex-Presidente de Timor-Leste (entre 2007 e 2012) e Prémio Nobel da Paz, foi em janeiro nomeado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, seu representante para a Guiné-Bissau.
Ramos-Horta foi também chefe da diplomacia timorense e primeiro-ministro daquele país asiático. Por causa da invasão indonésia a Timor, Ramos-Horta viveu no exílio nos Estados Unidos, durante 24 anos, até 2002. Defendeu Timor-Leste diante da ONU e da comunidade internacional, o que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz em 1996.
Autor: Braima Darame (Bissau)/rtr
Edição: Glória Sousa / Renate Krieger