Novo surto de ébola na RDC já atinge dez localidades
Lusa | EFE | ms
3 de agosto de 2018
É muito provável que o novo surto de ébola no nordeste da República Democrática do Congo seja da estirpe Zaire, segundo a OMS. Há casos em dez locais à volta do epicentro, Mangina, cidade perto da fronteira com o Uganda.
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O vice-diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Preparação e Resposta a Emergências, Peter Salama, afirmou esta sexta-feira (03.08), em conferência de imprensa, que "segundo os resultados de laboratório mais recentes, parece muito provável que se confirme que se trata da estirpe Zaire".
A OMS espera ter os resultados da análise da sequência genética da estirpe na próxima terça-feira (07.08). Se se confirmar que se trata da variante Zaire da doença, a organização já está a preparar vacinas.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."
Foto: DW/Julius Kanubah
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Segundo Peter Salama, é "uma notícia simultaneamente boa e muito má", já que a variante Zaire é a "mais mortífera" de todas. "A boa notícia é que, apesar de se tratar de um produto ainda em investigação, temos uma vacina segura", que poderá ser disponibilizada, a partir de Kinshasa, onde a OMS dispõe de 3.000 doses da vacina da farmacêutica Merck, referiu.
"Podemos disponibilizar até mais 300.000 [doses] muito em breve", adiantou o vice-diretor-geral, que advertiu que a dificuldade consiste em reconstituir todos os contactos com o vírus numa área vasta e numa "zona de guerra onde há muito pouco acesso". Há mais de cem grupos armados na região.
Especialistas no terreno
A OMS tem desde quinta-feira (02.08) no terreno 30 especialistas, além de mais 50 em prontidão. Para responder ao novo surto, a organização dependerá da logística do Programa Mundial de Alimentos (PAM) e a proteção da missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (RDC).
Até ao momento são conhecidos "prováveis casos de contacto [com o vírus] em dez locais", todos em Mangina, na província do Kivu do Norte. ou à volta desta localidade, precisou o vice-diretor-geral da OMS. Também existem casos suspeitos na província de Ituri e na cidade de Beni.
"Até ao momento, foram confirmados, em laboratório, quatro casos de ébola e registaram-se 20 mortes, mas a organização "ainda não pode afirmar se se trata de casos prováveis ou confirmados", acrescentou.
Segundo Salama, o "doente zero" do novo surto pode ser uma mulher de 65 anos, que morreu em finais de julho num hospital de Mangina e foi enterrada sem que tenham sido adotadas medidas para prevenir a expansão da epidemia. Sete dos seus familiares mais diretos também já morreram.
O fim do surto anterior, ocorrido na província do Equador, foi declarado na semana passada, deois de terem sido registados 54 casos (38 confirmados e 16 possíveis) e 33 mortos.
Ébola: luta contra o vírus mortal
Apesar das medidas preventivas, algumas pessoas já se contaminaram com o vírus na Europa e Estados Unidos. Cuidadores utilizam trajes para prevenir a propagação, mas na África a proteção ainda deixa a desejar.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Traje de proteção
Na luta contra o ebola, roupas de proteção adequadas para médicos e enfermeiros são essenciais. Toda a pele deve ser coberta com material impenetrável pelo vírus. Mas trajes apenas não bastam, também é necessário seguir corretamente as prescrições de segurança.
Trabalho em conjunto
Os profissionais de saúde devem treinar a colocação correta dos trajes protetores. Como aqui, na unidade especial de isolamento de Düsseldorf. Novos trajes são utilizados a cada vez, para que não haja risco de contaminação no processo. Dessa forma, cuidadores sem proteção também podem ajudar os colegas a se vestir.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Isolamento total
Os quartos dos pacientes na unidade de isolamento em Düsseldorf são completamente protegidos do mundo exterior. O ar é filtrado e as águas residuais são tratadas separadamente. As vestes de proteção, que os cuidadores trajam permanentemente, são pressurizadas. Essas medidas de segurança vão além do necessário: o ebola pode ser transmitido por objetos contaminados, mas não pelo ar.
Após o tratamento dos pacientes, todo o traje é aspergido por fora com desinfetante, a fim de eliminar potenciais contaminações viróticas. Somente após essa ducha as vestimentas podem ser removidas, cuidadosamente.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastian Kahnert
Ajuda externa
Durante a remoção dos trajes protetores, os profissionais de saúde devem ser extremamente cautelosos. Luvas de proteção permanentemente instaladas nas aberturas da câmara permitem ajuda externa sem contato direto com o traje. Após o uso, estes são imediatamente descartados e incinerados.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Enfermeiras contaminadas
Apesar dos altos padrões de segurança, , na Espanha e Estados Unidos três enfermeiras contraíram a doença. As circunstâncias da contaminação ainda não foram esclarecidas. As residências das profissionais (na foto, Texas) foram isoladas e desinfetadas após a descoberta do contágio.
Foto: Reuters/City of Dallas
Proteção em África
Agora, médicos e enfermeiros na África Ocidental também foram equipados com trajes protetores. No entanto, estes nem sempre obedecem as normas para uma proteção efetiva. Por vezes, pequenas áreas da pele ficam descobertas ou o material usado é permeável. Além disso, colocar e retirar o traje pode ser arriscado.
Foto: picture alliance/AP Photo
Isolando os mortos
Os funerais das vítimas do ebola também requerem cuidados extremos. Na África Ocidental, a tradição de os familiares de lavarem os corpos dos mortos resultou em numerosas novas infecções. Para família e amigos, costuma ser difícil compreender e acatar as rigorosas medidas de isolamento.
Foto: Reuters/James Giahyue
Isolamento em barracas
Numa região onde os cuidados médicos são extremamente precários, uma epidemia das atuais proporções representa um enorme desafio. Os infectados são tratados em barracas improvisadas, como se vê na foto feita na Libéria. No entanto, até mesmo um país como a Alemanha ficaria sobrecarregado nessas circunstâncias. No momento, há apenas 50 leitos nas unidades de isolamento alemãs.
Foto: Zoom Dosso/AFP/Getty Images
Incineração em vez de sol
Em algumas regiões afetadas na África Ocidental, os trajes contaminados são pendurados para secar ao sol, numa tentativa de desinfetá-los para reutilização. No entanto, é muito mais seguro as roupas serem imediatamente incineradas após o uso, como ocorre na Guiné. Escassez e altos custos dos trajes dificultam essa medida: as roupas de proteção custam entre 30 e 200 euros.
Foto: Cellou Binania/AFP/Getty Images
Controles nos aeroportos
As viagens aéreas são a maior ameaça na transmissão de longa distância do vírus. Por esse motivo, a temperatura dos passageiros está sendo monitorada em alguns aeroportos. Entretanto, o método não oferece garantia absoluta, já que o período de incubação do ebola é de 21 dias.