Novo surto de ébola na RDC fez 32 mortos desde junho
Lusa | ms
6 de agosto de 2020
Trinta e duas pessoas morreram e 74 ficaram infetadas pelo ébola no noroeste da República Democrática do Congo (RDC) desde que um novo surto foi declarado a 1 de junho, informou hoje a Organização Mundial de Saúde (OMS).
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Dos 74 casos, 70 foram confirmados em laboratório e quatro são prováveis, enquanto 28 pacientes já se recuperaram, adiantou o escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS) para África na sua conta na rede social Twitter.
"Este é ainda um surto muito ativo e diria que continua a causar muita preocupação", admitiu recentemente o diretor de emergências sanitárias da agência das Nações Unidas, Mike Ryan.
A décima primeira epidemia desta doença altamente contagiosa na RDC está a afetar Mbandaka, a capital da província do Equador, com uma população de mais de um milhão de habitantes.
O país sofreu a nona epidemia causada pelo vírus ébola, entre maio e julho de 2018, quando foram notificados 54 casos, incluindo 33 mortos e 21 sobreviventes.
Saúde em África: Como se pode proteger do ébola
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Pior epidemia matou 11.300 pessoas
A 25 de junho, as autoridades congolesas declararam o fim da décima epidemia, que se tinha manifestado em três províncias do nordeste do país (Kivu Norte, Kivu Sul e Ituri) desde 1 de agosto de 2018, com 3.463 casos, 2.280 mortes e 1.171 sobreviventes, de acordo com os últimos números divulgados pela OMS.
Esta epidemia foi a pior da história da RDC e a segunda mais grave do mundo, depois daquela que devastou a África Ocidental de 2014 a 2016, na qual morreram 11.300 pessoas e houve mais de 28.500 casos, embora estes números - de acordo com a OMS - possam ser conservadores.
A doença, descoberta em 1976 na RDC - quando o país se chamava Zaire - é transmitida por contato direto com o sangue e fluidos corporais de pessoas ou animais infetados.
Provoca hemorragias graves e pode atingir uma taxa de mortalidade de 90%. Os primeiros sintomas são febre alta repentina, fraqueza e dores musculares, na cabeça e garganta, bem como vómitos.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."