Vários dias de combates entre tropas governamentais e milícias tornaram ainda mais incerta a realização das muito ansiadas eleições gerais. Como agravante, ainda não há acordo sobre o procedimento eleitoral.
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Após semanas de disputas acesas entre o Presidente cessante, Mohamed Abdullahi Farmaajo, e o seu primeiro-ministro, Mohamed Hussein Roble, por causa do desaparecimento de uma agente feminina dos serviços secretos, os dois homens concordaram finalmente rumar a eleições. Um acordo assinado por ambos declara que o escrutínio "é a máxima prioridade".
A Somália não tem, atualmente, qualquer autoridade nacional legítima. Os mandatos das instituições federais expiraram em fevereiro deste ano. A Constituição proíbe a sua prorrogação. Ainda assim, existe um acordo tácito de que os titulares permanecerão em função até à eleição de um novo Parlamento e Governo.
"Esse entendimento está muito fragilizado por causa do atraso de meses do processo eleitoral. A Villa Somalia [palácio presidencial da Somália] tem frustrado sistematicamente o processo e tem tentado manipular o modelo eleitoral em seu benefício", disse à DW Matthew Bryden, especialista em questões do Corno de África. "Há o risco de que alguns intervenientes políticos percam a paciência e que o frágil entendimento que atualmente mantém a estabilidade comece a ruir", disse Bryden.
O desafio da insegurança
O grupo extremista somali al-Shabab, que tem ligações àal-Qaeda, já anunciou que pretende estorvar o processo eleitoral. Como se não bastasse, confrontos na província de Galgaduud, no centro da Somália, entre forças regionais apoiadas pelo Exército federal e as ex-aliadas milícias moderadas sufis, mataram mais de 100 pessoas e deixaram outras 200 feridas.
Num comunicado emitido na quinta-feira (28.10), o líder sufi Sheikh Mohamed Shakir Ali Hassan disse que o Governo central destacou mais tropas para Guri-El e usou força excessiva nos confrontos com o grupo.
A violência afetou os serviços médicos no distrito e praticamente destruiu dois hospitais da área. Mais de 100 mil pessoas fugiram para aldeias vizinhas.
"É impossível descrever o nível de destruição causado pelo conflito aqui no distrito de Guri-El", disse o comissário distrital Anas Abdi à DW. "Mas estamos empenhados a fundo em trazer as pessoas afetadas e deslocadas de volta ao distrito, fornecer-lhes assistência e possibilitar a sua sobrevivência", disse Abdi.
A luta contra o al-Shabab
O grupo sufi afirma que assumiu o controle da região para intensificar a luta contra o al-Shabab. Mas tanto o Governo regional como o central acreditam que os líderes do grupo estavam a mobilizar-se para influenciar a administração regional nas próximas eleições.
O analista político somali Jay Bahadur realça que as forças anti-terroristas de elite da Somália estão a ser empregadas no combate ao grupo sufi moderado, ele próprio altamente eficaz na guerra contra os extremistas islâmicos. "O mandato constitucional do Presidente da Somália expirou em fevereiro. Desde então ele tem usado as forças de segurança formadas no estrangeiro para se agarrar ao poder", disse Bahadur.
"E agora recorreu ao batalhão Danab - a melhor força de combate ao terrorismo da Somália - para combater uma milícia muito bem sucedida na luta contra o al-Shabab. Isto devia preocupar particularmente os Estados Unidos da América, que investiram somas elevadas no treino e equipamento do batalhão Danab. Quem sai a ganhar com as ações do Presidente é o al-Shabab", acrescentou o autor e pesquisador.
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Falta de acordo sobre o processo eleitoral
Os preparativos para as eleições para o senado não avançam. Cinco estados regionais deverão escolher 52 senadores. A Câmara Alta tem um total de 54 lugares.
Além disso, ainda não existe qualquer acordo ou prazo para a solução de aspetos críticos dos procedimentos eleitorais. A indecisão poderá criar mais disputas e atrasos na elaboração da lista de candidatos aos 275 mandatos parlamentares.
A eleição nacional indireta baseada em clãs, um sistema de governação altamente complexo, desenvolvido na Somália nos últimos 20 anos, foi adiada várias vezes, devido a desacordos a nível federal e estadual sobre os procedimentos.
Mogadíscio - cidade de extremos
A capital da Somália é uma cidade de desespero e de esperança. Assolada por quase 30 anos de guerra civil, Mogadíscio tenta reconstruir-se e recuperar um Estado falido.
Foto: DW/S. Petersmann
Combate à fome
Xamdi é filha de nómades somalis e esteve na enfermaria de nutrição do Hospital Banadir, de Mogadíscio, desde o início de agosto. A sua mãe alimenta-a com uma pasta à base de amendoim, para tratamento de desnutrição aguda. Xamdi tem três anos e pesa apenas sete quilos. A maioria das crianças na Alemanha na mesma faixa etária pesa duas vezes mais. Cerca de 800 mil somalis enfrentam fome.
Foto: DW/S. Petersmann
Sistema de saúde em colapso
Este menino recupera na cama ao lado de Xamdi. Luta contra a pneumonia, uma das infecções mais comuns causadas pela desnutrição crónica e condições superlotadas nos campos de refugiados. As suas mãos estão envolvidas em papel para evitar que ele tire o tubo de alimentação. O Hospital Banadir é a maior clínica pública de Mogadíscio, mas mesmo aqui é visível o caos do sistema de saúde.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de refugiados
A capital somali está cheia de casas improvisadas. Muitos nómadas e camponeses estão determinados a ficar. Fugiram da guerra civil, do terror, da violência e da fome extrema. A população da cidade saltou para cerca de 2,5 milhões. Pelo menos 600 mil são oficialmente consideradas "pessoas internamente deslocadas".
Foto: DW/S. Petersmann
Um fardo pesado
Os conglomerados e as condições de vida sem higiene nos campos são um risco para a saúde. As infecções agudas de foro respiratório e a diarreia são doenças comuns entre os deslocados internos de Mogadíscio. A vida nos campos improvisados é uma luta diária para a próxima refeição e o próximo balde de água.
Foto: DW/S. Petersmann
A vida à espera
Não há muito a fazer dentro dos campos, mas sim sentar e esperar. Muitas crianças não têm acesso a educação. A maioria dos acampamentos improvisados não tem parque infantil ou outros espaços recreativos.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade feita de ruínas
Também há muito dificuldade fora dos campos. Especialmente a parte antiga de Mogadíscio é marcada por quase três décadas de conflito interno. Mas também há sinais de novos começos.
Foto: DW/S. Petersmann
A hora da "selfie"
Esses jovens divertem-se no Parque da Paz de Mogadíscio. Todos eles são estudantes, todos expressam fé no novo Governo do Presidente Abdullahi, apoiado pelo Ocidente. Um dos estudantes, que quer ser engenheiro de aviação civil, diz: "é muito mais seguro aqui do que há cinco anos. Hoje temos lugares como o Parque da Paz. Mogadíscio está mudando e nós estamos adoramos".
Foto: DW/S. Petersmann
Não às armas
Logo na entrada do Parque da Paz, os visitantes são lembrados de deixar para trás armas, como as chamadas Kalashnikovs, facas, granadas de mão e pistolas.
Foto: DW/S. Petersmann
Onde tudo acontece
A praia de Liido, em Mogadisci, atrai multidões, especialmente após as preces islâmicas de sexta-feira. As pessoas juntam-se para dançar e jogar futebol. Este desporto é extremamente popular na Somália e os jovens amantes reúnem-se na praia de Liido, um local antes de acesso difícil a civis, que estava sob controlo da milícia Al-Shabab.
Foto: DW/S. Petersmann
Reconstrução em pleno andamento
A comunidade internacional começou a investir na reconstrução do Estado fracassado da Somália. Os sinais visíveis estão na capital, como esta nova rua foi feita com ajuda da Turquia. Os turcos também criaram uma grande base militar em Mogadíscio para treinar soldados da Somália.
Foto: DW/S. Petersmann
Muros e cercas
Novas residências brotam em toda a Mogadíscio. A diáspora que retorna para a Somália investe no mercado imobiliário em expansão da cidade. Assim como políticos e outras classes mais ricas. Muitos dos novos edifícios estão rodeados por altos muros de proteção contra explosão e arames farpados para afastar terroristas, criminosos e grupos rivais.
Foto: DW/S. Petersmann
Zona Verde
O terreno do aeroporto tornou-se o centro dos expatriados. Como Bagdad e Kabul, Mogadíscio também tem uma chamada "zona verde". As Nações Unidas e a maioria das missões diplomáticas que retornam vivem e trabalham neste vasto complexo que se desenvolveu em torno do Aeroporto Internacional de Mogadíscio. Está cercado e protegido pelas tropas da União Africana.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de murais
A maioria das fachadas das lojas ou vitrines é pintada à mão, em Mogadíscio. Os trabalhos agregam uma cor necessária a uma cidade que se ergue lentamente de suas ruínas.
Foto: DW/S. Petersmann
Compras pela internet
Cartazes modernos também têm conquistado as ruas, anunciando compras on-line de moda árabe ou uniformes para instituições privadas de ensino.
Foto: DW/S. Petersmann
Novidades não são para todos
As novas atrações da cidade estão fora do alcance dos muitos deslocados e pobres. O progresso e a estabilidade da Somália também dependerão da capacidade do Estado de conquistar a confiança dos habitantes. Atualmente, quase sete milhões de pessoas, cerca de metade da população do país, dependem de ajuda humanitária.
Foto: DW/S. Petersmann
Explosão juvenil
Mais de metade da população da Somália tem menos de 18 anos. A maioria dos cidadãos nasceu após queda de Mohammed Siad Barre, em 1991 - o evento crucial que desmoronou o Estado. A juventude da capital, quando não está envolvida em alguma atividade, sente-se marginalizada, aumentando a vulnerabilidade da Somália.