Cabo Delgado: Novos confrontos entre insurgentes e militares
DW (Deutsche Welle) | AFP
24 de junho de 2021
No dia em que a SADC aprovou o envio de uma força para travar o terrorismo em Cabo Delgado, insurgentes envolveram-se em confrontos com as forças governamentais moçambicanas no distrito de Palma, que continua sob ataque.
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Fontes militares e de segurança afirmaram esta quarta-feira (23.06) à agência de notícias AFP que militantes islamistas estiveram envolvidos em confrontos com as forças governamentais moçambicanas num novo ataque no distrito de Palma, perto das instalaçōes do projeto de gás natural na península de Afungi, no norte de Moçambique.
"Insurgentes tentaram atacar a posição das forças governamentais em Patacua, perto do projeto de gás LNG, em Afungi, e foram repelidos com apoio aéreo", disse uma fonte de segurança à AFP.
Devido a problemas técnicos, um helicóptero MI8 da Força Aérea que tentava destacar tropas da base em Patacua, que fica a cerca de cinco quilómetros de Afungi, foi obrigado a fazer uma aterragem de emergência, avançou a mesma fonte.
Palma sob ataque
"Palma está sob ataque desde 21 de junho", disse ainda a fonte de segurança, sem revelar mais pormenores.
De acordo com o jornal "O País", nas últimas 48 horas, cerca de 500 deslocados vindos de Palma terão chegado a Pemba. Relatam assassinatos, raptos e ações de grande violência por parte dos insurgentes.
Cabo Delgado: Pemba espera por mais deslocados de Palma
02:18
A 24 de março, militantes ligados ao Estado Islâmico lançaram ataques coordenados a Palma, assassinaram habitantes e pilharam edifícios, provocando a fuga de milhares de pessoas.
Na sequência desse ataque, altura em que se intensificou a violência que dura há mais de três anos, a gigante petrolífera francesa Total retirou-se do local de exploração de gás. Esta semana foram registados novos ataques.
SADC aprova envio de força
A notícia dos confrontos em Palma surgiu no dia em que os chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) aprovaram, em Maputo, o destacamento de uma força regional para ajudar Moçambique a combater o terrorismo e atos de extremismo violento na província nortenha de Cabo Delgado.
Sobre a estratégia regional de ajuda a Moçambique, no entanto, não foram avançadas datas nem detalhes.
Segundo o comunicado final do encontro, a cimeira exortou os Estados-membros da SADC para, em colaboração com agências humanitárias, continuarem a prestar ajuda à população afetada pelos ataques terroristas, incluindo os deslocados.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, congratulou-se com as decisões da cimeira dizendo que "as iniciativas de apoio da SADC serão um importante complemento aos esforços que o país empreende para enfrentar os atos terroristas."
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.