Tensão no país continua a aumentar. Missão de Paz das Nações Unidas dá conta de novos confrontos com um grupo armado recém-formado no sudoeste da República Centro-Africana. Quatro pessoas morreram, segundo a AFP.
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Na semana passada, várias facções da ex-coligação rebelde Seleka, maioritariamente muçulmana, prometeram marchar na capital, Bangui, em resposta às ofensivas da Missão de Paz da ONU (MINUSCA). Grupos cristãos seguiram o exemplo.
Há vários meses que o bairro PK5, onde reside a maioria dos muçulmanos de Bangui, é palco de confrontos violentos. Além disso, paira novamente na República Centro-Africana (RCA) a ameaça de um conflito religioso.
Ainda assim, o primeiro-ministro Simplice Sarandji garante que o Governo é capaz de conter a violência. "Tal como o Presidente, pedi ao povo que não entre em pânico. O Governo está a tomar medidas para acabar com esta guerra", assegura. "Há quem fale numa eventual desestabilização do regime, mas não é o caso. Os centro-africanos estão vigilantes."
Críticas à MINUSCA
Mas a população aponta o dedo às forças do Governo e aos capacetes azuis da MINUSCA, por não conseguirem controlar a situação. Numa nova tentativa de promover a reconciliação, o Presidente Faustin Archange Touadéra encontrou-se com representantes de grupos políticos e movimentos rebeldes, na sexta-feira (20.04). Mas a desmobilização dos grupos armados avança a passos lentos. E a frustração aumenta.
"Lamentamos a posição do representante do secretário-geral da ONU, que disse que é preciso esperar 40 anos para que a paz regresse definitivamente ao país", declarou Aurelien Simplice Zingas, secretário-executivo da associação política Kélémba-PDS.
Novos confrontos na República Centro-Africana
"Tenho mais de 50 anos, isto significa que a paz não vai voltar ao meu país antes da minha morte. A MINUSCA tem de ser robusta para trazer a paz ao país", argumenta o deputado.
O conflito agravou-se quando combatentes do autoproclamado grupo "autodefesa" do bairro muçulmano PK5 pegaram em armas. Dizem que as preocupações da população muçulmana da RCA não estão a ser levadas a sério e acusam o Governo de tomar o partido das milícias cristãs anti-Balaka.
Após o contra-ataque da MINUSCA, no início de abril, os habitantes do PK5 depositaram os corpos das vítimas junto ao quartel-general da missão das Nações Unidas. "A violência no PK5 já dura há muito tempo. Grupos criminosos instalaram-se no bairro, têm muitas armas e a violência contra a população é inaceitável. As pessoas não aguentam mais e pediram ajuda à ONU. E nós respondemos a esse pedido", justifica o líder da MINUSCA, Parfait Onanga-Anyanga.
Mas as críticas à MINUSCA multiplicam-se. Os centro-africanos pedem uma ação robusta contra os responsáveis pela violência. No entanto, a Missão da ONU só pode agir se estiver sob ameaça direta.
Cenário caótico
O exército nacional, por sua vez, sofre com a falta de financiamento e equipamento. Antoinette Montaigne, ex-assessora da Presidente de transição Catherine Samba-Panza, e responsável pela Academia de Paz e Desenvolvimento Efecivo, descreve um cenário caótico na RCA, com "centenas de milhares de deslocados internos, centenas de milhares de refugiados que colocam os países vizinhos em risco e ameaçam desencadear uma crise regional".
Fugir da violência na República Centro-Africana
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A economia nacional está em baixa, "mas os grupos armados prosperam e aumentam as tarifas que cobram à população", explica. Antoinette Montaigne. E o Estado, diz, não pode cumprir as suas obrigações por causa dos cofres vazios Antoinette Montaigne.
Entretanto, esta segunda-feira (23.04), o Presidente Faustin-Archange Touadéra afirmou que quer "acelerar" o desarmamento, desmobilização e reintegração dos membros dos grupos armados.
Touadéra falava numa reunião nas Nações Unidas sobre o processo de paz na RCA, numa altura em que o Governo ainda tem muitas dificuldades em controlar os grupos rebeldes nas zonas mais afastadas da capital.
A República Centro-Africana vive um complicado processo de transição desde 2013, quando os rebeldes Seleka derrubaram o Presidente François Bozizé, dando origem a uma onda de violência sectária entre muçulmanos e cristãos que causou milhares de mortos.
Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Aqueles que podem, fogem. Aqueles que permanecem, lutam todos os dias pela sobrevivência.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.