Moçambique está entre os 20 países do mundo com a mais rápida taxa de propagação do novo coronavírus, segundo o Instituto Nacional de Saúde. Organizações da sociedade civil defendem medidas emergenciais.
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Na última semana, Moçambique passou da trigésima quinta para a vigésima posição entre os países com a mais rápida taxa de propagação da Covid-19 no mundo. O Diretor Nacional Adjunto de Saúde, Eduardo Samo Gudo, disse a jornalistas que o número de casos do novo coronavírus no país está a duplicar-se a cada 13 dias, enquanto a taxa de duplicação mundial é de 35 dias.
Samo Gudo acrescentou que a taxa de positividade - a proporção entre o número de casos positivos e o total de casos suspeitos testados - subiu de 2% para 3%. Além disso, o número de infeções por um milhão de habitantes passou de sete para 13.
"Em sete dias de junho, atingimos um número de casos similar a aquele que foi atingido no mês de maio em 31 dias. Isto antevê um mês de junho complicado sob o ponto de vista de casos da Covid-19", sublinha.
Situação assusta
Novos números da Covid-19 preocupam Moçambique
Para o coordenador do Instituto para Democracia Multipartidária, Dércio Alfazema, esta situação "preocupa, assusta, mas, ao mesmo tempo, permite que haja maior rastreamento e controlo dos casos positivos, de modo a que estas pessoas não venham a estar numa situação de infetar outros cidadãos".
Por seu turno, o diretor do Centro de Integridade Pública (CIP) de Moçambique, Edson Cortês, considera que o Governo está numa situação de indecisão, porque apesar dos níveis elevados de contágio, tecnicamente, é impossível decretar um "lockdown" - o recolher obrigatório.
Segundo o investigador, seria algo que "implicaria, acima de tudo, retirar de grande parte da população a base do seu sustento, quando o Estado moçambicano também não consegue prover as condições necessárias para que as pessoas em casa tenham o mínimo para sobreviver".
Mais testes
O atual cenário impõe a tomada de algumas medidas, afirmou Dércio Alfazema. Por exemplo, "a massificação da testagem, de modo que todos aqueles que são positivos sejam identificados e orientados sobre as medidas a observar. Mas também é preciso que o Estado encontre mecanismos para dar assistência às pessoas menos favorecidas e prover sustento, observando uma situação de quarentena".
Já Edson Cortês propõe como alternativa, neste momento, que "o Governo instale hospitais-abrigo para permitir que as pessoas, a partir do momento que fossem declaradas positivas, fossem instaladas [nesses locais], pois é uma situação rápida de fazer, uma alternativa 'low cost' e que também permite um monitoramento direto dessas pessoas. E evitaria, de certa forma, os níveis de contágio intrafamiliar", explicou.
No sábado passado (06.06), as autoridades sanitárias declararam Nampula, no norte do país, como o primeiro foco de transmissão comunitária da Covid-19 em Moçambique.
Medida extrema
Dércio Alfazema defende que face à evolução da doença em Nampula podia pensar-se na possibilidade de uma medida mais extrema. "Seria um 'lockdown' localizado para a província de Nampula", diz.
Mas o diretor do CIP é de opinião contrária. Edson Cortês argumenta que nada garante que outras províncias não estejam na mesma situação ou pior.
O Ministro da Saúde, Armindo Tiago, descartou, para já, a possibilidade de imposição de uma cerca sanitária em Nampula, afirmando não estarem reunidas condições objetivas e científicas para a adoção da medida. Além disso, teria consequências socioeconómicas indesejáveis para a população daquela que é a província mais populosa do país.
Covid-19: Cuidados de higiene em áreas de risco
Como manter os cuidados de higiene em campos de refugiados e bairros de lata é um grande desafio na pandemia. Mas alguns países e organizações estão a lutar para manter esses locais seguros e limpos.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Pilick
Zâmbia
Algumas pessoas ficam semanas sem acesso à água potável em muitas partes do mundo. O vale de Gwembe foi profundamente afetado pela seca nos últimos dois anos. Atualmente, o UNICEF está a apoiar a reabilitação e a perfuração de 60 poços para reforçar a lavagem das mãos nos pontos de distribuição de água durante a pandemia do novo coronavírus.
Foto: UNICEF/UNI308267/Karin Schermbrucker
Quénia
Várias estações de água foram instaladas em locais públicos do Quénia para fornecer a água limpa à população. Em Nairobi, para impedir a propagação da Covid-19, um menino segue as instruções de como lavar as mãos adequadamente numa estação de água em Kibera.
Foto: UNICEF/UNI322682/Ilako
Iémen
O Iémen abriga cerca de 3,6 milhões de pessoas deslocadas internamente. Com grande parte do seu sistema de saúde e saneamento destruído pela guerra, esses deslocados são altamente vulneráveis ao novo coronavírus. Voluntários treinados pelo UNICEF estão a orientar a população sobre como evitar que a doença se espalhe.
Foto: UNICEF/UNI324899/AlGhabri
Síria
A Síria enfrenta um problema semelhante ao entrar no seu décimo ano de guerra. Milhões de sírios vivem em campos de refugiados, como o campo de Akrabat, perto da fronteira com a Turquia. Para explicar às famílias sobre os riscos do coronavírus, os funcionários da ONU visitam os campos e usam bonecos feitos à mão para falar sobre os perigos da Covid-19.
Foto: UNICEF/UNI326167/Albam
Filipinas
Os efeitos a longo prazo dos desastres naturais também são um fator de risco. Nas Filipinas, as casas de banho públicas, como as vistas aqui, num centro de evacuação na cidade de Tacloban, tornaram-se um terreno fértil para a propagação do vírus. O saneamento tornou-se ainda mais crucial. A região sofre com os efeitos posteriores do tufão Haiyan há anos.
Foto: UNICEF/UNI154811/Maitem
Jordânia
Kafa, de 13 anos, volta à caravana da sua família carregando um grande recipiente de plástico cheio de água que ela acabou de coletar num ponto de abastecimento comunitário. As mulheres no maior campo de refugiados da Jordânia agora estão a fabricar sabão com materiais naturais para as famílias necessitadas.
Foto: UNICEF/UNI156134/Noorani
Índia
Na Índia, as pessoas são incentivadas a costurar máscaras em casa. Isso também gera dinheiro, especialmente para mulheres que vivem em áreas rurais. Estas mulheres costuram máscaras no centro de Bihar, na GOONJ, uma ONG situada em vários estados indianos, que disponibiliza socorro, ajuda humanitária e desenvolvimento comunitário.
Foto: Goonj
Bangladesh
Voluntários de vários grupos de pessoas com deficiência também se envolvem ativamente na distribuição de desinfetantes pela cidade de Dhaka. Roman Hossain distribui desinfetantes e informa outros membros da sua comunidade sobre a importância de lavar as mãos regularmente.
Foto: CDD
Guatemala
Há uma necessidade urgente de reduzir os impactos da crise da Covid-19 em Huehuetenango, na Guatemala, para além da crise alimentar já existente, causada pela seca de 2019. As comunidades indígenas esperam todos os dias para coletar seus alimentos e kits de higiene básica, onde também obtêm informações e recomendações para prevenir a Covid-19 nos idiomas locais.