Nuno Maulide: O melhor divulgador de ciência na Áustria
Selma Inocência
7 de fevereiro de 2020
Cientista português com ascendência moçambicana e são tomense é considerado o melhor divulgador de ciência na Áustria. Com carreira consolidada, Nuno Maulide ainda deseja fazer descobertas que mudem a vida das pessoas.
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A distinção de Cientista do Ano entregue a Nuno Maulide em dezembro de 2019, na Áustria, viralizou nas redes sociais e nos meios de comunicação tradicionais em vários países. Contribuiu para isto o fato de, pelo menos, três Presidentes terem o felicitado através das suas plataformas digitais de comunicação.
Nuno Maulide, que acumula cerca de 20 distinções, disse ter ficado surpreendido ao ser reconhecido como o melhor divulgador de ciência num país que não é o dele, num prémio "não associado à performance científica, mas sim a habilidade ou capacidade de um cientista transmitir aquilo que faz para um público mais alargado", referiu.
Nascido em Lisboa, o pesquisador é o mais novo de três filhos do moçambicano Ibraimo Maulide e da são-tomense Ermelinda Xavier Daniel Dias Maulide, falecida em 2018. Após as independências dos seus países, os pais foram estudar medicina na Universidade de Coimbra, onde se conheceram, e viriam a se casar em Lisboa.
O jovem cientista de 40 anos cresceu em Lisboa e teve a oportunidade de visitar a terra do pai aos 15 anos. Esteve na província moçambicana de Inhambane, na localidade de Mocoduene, distrito de Morrumbene, acompanhado pelo pai - que há mais de vinte anos não visitava o país devido à guerra civil.
"Foram horas alucinantes"
O contato mais próximo com Moçambique surgiu em janeiro deste ano, quando recebeu um telefonema do Presidente de Moçambique Filipe Nyusi a felicitá-lo pela distinção. "Foram duas horas um bocado alucinantes. O Presidente pega no telefone e fala de uma forma muito normal, muito acessível, como se me conhessesse há muito tempo, e convida-me para a cerimónia de tomada de posse", contou emocionado Nuno Maulide.
Para além do Presidente Moçambicano, os Presidentes de Portugal e da Áustria respectivamente, Marcelo Rebelo de Sousa e Alexander Van der Bellen, fizeram referências à distinção nos seus websites. Maulide recebeu também felicitações por telefone do ministro da Ciência da Áustria, Heinz Faßmann, e do antigo comissário europeu Carlos Moedas.
Depois de completar a licenciatura no Instituto Superior Técnico em Lisboa e o mestrado em Química molecular na École Polytechnique em Paris, concluiu o doutoramento na Universidade de Louvain. Mudou-se para a Universidade de Stanford para uma estadia de pós-doutoramento.
A química na vida das pessoas
A carreira de Maulide tornou-se independente quando ele foi nomeado para liderar um grupo no Max-Plank-Institut, baseado na Alemanha. Aos 33 anos, mudou-se para a Universidade de Viena, assumindo o cargo de professor titular de Síntese Orgânica. Também passou pelo Conselho Europeu de Pesquisa e pelo Conselho do Fundo Austríaco para a Ciência.
O cientista diz não se sentir tentado a ganhar um prémio Nobel. "Gostava de fazer descobertas científicas que realmente pudessem chegar - desde a investigação fundamental, que é o que eu faço - até uma aplicação no mundo real que realmente tivesse um impacto na vida das pessoas", afirmou.
Nuno Maulide pretende desenvolver uma molécula que, no futuro, se transforme num medicamento. Para os especialistas em farmacéutica, a probabilidade de um composto que se desenvolve se transformar num fármaco é quase inexistente devido às inúmeras barreiras existentes.
"Não me vou limitar às indústrias farmacéuticas, dos cosméticos, dos materiais", disse o cientista, reconhecendo o objetivo complexo que pode até não vir a se concretizar, embora ele tenha grande convicção.
Participou, muito recentemente, da produção de um livro que espera que seja visto como um manual que explica a química de forma mais compreensível como nunca havia sido feito antes, desmistificando este ramo do conhecimento para o público em geral. O livro será publicado na versão alemã em março.
Nuno encontra um grande suporte na família, mas inspira-se também no músico e compositor do período barroco na Alemanha, Johann Sebastian Bach, respeitado por compositores como Mozart e Beethoven.
Nuno Maulide também é pianista e se apresentou em várias ocasiões, tendo sido distinguido em Manchester em 2012 e Paris em 2013. O cientista está envolvido na popularização da química, especialmente para crianças.
Albert Schweitzer, o embaixador do humanismo
Albert Schweitzer (1875-1965) - o prémio Nobel é tido como símbolo de intelectualidade e como homem com grande sentido de humanismo. 50 anos depois da morte de Schweitzer, uma retrospetiva da sua vida movimentada.
Foto: Deutsches Albert-Schweitzer-Zentrum Frankfurt am Main
Albert Schweitzer – embaixador do humanismo
50 anos depois da sua morte, o prémio Nobel Albert Schweitzer (1875-1965) é homenageado, ao longo de 2013. O alemão é sinónimo de intelectualidade e de humanismo. Passou uma parte da sua vida em África, onde fundou um hospital de medicina tropical em Lambaréné, no Gabão. Vale a pena relembrar algumas dos 90 anos da sua vida.
Foto: Three Lions/Getty Images
Filho da Alsácia
Albert Schweitzer cresceu na pequena cidade de Günsbach, na Alsácia, como filho de um padre protestante. A foto mostra o jovem Albert (fila superior, no meio), com a sua família, em 1885. A região da Alsácia vive tempos conturbados, pertencendo ora ao Reino Alemão, ora à França. Schweitzer é produto dessa mesma situação: vive em duas culturas, fala alemão e francês, estuda em Paris e Estrasburgo.
Foto: Hulton Archive/Getty Images
Bach, sempre Bach
O compositor Johann Sebastian Bach foi um dos ídolos de Albert Schweitzer. Desde criança que Albert tocava órgão e se dedicava à obra de Bach. Mas Albert Schweitzer tinha muitas outras paixões: estudou teologia e filosofia e doutorou-se em ambas as disciplinas. Schweitzer foi professor de filosofia, dedicou-se à pesquisa científica e interpretou as vidas e carreiras de Jesus e do apóstolo Paulo.
Foto: picture alliance / Mary Evans Picture Library
Médico e idealista
Música, ciência, crença: o jovem professor Albert Schweitzer tinha tudo para se sentir realizado, na sua carreira académica. Mas Schweitzer não se contentou: Em 1905 iniciou outro curso superior, dedicando-se à Medicina. Em conjunto com a sua esposa Helene (na foto), com quem se casou em 1912, Schweitzer perseguiu um novo sonho: um hospital em África.
Em 1913 o casal Schweitzer concretiza o sonho e embarca para África. Foi numa área pertencente à estação missionária de Paris, num território hoje pertencente ao Gabão, que foi construído o primeiro hospital Albert Schweitzer. Na foto: o “grand docteur”, como era apelidado pelos seus pacientes, numa sala de operações.
Foto: picture-alliance / akg-images
Amigo de todas as criaturas
“Respeito pela vida” – para Albert Schweitzer essa fórmula englobava todas as criaturas. Schweitzer empenhava-se pela proteção de animais e plantas. Assim, o hospital de Lambaréné transformou-se, pouco a pouco, num lar para pelicanos, gatos e case. Albert Schweitzer é hoje considerado um dos pioneiros do ambientalismo.
Foto: Three Lions/Getty Images
Incansável em prol dos pacientes
O humanista trabalhou durante mais de 50 anos no hospital de Lambaréné no Gabão (na altura parte da África Equatorial Francesa). Foi médico, administrador, arquiteto, ambientalista e humanista – tudo ao mesmo tempo. A situação financeira do hospital nunca foi estável, por isso era obrigado a angariar fundos e dádivas. Schweitzer viajava muito, à procura de benfeitores.
Foto: Hulton Archive/Getty Images
Críticas contra Schweitzer
Na Europa poucos sabem que Albert Schweitzer foi criticado por intelectuais africanos, nos anos 50 e 60, pela sua postura algo autoritária perante os africanos. Para eles Schweitzer era símbolo do passado colonial. Na Europa, no entanto, Schweitzer sempre foi idolatrado.
Foto: Hulton Archive/Getty Images
O protesto de Schweitzer contra a bomba atómica
A imensa obra humanitária valeu a Albert Schweitzer o prémio Nobel da Paz em 1954. Schweitzer aproveitou a sua popularidade para se juntar a outros prémios Nobel, como Albert Einstein e Linus Pauling, na luta contra o armamento nuclear. No dia 23 de abril de 1957, Schweitzer lançou via a Rádio Oslo (foto) um “apelo à humanidade” e contra as armas nucleares.
Foto: Deutsches Albert-Schweitzer-Zentrum Frankfurt am Main
Empenho total até ao fim
Schweitzer sempre se pronunciara contra a guerra, salientando que “a guerra contribuía para o pecado da perda de humanismo”. A luta pela paz perdurou até à morte: Schweitzer nunca se calou perante os poderosos, como o presidente americano John F. Kennedy. Albert Schweitzer morreu, com 90 anos, em Lambaréné, no dia 4 de setembro de 1965. Na foto: Albert Schweitzer com a sua esposa Helene em 1956.
Foto: Deutsches Albert-Schweitzer-Zentrum Frankfurt am Main