Nyusi: É preciso compreender "ansiedades dos moçambicanos"
Leonel Matias (Maputo)
29 de maio de 2017
Presidente moçambicano apela a envolvimento de todos na busca da paz. A situação política e económica em Moçambique dominou os debates da quarta sessão extraordinária do Comité Central do partido no poder, a FRELIMO.
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Na sessão extraordinária do Comité Central, este fim-de-semana, o presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) desafiou o partido a "compreender o momento em que está a governar, assim como as ansiedades e prioridades que reinam no seio dos moçambicanos."
Filipe Nyusi lembrou que a FRELIMO tem estado à procura da fórmula certa para resolver as diferenças entre os moçambicanos e defendeu o envolvimento de todos os cidadãos na busca da paz.
"Devemos sair daqui como mensageiros da paz, de esperança e de reconciliação e transmitir a mensagem de que as diferenças que nos separam não podem dividir um Estado unitário", afirmou. "Deixamos aqui o nosso compromisso de continuar a fazer tudo para que os resultados até aqui obtidos em sede do diálogo para uma paz efetiva no nosso país prevaleçam."
A sessão extraordinária decorreu à porta fechada e sem a presença de convidados, contrariando uma prática anterior. O encontro debruçou-se sobre a situação política, económica e social do país, a vida interna do partido e os preparativos do próximo congresso da FRELIMO, agendado para setembro.
O Comité Central encorajou o Presidente Nyusi a continuar com os esforços para o restabelecimento da paz efetiva, mantendo o seu estilo de liderança.
Reformas fiscais
Neste momento, a situação política em Moçambique é estável, rumo a uma paz efetiva, e a situação económica tende a estabilizar-se, refere o Comité Central num comunicado de imprensa. O documento aponta, por exemplo, que o país prevê atingir em 2017 os mais altos índices de produção e de produtividade agrícola dos últimos 20 anos.
Ainda sobre a situação económica, de acordo com o Comité, a sessão constatou a necessidade de implementar reformas fiscais para minimizar o custo de vida face ao défice da balança de pagamentos.
"Essas reformas devem ser acertadas no contexto de aumentar e estimular o incremento da produção agro-pecuária e pesqueira, visando a garantia da segurança alimentar e nutricional", disse António Niquice, porta-voz da sessão.
Nyusi: É preciso compreender "ansiedades dos moçambicanos"
Unidade nacional
Sobre a situação interna do partido, Joaquim Veríssimo, membro do Comité Central, indicou que, depois de uma análise profunda, a sessão deliberou "consolidar a unidade nacional de modo a fortalecer a inclusão, reconciliação e partilha de princípios e valores."
Celso Correia, um dos participantes na sessão, saiu satisfeito do encontro. Segundo o governante, a reafirmação do partido de prosseguir com os esforços para uma paz efetiva "é o desígnio da FRELIMO, é a nossa orientação: continuar a trabalhar para ter um país em paz como um pilar do bem-estar e da prosperidade de todos."
Para o governador da província de Maputo, Raimundo Diomba, o passo seguinte é fazer com que não haja mais ódio entre os moçambicanos e que se possa "esquecer tudo o que aconteceu". Diomba defendeu ainda que cada moçambicano deve desempenhar o seu papel no combate à pobreza: "A nossa economia só pode crescer quando todos tiverem espaço para contribuir, trabalhando", comentou.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.