Nyusi acredita que Moçambique caminha em direção à paz
Lusa | nn
15 de abril de 2017
O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, acredita que o país caminha "a passos largos" para a "paz efetiva", anunciou o chefe de Estado numa mensagem de Páscoa.
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"Esta celebração ocorre numa altura em que a sociedade moçambicana caminha, a passos largos, rumo ao estabelecimento de consensos conducentes a um convívio harmonioso e de concórdia decorrente do diálogo, em curso, para a paz efetiva", lê-se numa mensagem emitida pelo Presidente de Moçambique.
Na missiva, Nyusi apela à fé num futuro "radiante, mesmo em momentos em que os nossos caminhos se mostrem sinuosos ou as nossas capacidades não estejam no seu melhor", referindo-se à grave crise financeira que o país atravessa.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas de Moçambique (INE), a inflação anual atingiu 25,27% em dezembro de 2016, o que está a provocar uma quebra no poder de compra da população moçambicana.
"Unidos na diferença, mas no mesmo propósito, podemos, com muito trabalho, construir um país de bem-estar para todos", conclui o Presidente.
Trégua dura há quase quatro meses
Em dezembro foi declarada uma trégua na crise política e militar em Moçambique.
O conflito opõe as Forças de Defesa e Segurança do Estado e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), maior partido da oposição, que reivindica vitória nas eleições gerais de 2014, acusando a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder há mais de 40 anos, de fraude no escrutínio.
Na sequência da contenda, a circulação em algumas das principais estradas do centro do país ficou condicionada a escoltas militares por diversas vezes.
Milhares de deslocados
A instabilidade político-militar provocou milhares de deslocados, dezenas de escolas foram encerradas temporariamente na província de Manica e registaram-se várias situações de fome, como aconteceu no centro de acolhimento de Vanduzi.
No final de dezembro, como resultado de conversas telefónicas com o Presidente moçambicano, o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, declarou uma trégua de uma semana como "gesto de boa vontade".
Dhlakama prolongou, posteriormente, o prazo da suspensão das hostilidades por duas vezes para dar espaço às negociações. A última vez aconteceu em março de 2017, alargando a trégua por mais 60 dias.
Na agenda de discussões estão a descentralização e assuntos militares - despartidarização das Forças de Defesa e Segurança e o desarmamento do braço armado da oposição, bem como a sua reintegração na vida civil.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.