Nyusi: Apoio "desanuvia ambiente de catástrofe humanitária"
Lusa
28 de abril de 2021
O Presidente moçambicano disse esta quarta-feira (28.04) que os 1,1 mil milhões de dólares (910 milhões de euros) em doações do Banco Mundial a caminho de Cabo Delgado vão dar mais esperança à população.
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"Apesar do luto que tem marcado a vida dos moçambicanos, hoje damos mais um passo em frente na nossa estratégia que assegura esperança à população e desanuvia o ambiente de catástrofe humanitária provocada pela guerra em Cabo Delgado", referiu Filipe Nyusi.
O chefe de Estado falava em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, durante a assinatura de um acordo entre o Governo moçambicano, através da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), e o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS, sigla inglesa) que estabelece o Projeto de Recuperação da Crise do Norte de Moçambique.
O acordo visa entregar à UNOPS, para execução, um primeiro apoio do Banco Mundial no valor de 100 milhões de dólares (82,7 milhões de euros) para resposta de emergência às aldeias que recebem deslocados e naquelas que sofreram ataques.
O objetivo é construir, a partir dos próximos meses, 800 salas de aula, 200 casas de professores, 10 hospitais, 43 redes de abastecimento de água, 130 infraestruturas comunitárias (desportivas e sociais), 20.000 latrinas melhoradas e 40 casas de banho públicas, tal como enumerado pelo chefe de Estado.
Criação de postos de trabalho
Haverá ainda planos para criação de 32.000 oportunidades de emprego agrícola e igual quantidade em serviços sociais simplificados, com formação inicial de 48 horas e subsequente acompanhamento ao longo da atividade.
"Queremos que os nossos jovens encontrem a sua motivação na recompensa baseada no trabalho, iniciativas empreendedoras e num processo em que a formação é a pedra angular", referiu Filipe Nyusi.
A ocupação dos jovens, dando-lhe educação, formação e emprego com perspetivas de futuro é uma das estratégias para travar o alastrar do terrorismo em Cabo Delgado, com recrutamento da juventude local.
Das restantes parcelas até alcançar os 1,1 mil milhões de apoio do Banco Mundial, uma outra de 700 milhões (578,7 milhões de euros) foi aprovada no âmbito do instrumento de Alocação para Prevenção e Resiliência (PRA, sigla inglesa), desbloqueando financiamento para "prevenir a escalada do conflito e construir resiliência".
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Modelo de assistência social produtiva
"A doação através do PRA é uma grande responsabilidade para o Governo e o banco. Esperamos que o montante alocado possa servir para alcançar os resultados esperados, pois a elegibilidade é sujeita a uma avaliação anual", referiu Idah Pswarayi-Riddihough, representante do Banco Mundial em Moçambique, durante a cerimónia em Pemba.
A verba servirá para levar à prática o plano de desenvolvimento estratégico para a região norte de Moçambique, que está a ser ultimado pela ADIN, e abrange as províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula.
Cabo Delgado: Quase um milhão de pessoas em risco de fome
03:11
Uma das ideias base assenta no modelo de assistência social produtiva em que os beneficiários deixam de depender de subsídios, alcançando a sua autossuficiência.
Os planos preveem atividades especiais para órfãos e menores que são já chefes de família, por via da desagregação das suas famílias durante a guerra.
Nyusi sublinha sofrimento
O Governo moçambicano espera ainda obter a aprovação de outras duas tranches no valor de 150 milhões de dólares (124 milhões de euros) para alcançar os 1,1 mil milhões delineados.
"A população de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques, raptos, tem sido posta em cativeiro", tem sido alvo de "decapitações e mortes violentas", descreveu Nyusi
"O povo inocente e trabalhador de Cabo Delgado sofre com a destruição de casas, meios de transporte e propriedades", acrescentou.
Há residentes que são alvo de "bárbaros assassinatos por recusarem a sua afiliação a grupos de homens sem alma, nem pátria, nem história, terroristas assassinos a mando de patrões cobardes, gananciosos e sem rosto", frisou.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.