Para o Presidente Filipe Nyusi, vários fatores travam o desenvolvimento de Moçambique, entre eles a corrupção e os ataques em Cabo Delgado. Em reunião, em Quelimane, Nyusi também discutiu estratégias para as eleições.
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O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu a ajuda da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional para acabar com conflito armado em Cabo Delgado, no norte do país. Também discutiu estratégias para o seu partido, a FRELIMO, vencer as eleições gerais de 15 de outubro.
O estadista falava na noite deste domingo (09.06), na abertura do segundo encontro nacional dos combatentes que decorreu em Quelimane, na província da Zambézia.
Foram vários os fenómenos que afetaram o mandato do Presidente Filipe Nyusi, que está prestes a terminar. A discursar em Quelimane, Nyusi disse que o país não está a alcançar o desenvolvimento almejado por causa de vários fatores.
Nyusi: "Corrupção e ataques armados travam desenvolvimento moçambicano"
"Para além dos desastres naturais que referimos, o país ressente-se dos impactos da crise económica financeira, corrupção e dos ataques perpetrados por malfeitores em alguns distritos de Cabo Delgado. É um fenómeno psicológico devido à ausência de paz efetiva sólida. Esses são alguns dos constrangimentos que têm estado a limitar a capacidade de governo de realizar alguns projetos rumo ao desenvolvimento do país, conforme a nossa aspiração".
Segundo o Presidente da República de Moçambique, dos 97.218 combatentes registados na Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACCLIN), cerca de 30.937 mil foram fixados nos últimos 4 anos.
Estratégias para as eleições
Para além de debater as dificuldades na fixação de pensões de sobrevivência dos combatentes e questões relacionadas com a assistência médica e medicamentosa, a reunião entre a ACCLIN e Filipe Nyusi visou debater a estratégia para as eleições gerais que se avizinham, disse o Presidente.
"A segunda sessão ordinária do comité nacional de ACCLIN realiza-se a 4 meses das eleições legislativas, presidenciais, das assembleias provinciais e pela primeira vez o cabeça de lista será eleito o governador da respetiva província. Como eternos combatentes que somos, viemos aqui para recarregar as nossas energias, viemos aqui para alinhar a nossa estratégia e viemos afinar a nossa táctica para mais uma frente de combate politico e democrático de forma a vencermos de forma folgada as eleições de 15 de outubro próximo".
O encontro entre Filipe Nyusi e os combatentes de libertação nacional prolongou-se por várias horas. À DW, Mariano Abilio Monteiro, um dos combatentes, frisou que a situação na província de Cabo Delgado, que sofre com ataques armados, é uma questão interna. Os combatentes devem-se reunir para ajudar os outros que estão lá. Entretanto, este assunto ainda não foi debatido.
Germano Ntaula, também combatente de luta de libertação nacional, veio da província do Niassa. Partilha também a preocupação acerca da situação em Cabo Delgado.
"A situação é muito agravante, há problemas de diferentes géneros, não podemos dizer que é um problema fácil para resolver, porque não tem sentido. Os problemas que agravaram em Cabo Delgado não têm sentido, porque não sabemos os objetivos", disse.
Além do conflito armado no norte de Moçambique, Luis Aquiba, outro dos combatentes, chama a atenção do Governo para o futuro dos seus filhos. "É preciso garantir o emprego dos filhos dos combatentes, dar continuidade estudando para levar em frente a história".
Moçambique: O abecedário das dívidas ocultas
A auditoria independente de 2017 às dívidas ocultas não revela nomes. As letras do abecedário foram usadas para os substituir. Mas pelas funções chega-se aos possíveis nomes. Apresentamos parte deles e as suas ações.
Foto: Fotolia/Africa Studio
Indivíduo "A"
Supõe-se que Carlos Rosário seja o indivíduo "A" do relatório da Kroll. Na altura um alto quadro da secreta moçambicana que se teria recusado a fornecer as informações solicitadas pelos auditores da Kroll alegando que eram "confidenciais" e não estavam disponíveis. Rosário foi detido em meados de fevereiro no âmbito das dívidas ocultas. Há inconsistências nas informações fornecidas pelo indivíduo.
Foto: L. Meneses
Indivíduo "B"
Andrew Pearse é ex-diretor do banco Credit Suisse, um dos dois bancos que concedeu os empréstimos. No relatório da Kroll é apontado como um dos envolvidos nos contratos de empréstimos originais entre a ProIndicus e o Credit Suisse. De acordo com a justiça dos EUA, terá recebido, juntamente com outros dois ex-colegas, mais de 50 milhões de dólares em subornos e comissões irregulares.
Foto: dw
Indivíduo "C"
Manuel Chang, ex-ministro das Finanças, assinou as garantias de empréstimo em nome do Governo moçambicano. Admitiu à auditoria que violou conscientemente as leis do orçamento ao aprovar as garantias para as empresas moçambicanas. Alega que funcionários do SISE convenceram-no a fazê-lo, alegando razões de segurança nacional. Hoje é acusado pela justiça dos EUA de ter cometido crimes financeiros.
Foto: Getty Images/AFP/W. de Wet
Indivíduo "D"
Maria Isaltina de Sales Lucas, na altura diretora nacional do Tesouro, terá coadjuvado o ministro das Finanças Manuel Chang, ou indivíduo "C", na arquitetura das dívidas ocultas. No Governo de Filipe Nyusi foi vice-ministra da Economia e Finanças, mas exonerada em fevereiro de 2019. Segundo o relatório, terá recebido 95 mil dólares pelo seu papel entre agosto de 2013 e julho de 2014 pela Ematum.
Foto: P. Manjate
Indivíduo "E"
Gregório Leão foi o número um do SISE, os Serviços de Informação e Segurança do Estado. O seu nome é apontado no relatório da Kroll e foi detido em fevereiro passado em conexão com o caso das dívidas ocultas.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "F"
Acredita-se que Lagos Lidimo, diretor do SISE, Serviços de Informação e Segurança do Estado, desde janeiro de 2017, seja o indivíduo "F". Substituiu Gregório Leão, o indivíduo "E". Na altura disse que não tinha recebido "qualquer registo relacionado as empresas de Moçambique desde que assumiu o cargo." A ONG CIP acredita que assumiu essa posição para proteger Filipe Nyusi, hoje chefe de Estado.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "K"
Salvador Ntumuke é ministro da Defesa desde de 2015. Diz que não recebeu qualquer registo relacionado com as empresas moçambicanas desde que assumiu o cargo. O relatório da Kroll diz que informações fornecidas pelo Ministério da Defesa, Ematum e a fornecedores de material militar não coincidem. Em jogo estariam 500 milhões de dólares. O ministro garante que não recebeu dinheiro nem equipamento.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "L"
Víctor Bernardo foi vice-ministro da Planificação e Desenvolvimento no Governo de Armando Guebuza. E na qualidade de presidente do conselho de administração da ProIndicus, terá assinado os termos e condições financeiras para a contratação do primeiro empréstimo da ProIndicus ao banco Credit Suisse, juntamente com Maria Isaltina de Sales Lucas.
Foto: Ferhat Momade
Indivíduo "R"
Alberto Ricardo Mondlane, ex-ministro do Interior, terá assinado em nome do Estado o contrato de concessão da ProIndicus, juntamente com Nyusi, Chang e Rosário. Um email citado pela justiça dos EUA deixa a entender que titulares de alguns ministérios moçambicanos envolvidos no caso, entre eles o do Interior, iriam querer a sua "fatia de bolo" enquanto estivessem no Governo.
Foto: DW/B . Jaquete
Indivíduo "Q"
Filipe Nyusi, na altura ministro da Defesa, seria identificado como indivíduo "Q" no relatório. Uma carta publicada em 2019 pela imprensa moçambicana revela que Nyusi terá instruído os responsáveis da Ematum, MAM e ProIndicus a fazerem o empréstimo. Afinal, parte dessas empresas estavam sob tutela do seu ministério. Hoje Presidente da República, Nyusi nunca esclareceu a sua participação no caso.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/M. Yalcin
Indivíduo "U"
Supõe-se que Ernesto Gove, ex-governador do Banco de Moçambique, seja o indivíduo "U". Terá sido uma das entidades que autorizou a contração dos empréstimos. E neste contexto, em abril de 2019 foi constituído arguido no processo judicial sobre as dívidas ocultas. Entretanto, em 2016 Gove terá dito que não tinha conhecimento do caso das dívidas. (galeria em atualização)