As Forças Armadas de Moçambique celebram 56 anos e apesar das críticas face aos ataques no Norte e Centro do país, o Presidente Nyusi elogiou os esforços dos militares, lembrando que a segurança deve mobilizar todos.
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As Forças Armadas de Moçambique assinalam esta sexta-feira (25.09) 56 anos de existência no meio de muitas críticas sobre a sua atuação no combate ao terrorismo em Cabo Delgado e insurgência militar no Centro do país. Mas o mal-estar não incomoda o Presidente da República, Filipe Nyusi, que, pelo contrário, pediu solidariedade para com as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) no combate ao terrorismo.
"A defesa nacional é um assunto que deve mobilizar todos. As nossas Forças Armadas merecem ainda que o poder, todo ele, solidariamente reconheça a missão que elas desempenham. É fundamental que todos estejamos solidários quando abordamos assuntos relacionados com os objetivos que as nossas Forças Armadas perseguem na alocação de meios e recursos", referiu esta sexta-feira em Maputo.
6 Durante o discurso solene do Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, o Presidente da República informou também que os militares repeliram insurgentes na região de Bilibiza, distrito costeiro de Quissanga - onde em janeiro deste ano foram registados ataques.
Citando o episódio, Nyusi aproveitou para enaltecer o papel das FADM na crise de segurança vivida na província nortenha de Cabo delgado. "Têm demonstrado um alto sentido de patriotismo, bravura, valentia em defesa da nossa soberania e integridade territorial", elogiou.
"Os nossos jovens não vacilam porque estão conscientes da sua missão que é combater o terrorismo, uma versão de guerra diferente das lutas passadas", acrescentou.
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Apoio externo?
Diversos círculos políticos e sociais têm aconselhado Moçambique a pedir apoio externo no combate ao terrorismo. Para o antigo Presidente Joaquim Chissano, o mais importante é dar maior capacidade às Forças Armadas moçambicanas.
"Vamos ter cuidado sobre que tipo de intervenção exterior deve vir, porque nem todos podem ter capacidade de fazer um bom trabalho. Correm o risco de morrer, tendo vindo de fora, o que é pior para os seus países porque morrem em terra estrangeira", comenta.
Para além do discurso solene do Presidente da República, as cerimónias centrais do dia das FADM foram marcadas pela entrega de medalhas a 30 personalidades da vida política, desportiva e das áreas de ciência e tecnologia em reconhecimento pelos seus feitos em prol do país.
O dia das FADM é uma homenagem aos então jovens combatentes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), atual partido no poder, que em 25 de setembro de 1964 lançaram a guerra de libertação nacional contra o colonialismo português.
A guerra durou dez anos até à proclamação da independência nacional, em 25 de junho de 1975.
Moçambique: Guerra civil com pausas de paz
A paz nunca foi uma certeza em Moçambique. Ela apenas tem intercalado confrontos militares desde a independência. Acordos de paz mal concebidos parecem estar na origem dos conflitos. Mas há novos bons sinais à vista.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
O começo da guerra civil
A guerra entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO começou em 1977, isso cerca de dois anos após a proclamação da independência do país. A RENAMO contestava a governação da FRELIMo e queria democracia. Este movimento tinha o apoio da ex-Rodésia e da África do Sul, dois vizinhos de Moçambique. A guerra matou milhões de moçambicanos e quase paralisou a economia do país.
Acabar com a guerra era o obetivo deste acordo, alcançado em 1984. Foi assinado entre os antigos Presidentes de Moçambique e da África do Sul, Samora Machel e Peter Botha, respetivamente. Ficou acordado que Pretória deixava de apoiar a RENAMO e Maputo parava o apoio ao ANC. Este último que lutava contra o Apartheid. Mas ninguém respeitou o acordo.
Foto: Avant Verlag/Birgit Weyhe
Acordo Geral de Paz de Roma
Colocou finalmente fim a guerra em 1992. Foi patrocinado pela Comunidade Santo Egídio, instituição católica italiana. Nessa altura o país já estava devastado e tinha transitado do sistema socialista para o da economia de mercado. Afosno Dhlakama, líder da RENAMO, e Joaquim Chissano, ex-Presidene de Moçambique, assinaram um acordo que pôs fim a uma guerra de 16 anos.
Eleições: nova era de desentendimentos
Em 1994 o país dava os seus primeiros passos rumo a democracia: início do multipartidarismo e realização das primeiras eleições, patrocinadas pela ONU. O primeiro Presidente eleito do país foi Joaquim Chissano. A RENAMO contestou, mas acabou por aceitar os resultados eleitorais.
Foto: Getty Images/AFP/Gianluigi Guercia
Eleições 1999: RENAMO revolta-se
Nas segundas eleições, em 1999, Joaquim Chissano e a FRELIMO voltaram a ganhar. Mas o processo foi novamente marcado por graves irregularidades, a RENAMO diz que houve fraude e contestou com mais veemência. E no ano 2000 apoiantes da RENAMO manifestaram-se em Montepuez província de Cabo Delgado, contra os resultados. Cerca de 700 manifestantes terão sido detidos e mortos por asfixia nas celas.
Foto: Marc Dietrich-Fotolia.com
Rastilho para o barril de pólvora já arde
As sucessivas irregularidades nas eleições, a lei eleitoral desajustada e difícil integração dos ex-guerrilheiros da RENAMO no exército nacional foram os principais pontos que aumentaram a tensão com o Governo. A falta de confiança que caracteriza a relação entre as partes aumentou.
Foto: Gerald Henzinger
As armas falam novamente
Em 2013 a polícia e homens da RENAMO confrontaram-se. Era o início dos conflitos armados. Nesse ano a RENAMO recusa a aprovação da Lei Eleitoral e não participa nas autárquicas. Há um interregno no conflito para a realização de eleições gerais em 2014. A RENAMO perde e acusa a FRELIMO de fraude. O país volta a ser palco de guerra. RENAMO exige governar as seis províncias onde diz ter ganho.
Foto: Fernando Veloso
Guebuza e Dhlakama: o braço de ferro até ao fim
Em setembro de 2014 o Presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO chegam a acordo para por fim ao conflito armado. Abriu-se assim caminho para as eleições gerais, onde a RENAMO participou. Mas as negociações entre os dois homens nunca foram fáceis. Para começar os encontros foram poucos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Na guerra vale tudo
Em Setembro de 2015 Dhlakama sofreu dois atentados. Um deles contra a coluna em que viajava, de Manica a Nampula. Afonso Dhlakama saiu ileso, mas segundo relatos morreram várias pessoas. Mais tarde várias viaturas da comitiva do líder da RENAMO foram queimadas. Dhlakama acusou a FRELIMO pelos atentados.
Foto: DW/A. Sebastião
Cerco a casa de Afonso Dhlakama
Em outubro de 2015 a guarda pessoal do líder da RENAMO foi desarmada pelas forças governamentais durante um cerco à sua residência na cidade da Beira. O Governo pretendia um desarmamento forçado dos homens da RENAMO. O desarmamento da maior força da oposição é um dos pontos controversos nas negociações de paz.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Diálogo de paz pouco frutífero
Infindáveis rondas marcaram as negociações de paz. E em paralelo as armas falavam nas matas, membros da RENAMO eram assassinados a média de um por mês em 2016. Observadores e mediadores, nacionais e internacionais, entraram e saíram do barulho sem conseguir muito. Houve também adiamentos de rondas e algumas pausas no processo.
Foto: Leonel Matias
Dhlakama e Nyusi: maior proximidade, bons sinais
Em agosto de 2017 o Presidente Nyusi deslocou-se à Gorongosa, bastião da RENAMO, para se encontrar com Dhlakama. Os dois líderes acordaram sobre os próximos passos no processo de paz. Esperavam um acordo de paz até ao final de 2017, mas tal não deverá acontecer. Entretanto, Dhlakama está satisfeito com o andamento das negociações. O sigilo entre os dois parece ser o segredo de um bom entendimento.