Nyusi e EUA: Moçambique no Conselho de Segurança da ONU
Lusa
15 de dezembro de 2022
Primeiro mandato de Moçambique no Conselho de Segurança da ONU esteve em destaque num encontro entre secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e Presidente Filipe Nyusi, em Washington.
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Antony Blinken e Filipe Nyusi discutiram esta quarta-feira (14.12) as "prioridades globais e regionais compartilhadas, incluindo áreas de cooperação durante o primeiro e histórico mandato de Moçambique no Conselho de Segurança da ONU em 2023-2024".
Os dois líderes também reafirmaram a sua parceria estratégica para a promoção da paz, a estabilidade e a segurança da saúde global, segundo informação avançada pelo Departamento de Estado norte-americano.
Blinken destacou ainda o impacto da estratégia dos Estados Unidos da América (EUA) para prevenir conflitos e promover a estabilidade como complemento aos esforços do Governo e da sociedade civil no norte de Moçambique.
"Parceiros fortes"
"Estamos ansiosos pela nossa colaboração quando Moçambique se tornar membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas em janeiro, mas também somos parceiros fortes - parceiros fortes para ajudar Moçambique a construir estabilidade", afirmaram.
"Parceiros fortes para construir juntos a saúde global, lidando com insegurança alimentar, e damos as boas-vindas a essa parceria. Há muito o que discutir esta noite", disse Blinken a Nyusi, citado no 'site' do executivo norte-americano.
Já o chefe de Estado de Moçambique apelou por uma maior cooperação entre os dois países e por um maior investimento dos Estados Unidos no seu país.
Cimeira EUA-África
Blinken e Nyusi encontraram-se na capital norte-americana à margem da Cimeira EUA-África, que começou na terça-feira e que termina hoje.
A Cimeira reuniu líderes de todo o continente africano para discutir formas de fortalecer laços e promover prioridades compartilhadas com os Estados Unidos.
No total, 49 chefes de Estado africanos e o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, foram convidados para este encontro de alto nível.
A Cimeira deve reavivar as relações dos Estados Unidos com o continente africano, suspensas pelo ex-presidente Donald Trump, num momento em que China e Rússia avançam com os seus 'peões' na região.
As batalhas de Kofi Annan
Nascido no Gana, Kofi Annan tornou-se no primeiro líder africano e negro da ONU e num dos grandes nomes da diplomacia mundial. Bateu-se pela paz, mas a luta nem sempre correu bem.
Foto: Getty Images/AFP/H. Zaourar
Estrela em ascenção da Organização das Nações Unidas (ONU)
Kofi Anan nasceu no seio de uma conhecida família no Gana em 1938. Estudou na Suíça e nos Estados Unidos. Começou a trabalhar na ONU com 24 anos. Em 1993, tornou-se chefe das operações de manutenção da paz. Um dos primeiros desafios foi a crise na Somália, quando confrontos entre forças norte-americanas apoiadas pela ONU e milícias da Somália causaram a morte a 18 soldados americanos.
Foto: Getty Images/AFP/H. Zaourar
Derrotas na Bósnia e no Ruanda
As forças de manutenção da paz da ONU não conseguiram travar os genocídios no Ruanda e na Bósnia na década de 90. As missões malogradas levaram Annan a “criar uma nova compreensão de legitimidade e necessidade, de intervenção frente a graves violações dos direitos humanos”, escreveu na sua auto-biografia de 2012.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Apoio norte-americano
Em 1996, os EUA queriam substituir o então secretário-geral da ONU Boutros Boutros-Ghali, que, por repetidas vezes, ia contra os interesses de Whashington. Annan, por seu lado, enquanto substituto de Boutros-Ghali, autorizou a intervenção na Bósnia liderada pelos norte-americanos. Mais tarde, o veto dos EUA ao segundo mandato de Boutros-Ghali abriu caminho para Annan chegar ao posto em 1997.
Foto: Reuters/R. Wilking
Prémio Nobel da Paz
Em 2001, o Comité do Prémio Nobel da Paz atribuiu o galardão à ONU e ao seu líder, Kofi Annan, elogiando Annan por revitalizar a ONU e lutar pelos direitos humanos. “Não estou aqui sozinho”, disse Annan no discurso de aceitação. Annan agradeceu ao Comité em nome dos seus colegas da ONU “que dedicaram a vida e, em muitos casos, arriscaram ou perderam a vida pela paz.”
Foto: picture-alliance/dpa/H. Junge
Annan vs Whashington
Os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003, ignorando o Conselho de Segurança da ONU e irritando muitos dos seus aliados mais próximos. Annan opôs-se abertamente à invasão a que chamou de “ilegal”. As declarações causaram revolta entre os que anteriormente o apoiaram em Washington.
Foto: picture-alliance/ dpa/Y. Logghe
Sob investigação
Em 2004, Annan viu-se envolvido num escândalo de corrupção devido ao programa no Iraque “Petróleo por Alimentos”, pois o seu filho Kojo recebia honorários de uma empresa envolvida no programa. Annan acabou por ser ilibado de má conduta, mas ficou por esclarecer o seu papel na obtenção do negócio pelo filho. Alguns analistas acreditam que o escândalo foi orquestrado por diplomatas norte-americanos.
Foto: Getty Images/A.Burton
Depois da ONU
Kofi Annan terminou o segundo mandato de cinco anos em 2006 e foi sucedido por Ban Ki-moon. Mas o diplomata ganês permaneceu ativo na luta pela paz. Ao lado de Nelson Mandela, Desmond Tutu e outros diplamatas e ativistas reconhecidos, Annan fundou a organisação não governamental “The Elders”, que luta pela pez e pelos direitos humanos.
Foto: Getty Images
Tentativa falhada na Síria
Annan voltou aos holofotes como o enviado da ONU à Síria, em 2012, durante a fase inicial do conflito que viria a transformar-se na infindável e sangrenta guerra civil. No entanto, abandonou o posto cinco meses depois, frustrado com a falha em honrar compromissos por parte dos grandes poderes. “Perdi as minhas tropas a caminho de Damasco”, disse.
Foto: Reuters/Sana
Myanmar: a última missão
Em 2016, Annan viajou para o Myanmar para liderar uma comissão consultiva no conflito com os Rohingya, gerando muitos protestos entre a maioria budista no país. A comissão pediu ao Governo que terminasse com a pobreza entre o povo Rohingya e garantisse os seus direitos. Em outubro de 2017, Annan pediu à ONU que pressionasse Myanmar para receber de volta os Rohingya exilados.