Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, lembrou Mário Machungo, antigo primeiro-ministro que morreu a 17 de fevereiro em Lisboa, como um "nacionalista convicto e um defensor acérrimo da independência" do país.
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"Perdemos um nacionalista convicto", disse Filipe Nyusi, falando durante o funeral de Estado de Mário Machungo, ocorrido esta segunda-feira (24.02) no salão nobre do Conselho Municipal da Cidade de Maputo.
O antigo governante, que ocupou o cargo de primeiro-ministro entre 1986 e 1994, morreu vítima de doença prolongada em Lisboa.
Para o chefe de Estado moçambicano, a entrega e determinação de Mário Machungo às causas da nação moçambicana são lições que devem permanecer com o povo.
"Defensor da independência"
"Machungo é o mestre que soube imprimir no seu nome letras inapagáveis na história de Moçambique", frisou Filipe Nyusi, acrescentando que se tratou de um "acérrimo defensor da independência económica e política de Moçambique".
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08:59
O Presidente lembrou ainda o ex-chefe do Executivo como um governante "nobre e pujante", comprometido com o bem-estar e justiça para os moçambicanos.
"Mário Machungo, um homem de um saber abrangente e lealdade exemplar, deixa-nos um legado de entrega à causa moçambicana", acrescentou o chefe de Estado moçambicano.
O último cargo ocupado por Mário Machungo foi a presidência do banco Millenium Bim, até 2015, uma das maiores instituições financeiras do mercado moçambicano.
Docente universitário, o ex-primeiro-ministro ocupou vários cargos ministeriais entre 1975 e 1986, incluindo as pastas da Indústria e Comércio, Agricultura e Planificação. Foi igualmente deputado durante a primeira legislatura multipartidária pela bancada da FRELIMO.
Machungo nasceu a 01 de dezembro de 1940 em Maxixe, na província de Inhambane, no sul do país.
Moçambique observa dois dias de luto nacional em sua memória.
O projeto educacional da FRELIMO no exílio
Em 1962, ano de fundação da Frente de Libertação de Moçambique em Dar Es Salaam, no exílio na Tanzânia, surgiu a escola da FRELIMO em Bagamoyo. A partir da escola a FRELIMO planeou a independência de Moçambique.
Foto: Gerald Henzinger
Lembranças dos tempos coloniais alemães
De 1888 a 1891, Bagamoyo foi capital da colónia África Oriental Alemã, atual Tanzânia. Ainda hoje, os edifícios coloniais – como o da foto – lembram aquela época. Em 1916, a colónia alemã tornou-se britânica e, em 1961, conquistou a independência como Tanganica. Pouco depois, começaram as primeiras ambições independentistas no vizinho Moçambique, então colónia portuguesa.
Foto: Gerald Henzinger
A casa do primeiro presidente
O primeiro presidente de Moçambique após a independência, Samora Machel, morou nesta casa. Tanganica apoiava o movimento moçambicano pela independência. Em 1962, ano de fundação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, hoje no poder) em Dar Es Salaam, na Tanzânia, surgiu a escola do movimento em Bagamoyo. As instalações ficam a cerca de 5 km a sul de Bagamoyo.
Foto: Gerald Henzinger
Educação para uma nova sociedade
A partir de Bagamoyo, a FRELIMO planeou a independência de Moçambique, ex-colónia portuguesa. Um dos pilares da nova sociedade moçambicana deveria ser a educação. Na altura da independência, em 1975, grande parte da população moçambicana não sabia nem ler, nem escrever. Cinco anos depois, em 1980, a ONU ainda contava 73% de analfabetos. Em 2009, a taxa caiu para 45%.
Foto: Gerald Henzinger
Ajuda da Tanzânia
Placas apontam para a história do edifício da escola da FRELIMO – esta diz que o prédio da foto era um dormitório para combatentes pela libertação moçambicana. Durante as lutas pela independência de Portugal, a FRELIMO obteve ajuda da Tanzânia, já independente, e pôde estabelecer bases neste país vizinho, a norte de Moçambique.
Foto: Gerald Henzinger
Celeiro de dirigentes
Importantes personalidades atuavam no projeto educacional da FRELIMO no exílio, como nesta sala de aulas, em Bagamoyo. Um exemplo destas personalidades é a ex-vice-diretora da escola da FRELIMO no local, Graça Machel, viúva de Samora Machel. Posteriormente, ela tornou-se ministra da Educação de Moçambique e ficou conhecida como a atual esposa do antigo presidente sul-africano, Nelson Mandela.
Foto: Gerald Henzinger
Sobras dos potenciais intelectuais
Esta casa de lata costumava ser uma sala de estudos. Mais tarde, uma biblioteca. Agora, as instalações estão vazias. Muitos dos antigos alunos da escola da FRELIMO em Bagamoyo acabaram por ocupar cargos importantes em Moçambique, como em ministérios. Atualmente, muitos também trabalham nas universidades do país.
Foto: Gerald Henzinger
A Kaole High School
Depois da independência de Moçambique, os combatentes da FRELIMO saíram de Bagamoyo. Entre 1975 e 2011, a "Kaole High School" (escola secundária Kaole) passou a funcionar no local. Para que os alunos pudessem encurtar o caminho até a sala de aula, as autoridades educacionais tanzanianas construíram uma escola no centro de Bagamoyo. Na foto, um antigo dormitório.
Foto: Gerald Henzinger
Decadência
Poucos meses depois do fechamento da "Kaole High School", as condições dos edifícios era catastrófica. Os bancos de madeira estão sujos, cabras defecam nas antigas salas de aula, janelas e portas estão demolidas.
Foto: Gerald Henzinger
Descaso das autoridades?
As autoridades escolares da Tanzânia praticamente desistiram dos edifícios da antiga escola da FRELIMO. O governo moçambicano também não agiu para preservar a área – um dos pilares da história do país.