Nyusi lança centro de operações humanitárias em Nacala
Lusa
21 de junho de 2021
Centro de Operações Humanitárias e de Emergência da SADC na província de Nampula, é "uma resposta concreta" aos desafios das mudanças climáticas na região, considerou o PR moçambicano.
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"Consideramos este ato uma resposta concreta aos desafios decorrentes das mudanças climáticas e ao desígnio ao que nos propusemos quando assumimos a presidência da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral [SADC]", disse o Presidente Filipe Nyusi, esta segunda-feira (21.06) durante o lançamento do Centro de Operações Humanitárias e de Emergência (COHE) em Nacala, na província de Nampula, que contou com a presença do Presidente do Botsuana, Mokgweetsi Masisi.
Segundo o chefe de Estado e também presidente em exercício da SADC, a iniciativa visa fazer face aos impactos decorrentes das mudanças climáticas e outras emergências associadas que "requerem uma intervenção rápida, coordenada e atempada em qualquer Estado-membro da SADC".
"A sobrevivência coletiva das nossas nações dependerá da mobilização rápida e coordenada de intervenções e ferramentas de sensibilização e preparação a fim de reforçar a resiliência das nossas comunidades", frisou o Presidente moçambicano.
A decisão de instalar na cidade costeira de Nacala o centro para promoção de estudos e ativação de alertas foi tomada em junho de 2020 em reunião virtual dos chefes de diplomacia da SADC.
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Efeitos das mudanças climáticas
De acordo com o chefe de Estado, citando dados do Banco Africano de Desenvolvimento, nas últimas duas décadas Moçambique perdeu, por ano, cerca de 150 milhões de dólares (126 milhões de euros) devido aos efeitos das mudanças climáticas.
"Tudo indica que esta ocorrência cíclica de eventos climáticos extremos será permanente e de maior intensidade e devastação", declarou Filipe Nyusi, lembrando os ciclones que devastaram o país em 2019.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas mudanças climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais. Na época chuvosa 2020-2021 o país foi assolado por eventos climáticos extremos com destaque para a tempestade Chalane e os ciclones Eloise e Guambe, além de outras semanas de chuva intensa e inundações.
As intempéries provocaram pelo menos de 96 mortes, afetaram 676.314 pessoas e causaram ainda 150 feridos, de acordo com dados do Governo.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois dos maiores ciclones (Idai e Kenneth) de sempre a atingir o país.
Feridas do ciclone Kenneth não cicatrizaram, seis meses depois
O ciclone Kenneth devastou o norte de Moçambique, em abril. 45 pessoas morreram e 250 mil foram afetadas pelo ciclone. Seis meses depois, muito já foi feito, mas muito continua por fazer na província de Cabo Delgado.
Foto: Reuters/OCHA/Saviano Abreu
Salas de aula por reconstruir
Mais de 500 salas de aula ficaram destruídas depois da passagem do ciclone Kenneth. Com apoio financeiro, recuperaram-se cerca de 100 salas. Em alguns casos, foram alocadas tendas às escolas destruídas para permitir o decurso das aulas. Entretanto, há várias escolas por reconstruir. Um exemplo é esta escola primária na Ilha das Quirimbas, distrito do Ibo, cuja cobertura foi arrasada.
Foto: DW
"Comida pelo trabalho"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) em Cabo Delgado, chefiado por Enrique Alvarez, continua a prestar assistência alimentar às famílias afetadas pelo ciclone. Em agosto, iniciou uma nova etapa de reconstrução, denominada "Comida pelo trabalho", onde cerca 70 mil pessoas beneficiarão de apoio alimentar ou material de construção, mediante a prestação de trabalhos na comunidade.
Foto: DW
Setor da pesca atingido
O ciclone Kenneth destruiu ou danificou muitos barcos de pesca artesanal, e a atividade piscatória ficou paralisada. O motor deste barco ficou avariado com o ciclone e o proprietário e os seus sete trabalhadores viram-se obrigados a paralisar a atividade durante cinco meses.
Foto: DW/D. Anacleto
Lonas para cobrir as casas
Várias habitações devastadas pelo mau tempo em Cabo Delgado continuam por reabilitar. O Governo ofereceu tendas às famílias que tiveram as casas totalmente destruídas. Para muitas casas onde só o tecto ficou destruído, foram oferecidas lonas.
Foto: DW/D. Anacleto
A longa espera pelo reassentamento
Na cidade de Pemba, depois da passagem do ciclone, em abril, cerca de 300 famílias que tiveram as suas habitações destruídas foram levadas para o centro de trânsito do bairro de Chuiba. Aguardam aqui a distribuição de terrenos para recomeçar uma nova vida. "Ainda não há sinal de luz verde", lamentam estes cidadãos.
Foto: DW
Sistema de drenagem obstruído
Em abril, as chuvas intensas que se fizeram sentir em Pemba durante a passagem do Kenneth alagaram os bairros de Natite, Josina Machel, Eduardo Mondlane e Paquitequite. Uma das causas para o fenómeno terá sido o deficiente sistema de drenagem, que estava obstruído. O edil de Pemba, Florete Simba Motarua, promete melhorá-lo.
Foto: DW
Família pede ajuda
Uma das casas da família de Fernando Fernandes foi destruída pelo ciclone. Com um agregado numeroso, os membros têm de partilhar o pequeno espaço na residência principal. Fernandes renova o pedido de apoio a pessoas de boa-fé: "Se eles realmente sentem pelo desastre que o povo sofreu, que venham dar um apoio, não digo financeiro, mas material, como ferros ou cimento…"
Foto: DW
Lixeira municipal foi transferida
A lixeira municipal de Pemba, que há 60 anos ficava na unidade residencial de Chibuabuare, no centro da cidade, está agora a 22 quilómetros da zona urbana. A lixeira terá soterrado seis pessoas durante a passagem do ciclone Kenneth, em abril passado.
Foto: DW/D. Anacleto
União Europeia apoia reconstrução
A União Europeia ofereceu 3,5 milhões de euros para apoiar a reconstrução da autarquia de Pemba, através de um programa denominado "Mais Pemba". O programa de apoio inclui a melhoria das vias de acesso destruídas, requalificação dos espaços públicos e a limpeza da cidade. A maior parte das estradas danificadas pelo Kenneth em Pemba já foi reconstruída.