Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, instruiu forças governamentais a retirarem-se de bases do maior partido da oposição que estavam ocupadas ou cercadas. Governo e RENAMO vão criar centros de monitorização da paz.
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O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ordenou, na qualidade de Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança, a retirada das tropas governamentais de algumas bases do maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
"Dois postos já não têm Forças de Defesa e Segurança. E no terceiro ponto, que era quase a base principal da RENAMO, onde estavam também as Forças de Defesa e Segurança, instruímos também para que saiam dali", anunciou Nyusi na quinta-feira à noite (27.04.), em Maputo.
Este último ponto, descrito como uma das principais bases do antigo movimento rebelde, localiza-se em Nyamajiua, na Gorongosa, província central de Sofala. Sabe-se que o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, se encontra refugiado na Gorongosa há mais de um ano.
Dois centros de monitorização da paz
O Presidente Filipe Nyusi explicou que em Nyamajiua funcionará um centro com a missão de verificar e monitorar possíveis casos que afetem a paz. Um outro centro será instalado em Maputo, no sul do país, "para poder intervir e dar sinais de que não deve haver confusão entre nós."
Para o funcionamento dos centros, o Governo e a RENAMO indicaram, cada um, dois representantes para a zona sul e quatro para o centro.
Estas medidas surgem numa altura em que o chefe de Estado e o líder da RENAMO têm reiterado que estão em contactos regulares, anunciando "progressos" para o estabelecimento de uma paz definitiva em Moçambique.
Nyusi manda retirar tropas de bases da RENAMO
O país está a observar desde dezembro uma trégua militar, que já foi renovada por duas vezes e termina a 5 de maio.
Segundo Dhlakama, durante este período houve algumas violações à trégua que não prejudicarão, no entanto, as conversações em curso. O líder da REMAMO admitiu igualmente que poderá anunciar uma trégua que deverá vigorar até à conclusão do diálogo político, que se espera venha a culminar com a assinatura de um acordo de paz definitivo.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.