Moçambique está a aprender a "racionalizar" os recursos
Lusa
25 de agosto de 2017
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse esta sexta-feira (25.08) que os cortes dos doadores estão a afetar o Plano Quinquenal do Governo e o crescimento económico, obrigando a uma maior racionalização de recursos.
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Moçambique está "a viver um momento em que os seus investimentos estão condicionados às regras monetárias internacionais, o que tem estado a limitar as iniciativas de realização de muitos projetos em carteira no nosso Plano Quinquenal do Governo", afirmou Filipe Nyusi, em Maputo, num discurso por ocasião do almoço de Estado com o seu homólogo sul-africano, Jacob Zuma.
Os cortes, segundo Nyusi, forçam uma maior racionalização de recursos no país, limitam o funcionamento da economia, mas são também oportunidade.
"Os parceiros de cooperação no apoio programático suspenderam a canalização de recursos para o Orçamento do Estado" e "estas adversidades têm estado a servir de oportunidade para aprendermos a racionalizar melhor os parcos recursos disponíveis", enfatizou Filipe Nyusi.
Suspensão do apoio
O grupo dos principais países e entidades doadores do Orçamento do Estado moçambicano e as instituições financeiras internacionais suspenderam o seu apoio na sequência da descoberta, em abril de 2016, de dívidas avalizadas secretamente com garantias do Estado entre 2013 e 2014. Os doadores condicionaram o reatamento da ajuda à realização de uma auditoria internacional.
Um sumário do relatório da auditoria foi divulgado em junho. Mas os doadores entendem que devem ser supridas lacunas de informação constantes do documento.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.