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Nyusi no Ruanda: "Uma espécie de prestação de contas"

17 de maio de 2024

Presidentes do Ruanda e Moçambique e CEO da Total reuniram-se em Kigali esta semana. Em entrevista à DW, analista considera que a multinacional "jogará um papel importante" na questão da segurança em Cabo Delgado.

Filipe Nyusi (à esquerda), Presidente de Moçambique, e Paul Kagame (à direita), homólogo do Ruanda
Filipe Nyusi (à esquerda), Presidente de Moçambique, e Paul Kagame (à direita), homólogo do Ruanda, estiveram reunidos em Kigali no âmbito de uma visita de três dias do chefe de Estado moçambicano

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, termina esta sexta-feira (17.05) uma visita de trabalho de três dias ao Ruanda para o reforço da "cooperação bilateral".

Ainda no âmbito da deslocação a Kigali, Nyusi participou no África CEO Fórum ao lado do homólogo, Paul Kagame, e do CEO da francesa TotalEnergies, Patrick Pouyanné, que detém megaprojetos em Moçambique.

Para o analista moçambicano Wilker Dias, a ida do chefe de Estado moçambicano ao Ruanda é "extremamente estratégica". Em entrevista à DW, sublinha que o contexto do fórum é "neutro" e que pode não levantar suspeitas acerca de eventuais interesses por detrás dos encontros.

DW África: Os projetos moçambicanos foram negociados no Ruanda a troco de quê? Quem beneficia?

Wilker Dias (WD): Na minha ótica, esta deslocação é extremamente estratégica, primeiro com vista a discutir-se o ponto de situação na vertente do combate ao terrorismo em Cabo Delgado, numa altura em que os ataques voltaram em algumas áreas onde tínhamos os soldados da SAMIM [Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique] que agora estão a retirar-se de forma gradual.

As tropas da SAMIM estão a retirar-se de forma gradual de Cabo Delgado, província assolada por ataques armados, o que tem gerado preocupações internas em MoçambiqueFoto: Delfim Anacleto/DW

Olha-se para o Ruanda como umas principais alternativas para poder ocupar aqueles espaços vazios e automaticamente também como o principal fazedor do cordão de segurança, daquela que é a zona onde se desenvolvem os megaprojetos. Este encontro é uma espécie de prestação de contas daquilo que poderá ocorrer em termos securitários. O ponto focal agora poderá ser mesmo o reforço da segurança, principalmente naqueles pontos que garantam a logística da Total nestes próximos tempos.

DW África: A cimeira foi então o pretexto perfeito para juntar à mesma mesa os dois chefes de Estado e o responsável da Total?

WD: Sim, claramente. É uma das formas de discutir-se aquilo que vai acontecer nos próximos tempos e principalmente, também, noutra perspetiva, que é a saída muito em breve de Filipe Nyusi da Presidência da República [de Moçambique]. A grande preocupação agora é saber como é que fica o projeto da Total, e o plano de contingência dos ataques em Cabo Delgado, com esta retirada de Filipe Nyusi, com a indicação de Daniel Chapo à Presidência da República [pela FRELIMO]. Quero acreditar que, se calhar de forma direta, pode abrir-se uma perspetiva para que se desenhe a passagem do dossier de forma gradual, para que o outro candidato também possa estar um pouco por dentro dessas ações. Por isso é que olho para esta visita com um pensamento um pouco mais futurístico. Se houver algum interesse pessoal por detrás, o que é praticamente notório, não só na figura do Presidente [Nyusi], mas também na figura de Paul Kagame, poderá ser, se calhar, sanado ao longo desta conferência em que, na minha ótica, é um bom local neutro na base de algumas desculpas que poderão levantar outras suspeitas em termos securitários, e que poderá ser discutido lá neste encontro.

Wilker Dias, analista políticoFoto: Arcénio Sebastião/DW

DW África: Acredita que para a Total é a oportunidade perfeita no sentido do reforço da segurança e a consequente retoma dos projetos?

WD: Sim, acredito muito que pode haver uma discussão em termos daquilo que poderá ser o ponto de financiamento por parte de algum outro parceiro que queira, de certa forma, apoiar o contingente ruandês. Digo isto porque a guerra envolve custos financeiros e se o Ruanda, neste caso concreto, tiver essa perspetiva de aumentar o seu contingente existencial do terreno precisará de mais recursos financeiros.

DW África: E de onde virão esses recursos? Da Total, por exemplo?

WD: É um dos assuntos que vai de certeza constituir um ponto de discussão no seio deste encontro, porque a questão financeira também vem ao de cima. De quem vai sair esse reforço financeiro para reforçar esse contingente, uma vez que a União Europeia já apoia? Será que haverá um incremento por parte da Total e do Governo francês em sede da União Europeia? O que precisamos de saber é de onde vai ser esse dinheiro, se é por parte da Total ou não. E aí a Total vai jogar um papel extremamente preponderante neste encontro.

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