Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, diz que país está a ser alvo de chantagem económica e política por parte de organizações estrangeiras. Populares pedem a Governo que se foque no combate à corrupção.
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O Presidente Filipe Nyusi disse, durante a visita de trabalho de dois dias à província da Zambézia, que há muitas organizações internacionais em Moçambique que, ao invés de apoiarem a população, fazem política, apoiando inclusive partidos políticos.
"Deixem a política para os moçambicanos", afirmou Nyusi na segunda-feira (15.07.), durante um comício popular no distrito de Gilé. "Não venham com a capa de uma ONG para vir fazer política."
Para Nyusi, algumas organizações não-governamentais estrangeiras fazem demasiadas imposições ao Estado moçambicano, e isso acaba por dificultar o desenvolvimento económico e social da própria população.
"Nós ficamos sem liberdade de tomar decisões", disse o Presidente. Segundo o Nyusi, as organizações não podem impor uma forma de pensamento por abrirem um "furo de água", por exemplo: "Acabam por nos retirar a liberdade de pensarmos normalmente por causa de seremos pobres. Sim, somos pobres, mas não devemos ser manipulados."
Nyusi pede a ONG internacionais que "deixem a política"
Luta contra a corrupção
Filipe Nyusi esteve na segunda e na terça-feira na Zambézia para uma visita de trabalho de dois dias, tendo passado pelos distritos de Ile, Gilé, Pebane e Mocuba, a norte da província.
Os populares das localidades visitadas queixaram-se sobretudo da falta de emprego e de instituições de ensino técnico-profissional, bem como das péssimas condições em que se encontram as estradas, apesar de a região ser rica em recursos minerais e florestais.
Mas, na opinião de alguns residentes de Gilé, por exemplo, o problema mais gritante é a corrupção nos setores públicos.
"Estamos mal aqui, no que diz respeito à corrupção. Até nos hospitais. Se não tem 'padrinho' lá, você fica na bicha de consulta das 8h até às 15h... Temos muitos problemas nos hospitais, assim como nas escolas. Mesmo nas pequenas vagas que lançam, para você entrar tem que ter 'padrinho'", denunciou um residente em entrevista à DW África.
Na terça-feira, antes de terminar a visita de trabalho à província, o Presidente Filipe Nyusi reuniu-se na cidade de Mocuba com quadros do governo provincial e mostrou-se agastado com o índice de corrupção na Função Pública em Moçambique.
"Pedi um levantamento de todos os setores e todos os distritos, e em cada distrito e setor há manifestações de corrupção. Há cobranças ilícitas, pessoas que mentem e prometem que vão empregar os jovens, e eles, aflitos, sem emprego, aceitam, mas não ficam com emprego nenhum", referiu Nyusi.
O Presidente sublinhou que a situação o está a "preocupar muito" e está a "incomodar a população". Filipe Nyusi defendeu uma mudança radical de comportamento dessas pessoas.
Moçambique: O abecedário das dívidas ocultas
A auditoria independente de 2017 às dívidas ocultas não revela nomes. As letras do abecedário foram usadas para os substituir. Mas pelas funções chega-se aos possíveis nomes. Apresentamos parte deles e as suas ações.
Foto: Fotolia/Africa Studio
Indivíduo "A"
Supõe-se que Carlos Rosário seja o indivíduo "A" do relatório da Kroll. Na altura um alto quadro da secreta moçambicana que se teria recusado a fornecer as informações solicitadas pelos auditores da Kroll alegando que eram "confidenciais" e não estavam disponíveis. Rosário foi detido em meados de fevereiro no âmbito das dívidas ocultas. Há inconsistências nas informações fornecidas pelo indivíduo.
Foto: L. Meneses
Indivíduo "B"
Andrew Pearse é ex-diretor do banco Credit Suisse, um dos dois bancos que concedeu os empréstimos. No relatório da Kroll é apontado como um dos envolvidos nos contratos de empréstimos originais entre a ProIndicus e o Credit Suisse. De acordo com a justiça dos EUA, terá recebido, juntamente com outros dois ex-colegas, mais de 50 milhões de dólares em subornos e comissões irregulares.
Foto: dw
Indivíduo "C"
Manuel Chang, ex-ministro das Finanças, assinou as garantias de empréstimo em nome do Governo moçambicano. Admitiu à auditoria que violou conscientemente as leis do orçamento ao aprovar as garantias para as empresas moçambicanas. Alega que funcionários do SISE convenceram-no a fazê-lo, alegando razões de segurança nacional. Hoje é acusado pela justiça dos EUA de ter cometido crimes financeiros.
Foto: Getty Images/AFP/W. de Wet
Indivíduo "D"
Maria Isaltina de Sales Lucas, na altura diretora nacional do Tesouro, terá coadjuvado o ministro das Finanças Manuel Chang, ou indivíduo "C", na arquitetura das dívidas ocultas. No Governo de Filipe Nyusi foi vice-ministra da Economia e Finanças, mas exonerada em fevereiro de 2019. Segundo o relatório, terá recebido 95 mil dólares pelo seu papel entre agosto de 2013 e julho de 2014 pela Ematum.
Foto: P. Manjate
Indivíduo "E"
Gregório Leão foi o número um do SISE, os Serviços de Informação e Segurança do Estado. O seu nome é apontado no relatório da Kroll e foi detido em fevereiro passado em conexão com o caso das dívidas ocultas.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "F"
Acredita-se que Lagos Lidimo, diretor do SISE, Serviços de Informação e Segurança do Estado, desde janeiro de 2017, seja o indivíduo "F". Substituiu Gregório Leão, o indivíduo "E". Na altura disse que não tinha recebido "qualquer registo relacionado as empresas de Moçambique desde que assumiu o cargo." A ONG CIP acredita que assumiu essa posição para proteger Filipe Nyusi, hoje chefe de Estado.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "K"
Salvador Ntumuke é ministro da Defesa desde de 2015. Diz que não recebeu qualquer registo relacionado com as empresas moçambicanas desde que assumiu o cargo. O relatório da Kroll diz que informações fornecidas pelo Ministério da Defesa, Ematum e a fornecedores de material militar não coincidem. Em jogo estariam 500 milhões de dólares. O ministro garante que não recebeu dinheiro nem equipamento.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "L"
Víctor Bernardo foi vice-ministro da Planificação e Desenvolvimento no Governo de Armando Guebuza. E na qualidade de presidente do conselho de administração da ProIndicus, terá assinado os termos e condições financeiras para a contratação do primeiro empréstimo da ProIndicus ao banco Credit Suisse, juntamente com Maria Isaltina de Sales Lucas.
Foto: Ferhat Momade
Indivíduo "R"
Alberto Ricardo Mondlane, ex-ministro do Interior, terá assinado em nome do Estado o contrato de concessão da ProIndicus, juntamente com Nyusi, Chang e Rosário. Um email citado pela justiça dos EUA deixa a entender que titulares de alguns ministérios moçambicanos envolvidos no caso, entre eles o do Interior, iriam querer a sua "fatia de bolo" enquanto estivessem no Governo.
Foto: DW/B . Jaquete
Indivíduo "Q"
Filipe Nyusi, na altura ministro da Defesa, seria identificado como indivíduo "Q" no relatório. Uma carta publicada em 2019 pela imprensa moçambicana revela que Nyusi terá instruído os responsáveis da Ematum, MAM e ProIndicus a fazerem o empréstimo. Afinal, parte dessas empresas estavam sob tutela do seu ministério. Hoje Presidente da República, Nyusi nunca esclareceu a sua participação no caso.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/M. Yalcin
Indivíduo "U"
Supõe-se que Ernesto Gove, ex-governador do Banco de Moçambique, seja o indivíduo "U". Terá sido uma das entidades que autorizou a contração dos empréstimos. E neste contexto, em abril de 2019 foi constituído arguido no processo judicial sobre as dívidas ocultas. Entretanto, em 2016 Gove terá dito que não tinha conhecimento do caso das dívidas. (galeria em atualização)