Nyusi: Remodelação ministerial serve para "reforçar" Governo
Lusa
14 de dezembro de 2017
Três ministros moçambicanos tomaram posse esta quinta-feira. Presidente Filipe Nyusi lembra que tempo para cumprir promessas "começa a escassear".
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O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, referiu esta quinta-feira (14.12) que a remodelação ministerial que realizou esta semana visa "reforçar a capacidade de resposta do Governo face aos desafios do país".
O chefe de Estado falava no Palácio da Presidência, em Maputo, na cerimónia de posse de três ministros: José Pacheco (Negócios Estrangeiros e Cooperação), Max Tonela (Recursos Minerais e Energia) e Higino Marrule (Agricultura).
Filipe Nyusi realçou que o Governo completa três anos de um total de cinco no próximo mês, pelo que "o tempo para cumprir as promessas começa a escassear".
"Diplomacia económica"
Aos governantes empossados, pediu que afinem as prioridades para cumprir o plano quinquenal do executivo.
O chefe de Estado referiu que os recursos do país "são escassos", pelo que pediu ainda "soluções criativas" aos membros do Governo para encontrarem recursos adicionais.
A cada qual, Nyusi dirigiu ainda uma parte do discurso.
A José Pacheco sublinhou que "neste ciclo governativo" é preciso apostar na "diplomacia económica" para atrair investimento estrangeiro e o novo detentor da pasta dos Negócios Estrangeiros disse aos jornalistas que pretende dar resposta ao desafio, abrangendo o setor privado.
Sobre a exploração de recursos naturais, tais como o carvão ou gás natural, o chefe de Estado apelou a uma reflexão para que beneficiem em primeiro lugar a população do país.
Max Tonela reiterou que "qualquer compromisso [no setor] será firmado somente quando satisfeitos requisitos que beneficiem todos os moçambicanos".
José Pacheco e Max Tonela já estavam no Governo, na Agricultura e no ministério da Indústria e Comércio, respetivamente, mas Higino Marrule, empossado como ministro da Agricultura, é uma cara nova no elenco.
Já antes como especialista na área tinha dado contributos para a definição de planos governamentais, recordou Nyusi, que hoje lhe pediu para concretizar o desafio de transformar a agricultura familiar - principal atividade dos moçambicanos - num setor virado para o negócio.
"Sempre me pautei por falar sobre isso", respondeu Higino Marrule, em declarações aos jornalistas, assumindo a missão de realizar uma "transformação agrária" em Moçambique.
Das quatro áreas em que houve remodelações, fica por nomear o ministro da Indústria e Comércio.
Oportunidade ou perigo? A extração de areia em Moçambique
A extração de areia movimenta muito dinheiro na província moçambicana da Zambézia. Ambientalistas alertam para os perigos ambientais. Mas para quem trabalha neste negócio no distrito de Nicoadala, parar seria difícil.
Foto: DW/M. Mueia
O negócio da areia em Nicoadala
Já foram devastadas extensas áreas de terra devido ao negócio da areia no distrito de Nicoadala, no centro de Moçambique. São sobretudo os jovens naturais da região que trabalham aqui.
Foto: DW/M. Mueia
Trabalho duro
Extrair areia é um trabalho duro. Os trabalhadores queixam-se frequentemente de dores na coluna e dores de cabeça, entre outras coisas. Ainda assim, o trabalho dá para "manter a vida" e sustentar a família, afirmam. Conseguem, assim, pagar a escola aos filhos, comprar-lhes roupas e adquirir bicicletas, o principal meio de transporte familiar nesta zona.
Foto: DW/M. Mueia
Longe da escola
Os jovens que trabalham aqui contam que não puderam estudar por falta de condições financeiras. A maioria não concluiu o ensino primário.
Foto: DW/M. Mueia
Areia para a região
A areia do tipo "mina" é extraída e, depois, vendida a camionistas. O número de clientes cresce durante o verão.
Foto: DW/M. Mueia
À espera do camião
Estima-se que, todos os dias, mais de 30 veículos pesados entram na região de extração de areia. A atividade rende diariamente à Associação dos Garimpeiros de Nicoadala entre 20 a 35 mil meticais (entre 280 e 490 euros). O valor é acumulado durante uma semana para posteriormente ser distribuído pelos 26 associados.
Foto: DW/M. Mueia
Contas em dia
Membros da Associação dos Garimpeiros de Nicoadala: na foto, à frente, o presidente da associação, João Mariano (direita) e o fiscal Bito Lucas (esquerda), que tem a função de passar faturas e receber o dinheiro dos camionistas.
Foto: DW/M. Mueia
Preços da areia
O valor da areia é fixo, segundo os "garimpeiros": no terreno, os camionistas compram 1.600kg de areia a 500 meticais (o equivalente a sete euros), mas o valor dispara na revenda. A mesma quantidade de areia é revendida na cidade de Quelimane a 8.000 meticais (mais de cem euros).
Foto: DW/M. Mueia
A caminho da cidade
A areia é transportada pelos camionistas até à cidade de Quelimane, na província moçambicana da Zambézia. A maioria dos imóveis na região é construída com areia de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Blocos de cimento e areia
Para produzir blocos de construção, é preciso juntar um saco de cimento de 50kg a 80kg de areia. Aos poucos, coloca-se água e vai-se misturando com uma pá durante 30 minutos. A massa final é posta em pequenas máquinas manuais para moldar o bloco.
Foto: DW/M. Mueia
Cenário desolador
Para trás, fica um cenário desolador. Estes são os efeitos secundários da extração de areia. Áreas que eram mais elevadas estão agora assim, com pequenas lagoas e vastas planícies. Já foram retiradas dezenas de toneladas de areia para construir edifícios em Quelimane, incluindo edifícios de instituições públicas, no próprio distrito de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Terrenos impróprios
Zonas anteriormente exploradas pelos "garimpeiros" não servem para a prática de agricultura nem para a pastagem de gado. Isso por serem consideradas áreas de difícil acesso em época de chuvas, com solos bastantes arenosos.
Foto: DW/M. Mueia
Para camionistas, parar não é solução
Os camionistas dizem estar conscientes do perigo ambiental, mas sublinham que não têm outra alternativa. Sem este negócio, muitas famílias passariam mal e "deixaria de haver a construção de habitações convencionais", frisa o camionista Carlos Manuel, que diz que quem mais lucra com o negócio são os proprietários das viaturas.