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"O meu marido é defensor dos direitos humanos e mais nada"

António Rocha4 de maio de 2015

Os ativistas José Mavungo e Arão Tempo completam no sábado (09.05) 60 dias de prisão preventiva, depois de no passado dia 28 de abril ter esgotado o prazo máximo de prisão preventiva de 45 dias.

Prisão em Luanda, capital de AngolaFoto: António Cascais

Os ativistas de Cabinda, José Marcos Mavungo e Arão Bula Tempo, continuam presos, apesar de os primeiros 45 dias de prazo máximo para a prisão preventiva terem terminado no passado dia 28 de abril. Os dois ativistas estão indiciados, mas ainda sem acusação formal, por alegados crimes contra a segurança do Estado.

Delfina Mavungo, esposa de Marcos Mavungo, numa entrevista exclusiva à DW África, lamenta a prisão dos ativistas e sublinha que até hoje não compreendeu o porquê de se encontrarem detidos, se o único crime que cometeram foi defender os direitos do povo de Cabinda.

DW África: Para quando a libertação do seu marido, o ativista Marcos Mavungo, que em breve vai completar 60 dias de prisão preventiva?

Delfina Mavungo (DM): O Procurador da República foi à prisão e disse aos ativistas, entre eles o meu marido, que até ao momento não tem uma resposta concreta para os libertar e que por enquanto não pode dizer nada. As autoridades pediram ao meu marido o relatório do hospital onde esteve há alguns dias atrás, para que fosse anexado ao seu processo. Para além disso não lhe foi dito mais nada.

DW África: Como está a ser apoiada pela sociedade civil para que ultrapasse este mau momento que está a viver e para que não se sinta moralmente tão deprimida?

DM:
Elementos da sociedade civil de Cabinda dão-me por vezes algum dinheiro para a alimentação dos meus filhos. Antes alguns ativistas vinham aqui a casa visitar-nos, mas ultimamente desapareceram.

DW África: Será que os ativistas estão com medo de serem presos?

DM: Pode ser. Tudo é possível. Há duas semanas dois ativistas foram presos e libertados três dias depois. Talvez tenham medo e por isso tenham deixado de vir aqui a nossa casa.

DW África: E a senhora Delfina tem visitado o seu marido na prisão?

DM: Sim, sim vou todos os dias, principalmente para lhe levar o almoço.

DW África: E quando está com o seu marido, o Dr. Marcos Mavungo, que mensagem lhe transmite?DM: Principalmente uma mensagem de confiança de que tudo vai terminar bem. Ele diz sempre que aceita o sofrimento que está a viver porque não cometeu nenhum crime. É inocente. Quando há dias fui visitá-lo levei as nossas crianças e o Marcos explicou-lhes que o seu papá está na cadeia por ter falado a verdade. E repetiu que não fez nada de mal e está à espera de ver o que é que o Governo vai dizer para justificar a sua prisão.

Província angolana de Cabinda rica em petróleoFoto: Wikipedia

DW África: E como é que o ativista Marcos Mavungo está a enfrentar a sua prisão preventiva?

DM: No aspeto da saúde a situação é difícil e preocupante. Há algumas semanas atrás teve um problema cardíaco sério e foi levado para o hospital. Isso foi devido às condições em que se encontra detido, porque essas condições não lhe permitem qualquer tipo de recuperação. Ele esteve numa sala de recuperação do hospital mas depois teve que regressar à prisão. Para terem uma ideia, os ativistas presos (Marcos Mavungo, o advogado Arão Tempo e um outro senhor) estão num corredor da prisão muito abafado, sem ventilação e sem condições. Mas eles não podem fazer nada... Mesmo pedindo a sua transferência para um outro local, ninguém vai aceitar. A solução seria o Marcos Mavungo sair da cadeia e continuar os tratamentos cá fora, mas assim a cada dia que passa a sua saúde deteriora-se...

DW África: E ele continua a tomar os medicamentos para controlar melhor a sua tensão arterial e continua a ser visto pelos médicos?

DM:
Os medicamentos terminaram há alguns dias e uma das vezes em que uma médica, a Dra. Carlota, passou por lá, ao fazer o controle da tensão arterial ficou muito preocupada porque o Marcos estava com muitas dores de cabeça provocadas por uma tensão arterial muito alta. Também o caso não era para menos: o local onde estão (o corredor) está cheio de bandidos e de outras pessoas condenadas por delitos vários, e eles fazem muito barulho durante o dia todo, é uma confusão total e o meu marido assim não consegue recuperar. Na altura, a tal médica deu-lhe dois comprimidos que fizeram baixar a tensão. Regularmente pergunto-lhe como se está a sentir e ele responde-me sempre “mais ou menos...mas recuperar nesta barafunda está a ser muito difícil”.

DW África: A dona Delfina compreende esta detenção do seu marido?

DM:
Nem sei como explicar. O que sei é que o meu marido é defensor dos direitos humanos em Cabinda e sempre defendeu o povo daqui.

DW África: Mas isso não é crime.

DM:
As autoridades de Angola acham que isso é um crime. Ele sempre trabalhou para a defesa dos direitos dos cidadãos de Cabinda, sempre tentou explicar aos governantes de Angola o descontentamento que paira no seio da população de Cabinda e como tentar ultrapassar esta situação com base no respeito pelos anseios desse mesmo povo. Isso não é crime aqui nem em nenhuma parte do mundo.

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