O presidente do município da Beira, Daviz Simango, classificou neste sábado (23.01) o ciclone Eloise como "devastador" para a cidade costeira do centro de Moçambique. Pelo menos 200 mil pessoas podem ser afetadas.
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O presidente do município da Beira, Daviz Simango, afirmou que "o ciclone Eloise foi devastador"e sublinhou que a tempestade da provocou inundações bem antes de atingir o município de meio milhão de habitantes, uma das principais cidades moçambicanas.
Ainda assim, e apesar do lixo acumulado nas valas de drenagem, "o escoamento de águas está a funcionar e a maré está baixa", o que vai ajudar a aliviar as zonas mais alagadas, detalhou.
O levantamento pormenorizado dos prejuízos ainda decorre, mas está claro que o ciclone "destruiu infraestruturas, muitas casas ficaram sem teto e houve paredes que desabaram", provocando pelo menos duas mortes em Inhamiza, referiu o autarca.
Segundo Simango, houve relato de outras três mortes que, após averiguações, não estavam relacionadas com o ciclone.
O presidente do município diz, entretanto, não ter ainda informação sobre o bairro da Munhava, onde relatou-se duas mortes por desabamentos e uma outra devido a material ferroviário deslocado pelo vento.
Luísa Meque, diretora-geral do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD), referiu neste sábado (23.01), ao final de uma reunião do comité de emergência provincial, que estavam confirmados nove feridos, um com gravidade.
Segundo referiu, a informação que recebeu durante o dia de hoje era preliminar, sendo prematuro avançar dados sobre danos.
Trabalhos continuam para restabelecer a normalidade no fornecimento de eletricidade e telecomunicações.
"Continuamos a alertar"
Já não haverá vento destruidor, mas Daviz Simango renova o apelo à prevenção: "Continuamos a alertar a população para a chuva forte" que ainda pode cair nos próximos dias.
Depois de entrar em terra durante a madrugada junto à cidade de Beira, oriundo do Canal de Moçambique, no oceano Índico, o ciclone Eloise perdeu intensidade e regrediu para o grau de tempestade moderada, mas arrasta precipitação intensa, avançando pelo sul do Zimbabué.
Prevê-se que a depressão condicione o estado do tempo durante os próximos dias, provocando forte precipitação no sul do país, incluindo a capital, Maputo.
O serviço de Operações Humanitárias e de Socorro da União Europeia (ECHO, sigla em inglês) previu que 200 mil pessoas no centro e sul Moçambique possam ser afetadas por inundações nos próximos dias.
Ciclones em Moçambique: Agora, a reconstrução
A cidade da Beira recebe durante dois dias a conferência internacional de doadores, após os ciclones Idai e Kenneth. Os ciclones afetaram mais de 1,5 milhões de pessoas. Este é um retrato de um país abalado.
Foto: Lena Mucha
Ajuda chega à Beira
Helena Santiago, de 53 anos, trabalha nos escombros da sua casa no bairro dos CFM - Maquinino, na Beira, onde vive com o marido e oito filhos. A sua casa não resistiu ao ciclone Idai. A conferência internacional de doadores que começa esta sexta-feira (31.05) na Beira poderá ser uma esperança para muitos afetados como Helena Santiago, pois uma das metas é a reconstrução.
Foto: Lena Mucha
Beatriz
Beatriz é fotografada com três dos sete filhos em frente ao seu campo de milho devastado. A sua aldeia natal, Grudja, esteve dias a fio debaixo de água. Beatriz e os filhos conseguiram salvar-se das enchentes que surpreenderam os moradores na manhã de 15 de março. Durante três dias, as pessoas ficaram à espera de ajuda no telhado da escola ou em cima das árvores, ou até que a água baixasse.
Foto: Lena Mucha
Centro de saúde destruído
Pacientes e crianças estão à espera de serem atendidos por uma equipa de emergência em frente ao centro de saúde de Grudja. O centro foi completamente destruído pelas inundações. Medicamentos e materiais de tratamento ficaram inutilizáveis devido à água.
Foto: Lena Mucha
Salvação
No telhado da escola primária Nhabziconja 4 de Outubro, muitas das pessoas salvaram-se das inundações. Algumas semanas depois do desastre, esta escola conseguiu retomar as aulas. Muitas outras escolas, no entanto, continuam fechadas.
Foto: Lena Mucha
Regina
Regina trabalha com a sogra, Laina, na sua propriedade. Antes da passagem do ciclone, Regina morava com o marido e os cinco filhos numa aldeia próxima de Grudja. As inundações destruíram a sua casa e as plantações. Ela e o marido refugiaram-se em cima de uma árvore e sobreviveram. Alguns dos seus filhos morreram nas inundações, outros ainda estão desaparecidos.
Foto: Lena Mucha
No Revuè
O rio Revuè, na localidade de Grudja, transbordou devido às fortes chuvas após o ciclone, inundando grande parte das terras circundantes. Nesta foto, tirada depois do nível da água ter voltado ao normal, estas mulheres lavam a roupa nas margens do rio.
Foto: Lena Mucha
Campos arruinados
Nesta imagem, as jovens Elisabete Moisés e Victória Jaime e Amélia Daute, de 38 anos, estão num campo de milho arruinado. Como muitos outros, tiveram que esperar vários dias nos telhados de Grudja depois das fortes chuvas, em meados de março. 14 dos seus vizinhos, incluindo 9 crianças, afogaram-se durante as inundações.
Foto: Lena Mucha
Escola primária tornou-se hospital
Mulheres e crianças estão à espera de tratamento médico, dado por uma equipa de emergência numa escola primária no distrito de Búzi, a oeste da cidade costeira da Beira. O ciclone Idai atingiu a costa moçambicana nesta cidade de cerca de 500 mil habitantes no dia 15 de março.
Foto: Lena Mucha
Fila para sementes
Em muitas partes do país, as plantações ficaram destruídas pelas enchentes. Durante um ano, pelo menos 750 mil pessoas deverão ficar dependentes de alimentos, segundo estimativas do Programa Alimentar Mundial. Em Cafumpe, no distrito de Gondola, 50 famílias receberam sementes de milho, feijão e repolho da organização de assistência alemã Johanniter e da ONG local Kubatsirana.
Foto: Lena Mucha
Reconstrução
Em Ponta Gea, na Beira, regressa-se à vida quotidiana. Muitas infraestruturas foram destruídas pelo ciclone. Nesta foto, cabos de energia destruídos e linhas telefónicas estão a ser reparados. Mas, a poucos quilómetros daqui, aldeias inteiras precisarão de ser reconstruídas. Em muitos sítios, ainda falta água e alimentos.