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PolíticaAlemanha

Desastre eleitoral do Governo alemão nas eleições estaduais

Sabine Kinkartz
2 de setembro de 2024

Todos os partidos que formam a coligação governamental na Alemanha obtiveram menos de 10% dos votos, cada, nas eleições estaduais do domingo na Saxónia e na Turíngia.

Os Verdes reunidos nas eleições da Saxónia
Na Turíngia, Os Verdes obtiveram menos de 5% dos votos e estão fora do ParlamentoFoto: Hendrik Schmidt/dpa/picture alliance

As eleições estaduais na Turíngia e na Saxónia não têm só um significado regional.

Em primeiro lugar, porque, pela primeira vez numa eleição nacional desde a Segunda Guerra Mundial, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve mais de um terço dos votos, vencendo inclusive na Turíngia. Em segundo lugar, porque nunca antes os partidos que formam o Governo federal em Berlim obtiveram, em conjunto, resultados tão fracos em eleições estaduais.

79% dos alemães insatisfeitos com o Governo federal

Tanto na Saxónia como na Turíngia, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve mais do que o dobro do total de votos dos partidos que formam a coligação governamental - os sociais-democratas (SPD), os Verdes e os liberais do FDP. Os resultados obtidos individualmente por estes partidos não foram além dos 10% dos votos e, em alguns casos, nem sequer foram suficientes para que permaneçam nos parlamentos estaduais - como é o caso do FDP e do partido Os Verdes na Turíngia.

Será que os eleitores quiseram dar uma lição ao Governo federal?

Quatro em cada cinco alemães estão insatisfeitos com o trabalho do Executivo do chanceler Olaf Scholz, e não apenas nos últimos meses. No barómetro mensal "DeutschlandTrend" da emissora pública ARD, o chanceler e os seus ministros têm sido regularmente mal avaliados.

O chanceler alemão Olaf Scholz (centro) e o seu Governo de coligação foram castigados nas eleições estaduaisFoto: Ben Kriemann/PicOne/picture alliance

Deportações de última hora não ajudaram

As eleições estaduais trouxeram um "sucesso eleitoral histórico" para a AfD, disse a presidente nacional do partido, Alice Weidel, na noite das eleições.

"Ao mesmo tempo, é também um castigo e um 'requiem' para a coligação semáforo, que se deve interrogar se pode continuar a governar," acrescentou.

A coligação governamental é acusada de estar fragmentada e ser incapaz de agir. O líder dos Verdes, Omid Nouripour, admitiu na noite das eleições que o partido teria de "olhar para os seu próprio umbigo".

A resposta rápida do Governo ao ataque com uma faca na cidade de Solingen, pouco antes das eleições estaduais, não parece ter melhorado a performance eleitoral de domingo dos partidos do Executivo. Foram anunciadas políticas de migração e de segurança mais apertadas e 28 pessoas acusadas de crimes foram deportadas para o Afeganistão.

Evitar problemas antes das próximas eleições

Depois da Saxónia e da Turíngia, a 22 de setembro haverá eleições no estado de Brandemburgo, no leste da Alemanha. A AfD também lidera as sondagens, mas é seguida de perto pelo SPD. Os sociais-democratas têm muito em jogo.

Desde 1990, são eles que lideram o governo na região. "Espero que todos façam agora um esforço ainda maior do que até então", avisou o presidente do SPD, Lars Klingbeil, na noite das eleições em Berlim. É preciso lutar em conjunto para recuperar os votos. "Todos têm de fazer agora a sua parte para melhorar as coisas".

Alice Weidel: "É um sucesso histórico para nós"Foto: Emmanuele Contini/IMAGO

Período de graça para Scholz

Apesar dos fracos resultados nestas eleições estaduais, o chanceler alemão Olaf Scholz continuará a contar com o apoio do seu partido, garantiu a direção do SPD, acrescentando que irá para as próximas eleições federais em 2025 com Scholz ao leme.

No entanto, este consenso pode mudar abruptamente se falhar a reeleição de Dietmar Woidke, governador de Brandemburgo há onze anos. Nesse caso, os rumores no seio do SPD poderiam tornar-se mais fortes para fazer de Boris Pistorius, o muito mais popular ministro da Defesa, o candidato a chanceler nas eleições federais de setembro de 2025, em vez de Scholz.

O secretário-geral dos sociais-democratas, Kevin Kühnert, defende que o seu partido ainda pode inverter o jogo.

"Havia um perigo real de sermos expulsos dos parlamentos estaduais. A mensagem para o meu partido é que vale a pena lutar, somos necessários e há pessoas que naturalmente querem as nossas políticas", avaliou.

O Orçamento do Estado para o próximo ano, que tem de ser aprovado pelo Parlamento alemão, é uma potencial fonte de conflito dentro da coligação governamental, mas não é a única. Resta saber se o Governo conseguirá implementar o endurecimento da política de migração já anunciado - há certamente vozes críticas nas alas esquerdistas do SPD e dos Verdes que não concordam com as resoluções.

Conservadores aumentam pressão

As últimas sondagens indicam que nenhum dos três partidos do Governo conseguiria maioria absoluta numa eleição geral antecipada. Os vencedores seriam a AfD e a coligação dos conservadores CDU/CSU.

A União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU), a maior força da oposição no Bundestag, apela à demissão do Governo há já algum tempo. E na noite das eleições, o secretário-geral da CDU, Carsten Linnemann, voltou a criticar os partidos governamentais.

"Só posso dizer que o nosso resultado é muito bom e que os partidos da coligação foram castigados. Com um partido de um chanceler que tem menos de 10% dos votos em ambos os estados do Leste tem de se perguntar se ainda está a fazer política para o povo na Alemanha", enfatizou.

A coligação CDU/CSU deverá aumentar a pressão sobre o Governo federal. Atualmente, não só exige que as alterações à política de migração sejam implementadas rapidamente, como também pressiona para que sejam mais rigorosas.

À lupa: A extrema-direita pode vencer no leste da Alemanha?

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