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O desemprego está mesmo a baixar em Angola?

11 de fevereiro de 2021

O Governo e o Instituto Nacional de Estatística garantem que o número de desempregados baixou em pleno ano pandémico. Porém, nas ruas de Luanda, os jovens dizem que a realidade é outra, como constatou o repórter da DW.

Foto: Getty Images/AFP/A. Jocard

O Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola informou, no final de janeiro, que a taxa de desemprego no quarto trimestre de 2020 caiu 3,7% face ao período homólogo de 2019. Na altura, as duas centrais sindicais angolanas contradisseram esses dados oficiais.

Já esta semana, o secretário de Estado da Economia, Mário Caetano João, anunciou que foram criados milhares postos de trabalho desde 2019. "Com as aprovações que são feitas ao nível da banca comercial, um conjunto de projetos em 2019 trouxe uma perspetiva de 5.700 postos de trabalho", afirmou.

António Manuel, vendedor ambulante em Luanda, AngolaFoto: Manuel Luamba/DW

"Em 2020 foram mais de 35 mil e desde o início do ano temos cerca de quatro mil postos criados. [...] Portanto, desde 2019, temos já um acumulado de cerca de 45 mil empregos criados", garantiu.

Mas o que se vê na rua?

A realidade em Luanda é outra, onde cresce a desconfiança em relação aos dados avançados pelo Governo. 

António Manuel é vendedor ambulante, ou zungueiro, e não acredita nos números avançados pelas entidades públicas. "Para mim é uma mentira", frisou. "Se fosse mesmo isso que estão a dizer não estaríamos aqui [na zunga] a essa hora. Até mesmo porque [os empregos] que foram criados são só para eles, entre eles."

Há muito que António Manuel procura emprego, mas sem sucesso. "Por isso estou a fazer este trabalho de venda ambulante para poder levar alguma coisa para casa", justifica-se.

Inocêncio Domingos Zeca, residente em Luanda, também se dedicou à venda informal de pequenos bolos. "Tenho estado a procurar, mas o emprego que eu encontro é mesmo só esse de venda ambulante", refere o jovem que ganha cerca de 300 kwanzas por dia (menos de 0,40 euros) e que folga apenas à sexta-feira.

Os lucros da venda na rua não são nada por aí além, mas Inocêncio Domingos Zeca explica à DW África que "aos poucos" vai dando para sustentar a família. "[O dinheiro] chega a casa e compra pão de 500 kwanzas [cerca de 0,63 euros]. Independentemente da quantidade de pessoas que há em casa", explica.

Inocêncio Domingos Zeca, vendedor de rua em Luanda, AngolaFoto: Manuel Luamba/DW

Desespero

Tal como António e Inocêncio, muitos outros jovens estão nas ruas de Luanda a fazer os possíveis para ganhar dinheiro. De uma coisa têm a certeza: falta emprego. E muitos já entraram numa situação de desespero.

António Manuel prefere não comentar sobre se tem, de facto, esperança em conseguir emprego algum dia.  

"Prefiro não falar disso. É sério, prefiro não falar disso", reitera.

Mas Inocêncio Domingos Zeca admite acreditar num futuro melhor. "Esperança é coisa que não nos falta. Há muita esperança até porque confiamos em Deus e a nossa vida irá mudar [algum dia]", disse.

Em 2017, durante a campanha eleitoral das eleições gerais ganhas pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o atual Presidente da República, João Lourenço, prometeu a criação de 500 mil postos de trabalho durante o seu mandato. No entanto, não se sabe ao certo quantos já foram criados. 

O país continua a ser assolado por uma crise económica e financeira resultante da baixa do preço do petróleo no mercado internacional, situação que tem sido agravada pela pandemia da Covid-19.

A vida das vendedoras de rua em Moçambique

02:43

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