O fracasso da MONUSCO na República Democrática do Congo
Martina Schwikowski | af
15 de junho de 2023
O recente massacre de deslocados no leste da República Democrática do Congo (RDC) comprova que os esforços de pacificação militar não estão a resultar. Mais uma vez, o fim da missão de paz da ONU volta a ser anunciado.
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O leste da RDC vive há vários anos um conflito que envolve vários grupos de rebeldes na região e as tropas governamentais e que já provocou a morte de milhares de pessoas.
No último domingo (11.06), 46 pessoas, metade das quais crianças, morreram quando um grupo de atacantes invadiu o campo de deslocados internos de Lala, na província de Ituri, no nordeste do país.
As autoridades locais e as organizações civis culpam a Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codéco) pelo ataque.
"Entraram neste local e massacraram várias pessoas com catanas e armas de fogo. Outras pessoas foram degoladas e incendiaram as cabanas dos deslocados", conta Richard Dheda, administrador do distrito de Bahema Badjere.
No sábado (10.06), outras sete pessoas morreram num ataque a uma posição do exército na região, o que voltou a semear o medo na população da província de Ituri, que faz fronteira com o Uganda.
Sociedade civil exige proteção do Estado
"A nossa preocupação tem a ver com o Estado congolês, que deveria proteger a população e os seus bens, mais que não o tem feito", afirma Dieudonné Lossadhekana, da federação das organizações da sociedade civil de Ituri.
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Mais de 8.500 pessoas vivem no centro de deslocados de Lala, por isso que Lossadhekana clama por mais segurança no local. "Gostaríamos que o Estado mostrasse o seu poder e capacidade", sublinha.
Jules Ngongo porta-voz do exército em Ituri, garante que "as Forças Armadas da RDC tomaram medidas úteis para lidar com qualquer pessoa que se oponha à paz".
A 1 de junho, várias milícias ativas na região, incluindo a Codéco, assinaram um acordo para depor as armas, mas os recentes ataques põem em causa o referido entendimento.
Missão dos capacetes azuis falhou
Há dois anos, o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, declarou o estado de emergência nas províncias do Kivu do Norte e de Ituri, com o objetivo de pôr fim aos grupos armados na região e garantir a proteção de civis.
Há 24 anos que o exército congolês conta com o apoio da Missão de Estabilização das Nações Unidas na RDC (MONUSCO) para tentar derrotar os rebeldes no leste do país. Mas a situação no terreno continua a ser dramática.
Mesmo sendo uma das maiores missões de manutenção da paz do mundo e atualmente com 12.800 dos 20.000 soldados iniciais, a MONUSCO não consegue estabilizar o leste do Congo. Qual será o motvo?
"A MONUSCO falhou em grande parte porque o seu destacamento não teve um impacto significativo na segurança ao longo dos últimos dez anos e não é capaz de fazer a diferença no cenário de guerra que prevalece atualmente no leste do Congo", responde Richard Moncrief, diretor para a região dos Grandes Lagos da Internacional Crisis Group.
Ataques terroristas espalham medo no leste da RDC
02:11
Fim da MONUSCO aproxima-se
Neste momento, a República Democrática do Congo pondera dispensar o apoio da MONUSCO. Para Alex Vines, diretor do programa para África do grupo de reflexão Chatham House, esta não é a solução.
Mas compreende que, "por ser um ano eleitoral, o governo do Presidente Tshisekedi está a fazer da operação da MONUSCO e da ONU bodes expiatórios para justificar as suas próprias falhas. Mas a realidade é que as tropas da RDC estão mal equipadas".
Sem sucessos com a MONUSCO, o Governo congolês pediu apoio militar da Comunidade da África Oriental, mas em vão. Em maio, o Presidente Félix Tshisekedi acusou as forças armadas da África Oriental de colaborarem com "o inimigo", nomeadamente "os terroristas do M23", e anunciou que o destacamento seria retirado. E já está a negociar o apoio militar com a Comunidade de Desenvolvimento da África AustraL (SADC).
O dia-a-dia no leste do Congo
Há cinco anos, os rebeldes do M23 invadiram Goma, no leste da República Democrática do Congo. Na região multiplicavam-se os confrontos entre o grupo e o exército congolês e milícias de autodefesa. Hoje é muito diferente.
Foto: DW/Flávio Forner
Amanhece em Goma
Amanhece cedo em Goma, a capital de Kivu do Norte, no leste da RD Congo. As ruas enchem-se de comerciantes e do vaivém das motos. Esta é uma área de comércio junto à fronteira com o Ruanda. Muitos congoleses e ruandeses atravessam diariamente a fronteira para compras e trabalho. Goma vive um relativo clima de paz desde que o grupo rebelde de origem tutsi M23 foi desmantelado em 2013.
Foto: DW/Flávio Forner
Peixes do Lago Kivu
Ao nascer do sol, começa a azáfama em Goma. Nesta foto, mulheres colocam ao sol peixes frescos do Lago Kivu para preparar a refeição do dia num abrigo que acolhe crianças e adolescentes que estiveram envolvidos em grupos armados no leste do Congo. O abrigo fica num subúrbio de Goma, numa área populosa chamada Keshero.
Foto: DW/Flávio Forner
Trabalho de braços
O sol está a pique, mas o trabalho não pára. Junto à vila de Sake, trabalhadores retiram areia de um canteiro em redor da base militar da Missão de Paz das Nações Unidas na República Democrática do Congo, a MONUSCO. A vila de Sake, com uma população empobrecida, fica a uma hora (25km) a leste de Goma. Muitos dos seus habitantes dependem do comércio na cidade.
Foto: DW/Flávio Forner
Estrada de volta à vida
Estrada de terra que liga Goma a Kiwanja. Camiões cheios de trabalhadores e militares percorrem diariamente os 70km que separam as duas cidades. O trajeto demora em média quatro horas. Há menos de cinco anos, a estrada que corta a zona sul do Parque Nacional Virunga era extremamente perigosa devido aos ataques das milícias Mai-Mai e do grupo rebelde M23.
Foto: DW/Flávio Forner
Estradas esburacadas
Área rural junto à vila de Sake. As estradas que ligam as vilas e as cidades em Kivu do Norte estão esburacadas. Só veículos todo-o-terreno são capazes de passar por aqui, mesmo para trajetos curtos. Nesta foto, uma carrinha transporta passageiros e, no tejadilho, um homem aconchega-se entre um colchão e maços de folhas de mandioca que são vendidas em mercados em Goma.
Foto: DW/Flávio Forner
Fonte de sustento
Mulheres e crianças vendem folhas de mandioca na beira da estrada. A cidade de Kiwanja é circundada por áreas de cultivo de legumes. Muitas famílias dependem da venda de alimentos para garantir o seu sustento.
Foto: DW/Flávio Forner
Trabalho social
Militares do Batalhão de Operações Especiais da Guatemala, que integram a Missão de Paz da ONU no Congo, ajudam igrejas e centros comunitários na vila de Sake, a 25km de Goma. As crianças da vila recebem material escolar e brinquedos.
Foto: DW/Flávio Forner
Desnutrição infantil e materna
Bebés que sofrem de desnutrição são internados no Hospital Muungano La Résurrection, nos arredores de Goma. O hospital depende de doações e tem falta de medicamentos e suplementos alimentares. Muitas mães também estão desnutridas e chegam a ficar internadas dez dias.
Foto: DW/Flávio Forner
No hospital
Nos corredores do Hospital Panzi, em Bukavu, capital de Kivu do Sul. Fundado pelo conhecido ginecologista congolês Denis Mukwege, o hospital fica na zona de Ibanda e tornou-se uma referência no tratamento de vítimas de violência sexual e reparação de fístulas obstétricas. Desde que foi fundado em 1999, a equipa médica já tratou 85.000 pacientes, incluindo 50.000 vítimas de violência sexual.
Foto: DW/Flávio Forner
Festa no hospital
Este adolescente congolês vestiu-se a rigor para participar nas atividades culturais do Hospital Heal Africa, no centro de Goma. Esta foto foi tirada no Dia Internacional da Criança Africana (16 de junho). O hospital promoveu neste dia uma série de apresentações de dança e teatro.
Foto: DW/Flávio Forner
Publicidade "VIP"
Nas ruas de Bukavu, Kivu do Sul, destaca-se a publicidade de um cabeleireiro para homens. O 'Salon VIP' tem nas paredes uma pintura com o rosto de Patrice Lumumba (à esq.) e Nelson Mandela (à dir.). Mandela simbolizou a luta anti-apartheid na África do Sul; Lumumba foi o pai da independência do Congo Belga e primeiro-ministro do recém país independente, tendo sido assassinado em 1961.
Foto: DW/Flávio Forner
De volta da escola
De uniforme, Pierre de 7 anos exibe o seu manual escolar e uma garrafa de plástico que serve como estojo para guardar os lápis. Tinha acabado de regressar da escola e seguia a pé para a sua casa na pequena vila de Mumosho, no interior de Kivu do Sul. O ensino público no Congo não é gratuito. Para manter uma criança na escola, as famílias têm de conseguir pagar cerca de 300 dólares por ano.
Foto: DW/Flávio Forner
Curso para mulheres no interior
Mulheres participam em cursos de empreendedorismo na vila de Mumosho, a 50 minutos de Bukavu. Muitas sofreram violência doméstica e abriram agora o seu próprio negócio, ganhando dinheiro com atividades artesanais e agricultura. Os cursos são oferecidos pela organização Women for Women International, que também realiza sessões para homens da comunidade com debates sobre o respeito pelas mulheres.
Foto: DW/Flávio Forner
Futebol em Goma
Os congoleses amam futebol. Ao final da tarde, depois do trabalho, muitos reúnem-se em campos de terra batida em bairros próximos do centro de Goma para jogar partidas de futebol.
Foto: DW/Flávio Forner
Missão de Paz
Capacetes azuis da MONUSCO são responsáveis por patrulhar as ruas de Goma. Esta foto foi tirada no alto do Monte Goma, no centro da cidade. O Uruguai tem uma base militar no topo da colina, um ponto estratégico. Ao fundo fica o vulcão Nyiragongo, 20 km a norte da cidade - o vulcão mais ativo de África. A sua última erupção foi em 2002 e arrasou Goma.
Foto: DW/Flávio Forner
Uma geração de crianças de rua
Centenas de crianças de rua deambulam pelas ruas de Goma. Segundo os Médicos Sem Fronteiras (MSF), há mais de 2.000 crianças sem tecto, muitas delas perdidas ou abandonadas pelas famílias, que vivem de esmolas e roubos. De dia, vagueiam pelas ruas do centro e, de noite, abrigam-se em terrenos baldios ou debaixo dos buracos de esgoto das principais rotundas.
Foto: DW/Flávio Forner
Clínica móvel para crianças de rua
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) têm uma clínica móvel, o 'Bobo Mobile', para atender os meninos órfãos ou que foram expulsos de casa. "Goma é um hub humanitário, mas surpreendeu-me que não havia nenhum projeto dedicado às crianças de rua", disse Carla Melki, coordenadora deste projeto dos Médicos Sem Fronteiras na RDC (República Democrática do Congo).
Foto: DW/Flávio Forner
Inspiração para os mais novos
De farda e boina cobrindo os dreadlocks, o artista congolês Wanny S-king conversa com crianças de rua em Goma. O rapper costuma dedicar-lhes canções. Conhecido entre os mais novos, Wanny é dos poucos que, sem medo, lida diariamente com eles e faz concertos, divulgando uma mensagem de paz. Inspirados pelo rapper, muitos começaram a compor letras e sonham ter a sua própria banda.