O dinheiro da China é um dos grandes motores da economia africana. Mas o comportamento discriminatório de alguns chineses em África não agrada aos locais. Analistas criticam passividade das autoridades.
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Nos últimos anos, a China tornou-se um parceiro-chave no desenvolvimento do continente africano. Seja na construção de hospitais, estradas, estádios ou centrais de energia, o dinheiro vem principalmente do gigante asiático.
Muitos dos trabalhadores dos mega-projetos em África são cidadãos chineses que além da sua força de trabalho trazem na bagagem culturas e perspectivas políticas distintas. E isto dá origem a conflitos, com a rotina diária muitas vezes marcada pela discriminação.
A linha Madaraka Express, um projecto ferroviário no Quénia, é um dos investimentos da China no continente. Há um ano que faz a ligação entre a capital, Nairobi, e o porto de Mombasa, o maior da África Oriental. É o maior projecto de infraestrutura no Quénia, desde que se tornou independente do Reino Unido, em 1963.
No entanto, a fase de construção da linha ferroviária esteve várias vezes nas primeiras páginas dos jornais devido a alegações de racismo. Jornalistas quenianos expuseram casos de trabalhadores chineses que se recusavam a sentar-se à mesa com os colegas africanos à hora de almoço. Insultos e humilhação eram o prato do dia.
Outros valores, outras visões
A queniana Elizabeth Horlemann vê este comportamento de alguns cidadãos chineses como um fator cultural. "Não têm em consideração as diferenças culturais. São nossos convidados, mas orientam-se fortemente segundo a sua própria ideologia, causando problemas", explica a formadora intercultural, a viver na Alemanha.
Muitas vezes, os chineses trabalham sem fazer intervalos. E têm uma mentalidade hierárquica, "faz o que o chefe diz", diz Horlemann. Além disso, lembra o analista político Steve Tsang, os próprios chineses trabalham em condições precárias nos sectores mineiros e de construção civil em África - e isso também dá origem a conflitos.
O diretor do Instituto China no Centro de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidade de Londres sugere que a doutrina política na China pode ter também influência: "Neste momento, o partido não está a promover o multiculturalismo. O partido comunista está a promover uma identidade chinesa, uma cultura chinesa", diz Steve Tsang.
Sanções inexistentes
A China é um dos países mais homogéneos em todo o mundo. Cerca de 92% da população pertence à etnia Han, com apenas 0,04% nascidos fora do país.
"Se és ensinado segundo uma identidade chinesa, uma civilização chinesa, uma cultura chinesa, então estás a ser levado numa direção essencialmente xenófoba", considera Tsang.
O lado racista da presença chinesa em África
Os chineses não são apenas convidados, também trazem dinheiro, sublinha Elizabeth Horlmann. É umas das razões pelas quais o Quénia, tal como outros governos africanos, mostra relutância em agir contra os comportamentos desrespeitosos dos asiáticos. "O sentimento entre muitos quenianos não é bom. Temem que o país tenha sido vendido aos chineses", diz Horlemann.
O Governo da China, por sua vez, também não toma medidas significativas perante o racismo dos seus cidadãos. Steve Tsang não está surpreendido: "O Governo chinês preocupa-se com as relações comerciais com os governos africanos, mas não com as pessoas que têm de lidar com as consequências no seu quotidiano. Deixam essa questão para as autoridades africanas".
Atitudes enraizadas
Os trabalhadores africanos são as principais vítimas - muitas vezes, não sabem como se defender da discriminação e que meios legais têm ao seu dispor, lembra Steve Tsang. Se houvesse mais denúncias, talvez o "fator vergonha" entrasse em acção, levando os cidadãos chineses em África a ajustar a sua forma de pensar.
Um exemplo da necessidade de ajustamento está na província de Guangdong, no sul da China. Na capital, Guangzhou, vivem cerca de 16 mil africanos – a maior população negra da Ásia – e isto obrigou a China a confrontar a sua própria xenofobia. Há encontros e trocas de experiências, mas, apesar de tudo, o racismo ainda é generalizado. "Isto revela como a China lida com as minorias", diz Tsang.
A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Ponte que liga Maputo a Katembe foi inaugurada no sábado, 10 de novembro de 2018. Tem cerca de três quilómetros de extensão. Muitas famílias foram realojadas para dar espaço a este projeto no sul de Moçambique.
Foto: DW/R. da Silva
Do lado de Maputo
Esta parte da ponte passa por cima da zona onde se localizam muitas fábricas na baixa da capital, mais descaído para a parte ocidental. Ao fundo, vê-se o porto de Maputo. A ponte que liga Maputo a Katembe foi inaugurada no sábado, 10 de novembro de 2018. Tem cerca de três quilómetros de extensão e será a maior ponte suspensa de África.
Foto: DW/R. da Silva
Até 1.200 meticais para circular na ponte
Esta é a entrada da ponte do lado da Katembe. Com a conclusão das obras, as viaturas deixarão de pagar entre quatro e doze euros pela travessia da baía de Maputo. Já a portagem da ponte custa entre 40 meticais (57 cêntimos) e 1.200 meticais (17,30 euros), anunciou a Maputo-Sul, empresa que gere a infraestrutura.
Foto: DW/R. da Silva
Portagem na Katembe
Esta é a inevitável portagem do lado da Katembe. Quem sai de Maputo, encontra esta barreira para pagar pela circulação na ponte e na estrada. Os automobilistas já se queixam dos preços das portagens. A Maputo-Sul, citada pelo jornal O País, desvaloriza as queixas. Fala em falta de informação e desconhecimento do real valor da obra.
Foto: DW/R. da Silva
Obras demoradas
Deste lado da Katembe, veem-se camiões que transportam materiais para o acabamento das obras. A construção da ponte teve início em 2014 e a conclusão do empreendimento sofreu vários adiamentos desde dezembro. Segundo o Governo, os atrasos resultaram de dificuldades na retirada de famílias que viviam nas proximidades da infraestrutura.
Foto: DW/R. da Silva
O pomo da discórdia
A zona que interceta com a Avenida 24 de Julho foi um dos pontos em que as obras sofreram atrasos. Foi aqui, onde passa uma rampa que dá acesso à ponte, que ocorreu uma das principais discórdias, entre os vendedores do mercado Nwakakana, a empresa Maputo-Sul e o município de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Famílias indemnizadas facilitam construção atempada
As famílias que viviam neste local, maioritariamente refugiadas da guerra civil em Moçambique, foram transferidas para dar lugar à construção desta secção da ponte. Aqui, as obras não atrasaram porque as famílias rapidamente foram indemnizadas e realocadas para a região de Pessene, na Moamba, ocidente da província de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Transporte precário
Esta embarcação transporta as viaturas que atravessam a baía de Maputo. Tem sido tortuoso para os automobilistas que vivem ou fazem negócios do lado da Katembe, pois quando esta embarcação avaria, a alternativa é um percurso de quase 100 km.
Foto: DW/R. da Silva
Cais de Maputo
O cais de acesso às embarcações que fazem a travessia da baía é um local que não oferece muita segurança, pois não existem barreias de segurança ou limites para as movimentações. O mesmo para viaturas, devido à precariedade da sua estrutura.
Foto: DW/R. da Silva
Cais da Katembe
Do outro lado, na Katembe, os problemas são os mesmos. A estrutura é precária, por isso, o Governo interditou a travessia na embarcação de camiões de grande tonelagem.
Foto: DW/R. da Silva
Vista da Katembe para Maputo
Esta é a parte da Katembe onde a ponte atravessa. Também nesta zona (no lado esquerdo da imagem), algumas famílias tiveram de ser retiradas para dar lugar à construção da gigantesca ponte. O desenho e a construção foram responsabilidade da China Road and Bridge Corporation (CRBC), uma das maiores empresas de construção da China. O controlo de qualidade foi feito pela empresa alemã Gauff.
Foto: DW/R. da Silva
A maior de África
Esta é a parte da ponte que nos leva à cidade de Maputo, concretamente na EN-1 e na avenida 24 de Julho. Na imagem, veem-se as obras para fazer alguns acertos neste troço. Daqui pode contemplar-se a extensão da ponte.
Foto: DW/R. da Silva
Ponte que desagua do lado da Katembe
Uma obra de grande engenharia que custou aos cofres do estado cerca de 600 milhões de euros. Veem-se na imagem as curvas as subidas e as descidas que dão outra beleza a esta mega estrutura.