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ReligiãoVaticano

O mundo despede-se de Bento XVI, "uma potência intelectual"

nn | com agências
31 de dezembro de 2022

Funeral do papa emérito Bento XVI, que morreu este sábado (31.12), acontece na quinta-feira (05.01), na Praça de São Pedro, no Vaticano. Personalidades e organizações despedem-se de Joseph Ratzinger, um "grande teólogo".

Foto: VINCENZO PINTO/AFP/Getty Images

O corpo do papa emérito estará na Basílica de São Pedro no Vaticano para a despedida dos fiéis a partir de segunda-feira (02.01), segundo uma declaração do gabinete de imprensa da Santa Sé. Entretanto líderes políticos e religiosos de todo o mundo já começaram a difundir mensagens de pesar pela morte de Joseph Ratzinger.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, lamentou a morte do papa emérito Bento XVI, que descreveu como um "teólogo inteligente" com uma "personalidade controversa". "Para muitos, não apenas neste país, ele foi um líder especial para a Igreja", disse o presidente alemão na sua conta no Twitter. "O mundo perdeu uma figura formadora para a Igreja Católica", afirmou antes de enviar as suas condolências ao Papa Francisco, pelo falecimento de Bento XVI.

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, prestou homenagem à memória do papa emérito, elogiando o seu "tenaz compromisso com a não-violência e a paz". "Os seus poderosos apelos à solidariedade com as pessoas marginalizadas em todo o lado e as suas exortações para reduzir o fosso crescente entre ricos e pobres são mais relevantes do que nunca", disse Guterres em comunicado. 

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, lamentou a partida de Joseph Ratzinger e lembrou o "sinal forte" enquanto "servo de Deus e da sua Igreja" quando este renunciou ao pontificado. "A morte do papa Bento XVI entristece-me. Bento XVI havia dado um sinal forte com sua renúncia, vendo-se primeiro como um servo de Deus e da sua Igreja. Uma vez que sua força física diminuiu, ele continuou a servir por meio do poder das suas orações", escreveu Ursula Von der Leyen na rede social Twitter.  

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, lamentou, na rede social Twitter, a partida de Ratzinger. "Estou triste por saber da morte do papa emérito Bento XVI", afirmou Rishi Sunak, realçando que Bento XVI foi "um grande teólogo", cuja visita ao Reino Unido, em 2010, "foi um momento histórico para católicos e não católicos" daquele país.

Também no Twitter, Emmanuel Macron, Presidente de França, salientou que Bento XVI trabalhou "com alma e inteligência por um mundo mais fraterno". "O meu pensamento está com os católicos da França e do mundo, enlutados" pela partida do papa emérito, acrescentou. 

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, expressou o seu "pesar", descrevendo Bento XVI como "um gigante da fé e da razão" e "um grande homem que a história não esquecerá". "Um homem apaixonado pelo Senhor que colocou a sua vida a serviço da Igreja universal e falou, e continuará a falar, aos corações e mentes dos homens com a profundidade espiritual, cultural e intelectual do seu magistério", disse Meloni.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também lamentou a morte do papa emérito, recordando Joseph Ratzinger como um "promotor de valores universais". "Exprimo as minhas sinceras condolências ao papa Francisco, à hierarquia e a todos os fiéis da Igreja Católica pelo mundo, pela morte do papa Bento XVI", afirmou o Zelensky, numa publicação na sua conta oficial da rede social Twitter.  

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, saúdou a memória de Ratzinger, referindo ser um "defensor dos valores cristãos tradicionais" do qual disse também querer ser o apóstolo. "Bento XVI foi uma eminente figura religiosa e estatal, um defensor convicto dos valores cristãos tradicionais", escreveu ao papa Francisco, numa mensagem de condolências da morte do papa emérito, transmitida pelo Kremlin. "Sempre terei boas lembranças dele [Bento XVI]", acrescentou o chefe de Estado russo. 

Papa Francisco evoca pessoa "nobre e gentil"

O papa Francisco expressou "gratidão" ao seu antecessor, durante uma celebração na Basílica de São Pedro. "Por falar em gentileza, neste momento, o pensamento vai espontaneamente para o amado papa emérito Bento XVI, que esta manhã nos deixou. Com emoção, lembramo-nos da sua personalidade tão nobre, tão gentil", frisou Francisco na homilia. "Só Deus sabe o valor e a força da sua intercessão", acrescentou.

Papa emérito Bento XVI e Papa Francisco em agosto de 2022Foto: abaca/picture alliance

A comunidade hindu apresentou condolências pela morte do papa emérito, considerando-o "uma potência intelectual com uma fé inabalável na moralidade e na ética" e alguém que defendia a paz e o desarmamento nuclear. O líder norte-americano/hindu Rajan Zed, numa declaração feita no estado do Nevada, nos Estados Unidos, disse que a comunidade hindu está "triste" com a morte o papa emérito, "um advogado da paz e do desarmamento nuclear", bem como "um teólogo estimado" e "um escritor prolífico".

"[Bento XVI] era uma potência intelectual com uma fé inabalável na moralidade e na ética", disse Rajan Zed.

O presidente da Sociedade Universal do Hinduísmo destacou "o compromisso com a melhoria da condição humana" levado a cabo por Bento XVI, e a defesa dos direitos dos deslocados, migrantes, refugiados, enfatizando que "Deus é amor". A promoção do diálogo inter-religioso, uma distribuição mais justa da riqueza, as posições contra o consumismo excessivo e formas antiéticas de capitalismo, o apoio a causas ambientais foram outros temas que Zed atribuiu à atuação de Bento XVI, um papa elogiado pela comunidade hindu por ser "um grande defensor humanitário e dos direitos humanos". "Seus esforços espalham compaixão e amor", referiu.

Funeral será "solene" e "sóbrio"

O funeral do papa emérito Bento XVI será "solene, mas sóbrio", como tinha expressado, ainda que haja dúvidas sobre a presença de chefes de Estado nas exéquias ou o local onde este será sepultado. A figura do papa emérito não está regulamentada, o que levou a que nos últimos dias, quando se soube do agravamento do estado de saúde de Joseph Ratzinger, se tivessem iniciado as reuniões no Vaticano sobre o protocolo após a morte do pontífice que cessou funções há quase 10 anos. 

Segundo o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, o último desejo de Bento XVI foi que o seu funeral fosse "tão simples quanto possível. Solene, mas sóbrio", noticia a agência noticiosa espanhola EFE. Por enquanto, Bruni explicou apenas que o funeral de Bento XVI será oficiado pelo papa Francisco em 05 de janeiro, às 09h30 locais, na Praça de São Pedro - entre quatro a seis dias após a morte do pontífice, conforme a tradição. 

Basílica de São Pedro, VaticanoFoto: Chun Ju Wu/Zoonar/picture alliance

No entanto, o porta-voz não detalhou se será um funeral de Estado, para o qual serão convidadas as autoridades de todos os países do mundo. O corpo estará exposto na Basílica de São Pedro a partir de segunda-feira e até à véspera do funeral, sendo que ainda não se sabe se o corpo será embalsamado, como aconteceu com alguns dos seus antecessores. Ainda não se sabe, também, se o corpo de Ratzinger será colocado em três caixões, como é costume: um de cipreste forrado com veludo carmesim e envolto noutro de chumbo de quatro milímetros de espessura, por sua vez envolto noutro de madeira de olmo envernizado.

O corpo será enterrado a 5 de janeiro numa cripta na Basílica de São Pedro, em Roma, anunciou o Vaticano. "O caixão do pontífice emérito será levado para a Basílica de São Pedro e depois para as grutas do Vaticano [que albergam os túmulos papais] para ser enterrado", disse o gabinete de imprensa da Santa Sé numa declaração citada pela agência de notícias francesa France Presse (AFP). 

O papa emérito Bento XVI, que morreu este sábado com 95 anos, abalou a Igreja ao resignar do pontificado por motivos de saúde, em 11 de fevereiro de 2013, a dois meses de comemorar oito anos no cargo.

Joseph Ratzinger nasceu em 1927 em Marktl am Inn, na diocese alemã de Passau, e foi Papa entre 2005 e 2013. Ratzinger tornou-se no primeiro alemão a chefiar a Igreja Católica em muitos séculos e um representante da linha mais dogmática da Igreja.  Os abusos sexuais a menores por padres e o "Vatileaks", caso em que se revelaram documentos confidenciais do papa, foram casos que agitaram o seu pontificado. Bento XVI ordenou uma inspeção às dioceses envolvidas, classificou os abusos como um "crime hediondo" e pediu desculpa às vítimas. Durante a viagem a Portugal, em maio de 2010, Bento XVI disse que "o perdão não substitui a justiça".

Notícia atualizada às 18h39 (UTC+1).

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