"O mundo tem uma dívida ecológica em relação a África"
2 de dezembro de 2015"O mundo, e particularmente o mundo desenvolvido, tem uma dívida ecológica em relação a África", afirmou o chefe de Estado francês na terça-feira (01.12), dia em que esteve reunido com 12 chefes de Estado africanos à margem da Conferência do Clima, em Paris.
Segundo François Hollande, a França quer ter um papel modelo, com vista a um acordo global de luta contra as alterações climáticas. "A França quer dar o exemplo e o financiamento destinado a combater as alterações climáticas ao nível global vai passar de três mil milhões para cinco mil milhões anuais."
O objetivo, explicou, "é chegar à meta de 100 mil milhões de euros [para os países em desenvolvimento] fixada como uma condição para chegar a um acordo em Paris." E uma parte substancial desse montante irá para África.
Os apoios financeiros prevêem, em troca, o compromisso dos países africanos com a redução de emissões de gases de efeito de estufa. Entretanto, os chefes de Estado do continente já voltaram a sublinhar que não o poderão fazer sem a ajuda dos países industrializados.
Continente que mais sofre
"África, o menor emissor mundial de gases de efeito de estufa, é o continente que mais sofre com as alterações climáticas. Os outros poluem, África paga, e muito", disse Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), sublinhando ainda que África não pode pagar sozinha a conta das alterações climáticas. "O Lago Chade já quase desapareceu e as dunas estão a invandir o Sahel. O continente ficou a perder com as alterações climáticas, não pode ficar a perder com o financiamento climático", alertou.
O chefe de Estado francês anunciou ainda um apoio de mil milhões de euros anuais para lutar contra a desertificação em África até 2020. Uma ajuda financeira que se centrará principalmente em dois projetos: a chamada Grande Muralha Verde, uma iniciativa da União Africana (UA) que pretende conter o avanço do deserto do Saara, e a preservação do lago Chade e do rio Níger, ameaçados pela seca.
Os países africanos, diz Nkosana Dlamini-Zuma, presidente da UA, continuam vulneráveis a estas ameaças, e, por isso, "a voz africana unida nesta cimeira apela a um instrumento jurídico aplicável a todas as partes num quadro de governação global que inclua as questões da mitigação, adaptação, financiamento e transferência de tecnologia."
A presidência francesa vê África como um elemento crucial para o sucesso desta cimeira que, até 11 de dezembro, reúne 195 representantes internacionais em Paris nas derradeiras negociações com vista a um acordo vinculativo para travar o aquecimento global.