As mulheres de Moçambique vão marchar contra a discriminação. Os preparativos para a Marcha Mundial da Mulheres vão de vento em popa e o evento promete chamar a atenção para a situação difícil da mulher em Moçambique
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Um relatório recente da organização não governamental Save the Children (Salvem as Crianças) chegou à conclusão de que Moçambique é um dos piores países do mundo para se ser rapariga. Os autores do relatório, que colocaram Moçambique na 130ª posição da lista de países de todo o mundo, apontaram como maiores problemas a gravidez na adolescência, casamento infantil e o abandono da escola.
Os problemas não acabam quando a rapariga se torna mulher. Seja a violência doméstica, a discriminação no trabalho, a falta de igualdade prática em todos os setores da vida pública ou privada, as mulheres em Moçambique têm uma lista comprida de situações que gostariam de mudar. E já há muitas que não cruzam os braços.
No sábado (15/10) Maputo acolhe o décimo encontro da Marcha Mundial das Mulheres. Centenas de mulheres de quase todo o mundo vão fazer soar a voz contra a discriminação. Ao longo da semana houve uma série de atividades preparatórias do evento, durante o qual as mulheres vão dizer basta à violência, às desigualdades, à exclusão e à discriminação.
Contra a violência
Querem também mais respeito e valorização da liderança, bem como o fortalecimento das alianças com outros movimentos sociais. Neste dia, acredita Emília Castro, do Comité Internacional da Marcha, as mulheres vão marcar presença em massa no evento, em Maputo: "Estamos nós, mulheres de todo o mundo, que durante a semana discutirmos sem fronteiras das nacionalidades e decidimos profundamente sobre como contornar todos os nossos problemas de maneira muito democrática e muito solidária.”
Este evento acontece pouco tempo depois de algumas mulheres em Maputo terem marchado contra a medida do Governo de obrigar as raparigas a usarem saias compridas nas escolas. Uma iniciativa que levou à expulsão de Moçambique, em finais de março, da ativista espanhola Eva Moreno, presente na marcha. Paula Vera Cruz, da organização não-governamental Fórum Mulher, questiona: "O que a saia comprida resolveu? Continuam as nossas raparigas, as nossas mulheres vestidas da cabeça aos pés a serem violentadas. Inclusive bebés de um mês, de dois meses, três meses.”
14.10.16 Marcha das Mulheres Maputo - MP3-Mono
Homens têm que mudar
Vera Cruz, do Fórum Mulher, também não poupa críticas aos homens e quer "apelar aos jornalistas, por que é preciso que vocês mesmos sejam alternativa para mudar esta situação. Vocês são o meio próprio para dizer e envergonhar os homens que continuam a violentar as raparigas porque têm saia curta.”
A organização defende que as mulheres moçambicanas devem ter liberdade de tomar as suas decisões em todos os sentidos e sem interferências. Vera Cruz diz que as mulheres devem poder decidir "sobre as suas vidas, sobre os seus corpos, sem que seja imposta a maneira de vestir, sem que seja proibida de andar à hora que quiserem.”
A marcha está inserida no décimo encontro internacional do Movimento das Mulheres, sob o lema "Mulheres em Resistência: Construindo Alternativas por um Mundo Melhor”.
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura
A maioria das mulheres guineenses tem uma vida difícil. Têm de percorrer dezenas de quilómetros para ir buscar lenha. Muitas morrem ainda jovens. A taxa guineense de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo.
Foto: DW/B. Darame
Primeira a acordar, última a ir dormir
No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Costuma acordar antes dos restantes membros da família e é a última a deitar-se no final do dia. São as mulheres que têm de caminhar até à mata para procurar lenha e água, às vezes em zonas de difícil acesso, a vários quilómetros da aldeia, como nesta fotografia na vila de Quinhamel, na região de Biombo, no norte da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Vender para sustentar a família
Com um pano estendido no chão, as vendedoras vão expondo os seus legumes, malaguetas verdes, pepinos, cenouras, alfaces. São cultivados em quintais ou em pequenos campos. "Vender para sustentar a família" é o lema das mulheres guineenses. Mais de metade vende em feiras improvisadas, como aqui no Mercado de Bandim, o maior mercado de céu aberto da cidade de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Economia dominada por homens
À beira das estradas, as mulheres sentam-se em bancos e mesas de madeira e vendem laranjas, mangas, bananas e outros frutos - como aqui em Bissack, bairro nos arredores de Bissau. As vendedoras têm uma receita que ronda os 10 euros diários. Em média, uma guineense consegue ganhar 907 dólares por ano, bastante menos que os homens que conseguem em média 1.275 dólares.
Foto: DW/B. Darame
Recolher areia para sobreviver
Tia Nhalá não sabe que idade tem, mas sabe que todos os dias deve acordar cedo, às 05h00, para recolher areia no bairro de Cuntum, em Bissau. Sem qualquer proteção no rosto, sem luvas e pés descalços, Nhalá, que aparenta ter 67 anos, trabalha duramente durante largas horas. Recolhe areia que depois vende a pessoas que a usam em obras de construção civil.
Foto: DW/B. Darame
Venda ambulante em condições perigosas
No Bairro de Belém, em Bissau, meninas deambulam de porta em porta para vender frutas. Organizações da sociedade civil denunciaram já várias vezes que as vendedoras ambulantes correm riscos, como o de serem violadas sexualmente, pois estão muito expostas e vulneráveis. Também há denúncias de que algumas mulheres são forçadas a fazer esse trabalho.
Foto: DW/B. Darame
Vender peixe é um bom negócio
As vendedoras de peixe geralmente possuem arcas velhas para a conservação do pescado. Colocam-nas nos portos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - para servir de local de armazenamento quando receberem peixe fresco dos pescadores. Nos últimos anos, a venda de peixe tornou-se num dos negócios mais rentáveis para as mulheres guineenses.
Foto: DW/B. Darame
Um dos piores países para ser mãe
As condições precárias nas zonas rurais da Guiné-Bissau têm reflexos nas estatísticas: em 126 partos morre uma mulher, segundo dados das Nações Unidas. Em comparação, no Japão, em 20.000 partos morre uma mulher. A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau é uma das mais altas do mundo. Ainda assim, não existe no país uma estratégia política dirigida à mulher no meio rural.
Foto: DW/B. Darame
País difícil para as crianças
Cada mulher guineense tem em média cinco filhos. O país tem uma das taxas de fecundidade mais altas do mundo. Mas muitas crianças não chegam a celebrar o seu quinto aniversário. Segundo dados das Nações Unidas, 129 de 1.000 crianças morrem até aos cinco anos de idade, muitas durante no parto, o que torna a Guiné-Bissau um dos piores países do mundo para se nascer.
Foto: DW/B. Darame
Trabalhos domésticos no feminino
Em Mansoa, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, as casas de adobe agrupadas debaixo de enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança. A comida prepara-se num fogão improvisado a lenha, em frente da casa. Trabalhos domésticos como cozinhar, cuidar das crianças ou limpar cabem tradicionalmente às mulheres.
Foto: DW/B. Darame
Carregar à cabeça é a única solução
Nas zonas mais recônditas da Guiné-Bissau, como na aldeia de Suru, região de Biombo, a cerca de 20 quilómetros de Bissau, não há uma rede de estradas que facilite o transporte das mercadorias. Não há carros que façam as ligações entre as aldeias. Carregar à cabeça, por vezes mais de cinco quilos, é a única solução para que essas mulheres possam fazer chegar os produtos ao destino.
Foto: DW/B. Darame
Lenha e água a quilómetros de distância
Nas mais de 80 ilhas e ilhéus completamente isolados e sem grande presença do Estado guineense, as populações vivem no regime do "salva-se quem poder". As mulheres percorrem dezenas de quilómetros para ir buscar lenha e água potável. Em muitos casos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - atravessam rios caminhando, com os pés descalços, sem roupas adequadas e carregadas.
Foto: DW/B. Darame
Ultrapassando rios e braços de mar
Devido à falta de barcos nas aldeias insulares do arquipélago dos Bijagós, o fornecimento e o transporte de bens é extremamente difícil. É recorrente ver mulheres atravessando rios ou braços de mar bastante profundos. Estes caminhos para procurar lenha e água doce são bastante perigosos para quem não sabe nadar.
Foto: DW/B. Darame
Desigualdade começa na educação
A maioria das mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza. Em médias, as mulheres frequentaram a escola apenas 1,4 anos, menos de metade do que os homens guineenses, que têm em média 3,4 anos de escolaridade, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Só investindo na educação e na saúde será possível melhorar a situação das mulheres da Guiné-Bissau.