Países africanos atravessam um verdadeiro "boom" de novas linhas aéreas estatais, comparável àquele dos anos 60 e 70, após a independência. Mas, por enquanto, as companhias ainda não conseguem fazer lucros.
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O avião do tipo Bombardier da "Uganda Airlines" aterrou na capital queniana, Nairobi, o primeiro voo depois companhia aérea nacional retomar as operações no final de agosto.
Após vinte anos de paragem, os ugandeses estão muito orgulhosos deste projeto nacional, diz o analista Angelo Izama: "A julgar pelas reações na internet até parece que estamos a enviar alguém para a lua".
Os motivos do Governo ugandês não se prendem tanto com o orgulho nacional e são mais pragmáticos. Os ugandenses gastam cerca de 450 milhões de dólares norte-americanos em viagens aéreas com empresas estrangeiras. É dinheiro que ficará no país se optarem pela companhia nacional.
No Malawi, o Governo agora detém a maioria nas "Malawian Airlines". O Gana está a planear uma nova companhia aérea pan-africana, enquanto a Tanzânia e o Senegal estão também a tentar revitalizar as suas companhias aéreas. Para mantê-la operacional, a África do Sul injeta somas generosas na empresa estatal "South African Airways".
Vantagens das companhias estrangeiras
Muitos passageiros optam por companhias estrangeiras, porque as nacionais são demasiado caras, diz o analista ugandês Angelo Izama. "O preço é um problema. Alguma coisa tem de mudar. Um voo de 50 minutos de Entebbe para Nairobi custa quase 300 dólares. É muito dinheiro."
Andrew Wasike, correspondente da Deutsche Welle no Quénia, diz que outro motivo são as péssimas ligações: "Imagine que alguém quer viajar do Quénia para a África Central. Já me aconteceu: tive que voar primeiro para a África Ocidental, e depois voltar dali para a África Central. E quem estiver no norte de África tem que sair primeiro do continente africano", critica.
Wasike também lembra os muitos casos de corrupção em que esteve envolvida a maior companhia aérea do país, a Kenya Airways. O Parlamento queniano acaba de decidir nacionalizar a companhia falida depois de ter sofrido grandes perdas em anos anteriores.
O novo "boom" de linhas aéreas em África
Mercado em crescimento
Entretanto, as perspetivas são fantásticas em África. O mercado africano deve crescer cerca de 5% ao ano nos próximos 20 anos, de acordo com estimativas da associação internacional de companhias aéreas IATA.
Porém, por enquanto, as linhas aéreas africanas não conseguem esgotar as capacidades. Em 2018 ocuparam apenas 71% dos lugares, quando a média global é de 82%. Este ano irão acatar com perdas no montante de 100 milhões de dólares.
Não obstante todas as dificuldades, o analista Izama considera o projeto do Governo ugandês de salvar a linha aérea nacional importante. E também o queniano Andrew Wasike diz: "Acho que estamos a voar na direção certa."
Os aeroportos dos presidentes em África
São uma espécie de monumento auto-instituído: vários líderes africanos construíram os seus próprios aeroportos em locais remotos. Hoje, são estruturas esquecidas, paralisadas ou dão grandes prejuízos.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
O aeroporto esquecido de uma capital esquecida
Nos anos 60, o Presidente Félix Houphouët-Boigny decidiu fazer da sua cidade natal, Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim. Construiu avenidas imponentes, uma enorme igreja, vários edifícios e um aeroporto. Tanto a cidade como o Aeroporto Internacional de Yamoussoukro acabaram por cair na insignificância. Hoje em dia, o aeroporto está praticamente abandonado.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
Perdido na selva
Também Mobuto Sese Seko, ex-Presidente da RDC, se instalou com toda a pompa e circunstância na sua cidade natal, Gbadolite, com três palácios e edifícios representativos. Há também um aeroporto, rodeado por floresta tropical. Não há indústria nem turismo nas redondezas e a capital, Kinshasa, fica a 1400 quilómetros. Mobutu e a mulher gostavam de voar de Gbadolite para Paris – num Concorde alugado.
Foto: Getty Images/AFP/J. Wessels
O ditador com a sua própria pista de aterragem
Mobutu foi também recebido pelo ditador da vizinha República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa (segundo à direita). Na residência de Bokassa, a cerca de 80 quilómetros de distância, havia também uma pista de aterragem para passageiros. Há muito que Bokassa morreu e a sua pista desintegra-se – tal como os seus palácios.
Foto: Getty Images/AFP/OFF
Boas-vindas a um convidado alemão
Mesmo antes de se tornar um aeroporto internacional - a mando do antigo Presidente Daniel Arap Moi - o aeródromo de Eldoret, no centro-oeste do Quénia, recebia o chanceler Helmut Kohl, em 1987. Eldoret é o centro económico dos Kalenjin – o grupo étnico do Presidente Moi. Apesar do nome, o aeroporto serve apenas para voos domésticos.
Foto: Imago Images/D. Bauer
O aeroporto inviável do ex-Presidente da Nigéria
O ex-Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, também converteu o aeroporto da sua cidade natal, Katsina, em aeroporto internacional durante o seu mandato (2007-2010). Mas o projeto preferido do antigo Presidente, que morreu em 2010, não é rentável. O Governo está a ponderar a entrada da autoridade aeronáutica nacional na equipa de gestão do aeroporto de Katsina.
Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei
Rumo a Chato?
A companhia aérea tanzaniana Precision Air poderá voar em breve para Chato, cidade natal do Presidente John Magufuli. O chefe de Estado quer expandir este aeroporto para impulsionar o turismo. Mas uma comissão parlamentar apela à renovação das infraestruturas já existentes em vez de novos projetos. Apenas 5 dos 58 aeroportos e pistas de aterragem do país contribuem para o PIB, dizem os deputados.