Na província de Manica as autoridades esforçam-se para pôr cobro à venda ilícita de medicamentos. Os produtos extraviados e vendidos em mercados informais representam um perigo para a saúde da população.
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Berta Faustino, de 33 anos de idade, residente no distrito de Macate, na província central de Manica, acaba de comprar quantidades não especificadas de Paracetamol e Coartem no mercado Francisco Manyanga.
Interrogada pela DW África logo a seguir à transação, Faustino revelou que recorre habitualmente ao mercado informal "porque nas farmácias públicas às vezes não encontramos e os técnicos dirigem-nos para as farmácias privadas. E nas privadas custam muito caro. Por esta razão, eu opto por comprá-los aqui no mercado. Com esses ambulantes, os preços são baratos".
É um comportamento que preocupa o chefe da Inspeção Provincial da Saúde em Manica. Daniel António Chamussora diz que há muito trabalho de esclarecimento ainda por fazer: "Temos que informar a comunidade em geral que deve abandonar a prática de compra de medicamentos nos mercados informais", disse
Chamussora, explicando que a validade dos fármacos pode já ter caducado. "Então aquilo já é um veneno", acrescentou, apelando para que os cidadãos se dirijam às unidades sanitárias. "Mesmo que lá não tenhamos algum medicamento, há alguma alternativa. Faz se uma receita e as pessoas compram nas farmácias privadas que é seguro", disse, salientando que os fármacos vendidos nos mercados são mal conservados e constituem um perigo para a saúde pública.
Consumir veneno
O problema vai além dos comércio ilegal de medicamentos, já que alguns vendedores fazem-se passar por médicos. Chamussora disse que alguns já foram neutralizados e punidos numa operação que também levou às celas e à expulsão alguns funcionários da saúde envolvidos nos esquemas de desvio e venda de medicamentos.
O perigo do mercado ilícito de medicamentos
A Policia da República de Moçambique (PRM), o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), a Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) e a Inspeção Provincial de Saúde estão a trabalhar de forma concertada para desencorajar o roubo de medicamentos e sua posterior venda nos mercados informais.
Várias pessoas, incluindo profissionais de saúde e vendedores foram já julgados e condenadas a penas de prisão. Muitos foram apanhados em flagrante em Chimoio e outros distritos no tráfico ilícito de fármacos nos maiores mercados.
Medidas punitivas agravadas
O chefe da Inspeção Provincial da Saúde em Manica afirmou que sua equipe tem vindo a registar êxito na redução do desvio e venda de medicamentos do sistema nacional de saúde. Chamussora acredita que um dos fatores para o sucesso é o impacto das medidas punitivas contra os infratores.
Entre os medicamentos vendidos nos mercados em Manica, destacam-se os antimaláricos, antibióticos, anestésicos e analgésicos. Muitos só podem ser adquiridos mediante receita médica. Os mercados informais também oferecem seringas, soros, termómetros, luvas, redes mosquiteiros e embalagens plásticas de uso exclusivo nos centros de saúde e hospitais.
O porta-voz da PRM em Manica, Mateus Mindú, disse estar em curso uma campanha de desmantelamento dos focos de venda de fármacos nos principais mercados informais e farmácias clandestinas. "Nos últimos dias o tráfego tende a reduzir", disse, graças também à colaboração da população "no que tange a vigilância e denuncia, de venda de fármacos".
O Ministério da Saúde (MISAU) esta a construir 30 armazéns intermediários a nível nacional para evitar roubo e desvio bem como favorecer a conservação dos medicamentos e artigos médicos e cirúrgicos. O projeto conta com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Moçambique: Os jovens carregadores de Manica
Carregar mercadorias à cabeça é uma profissão comum em Manica. O trabalho é pesado e implica competir com colegas e transportes de passageiros pelos clientes. Ainda assim, também há crianças entre os carregadores.
Foto: DW/B. Jequete
Usar a cabeça
Os carregadores transportam diversos tipos de mercadorias ou bagagem de um ponto para o outro, usando a cabeça como suporte. Este é o ganha-pão de muitos jovens moçambicanos, que assim conseguem garantir a sustentabilidade da família. Mesmo que a bagagem seja pesada, os carregadores não têm "mãos a medir".
Foto: DW/B. Jequete
Quando não há emprego
Na maioria, os carregadores são jovens escolarizados, mas fazem carga e descarga de produtos em viaturas, usando a cabeça para ganhar dinheiro. Há também chefes de família nesta profissão: os filhos frequentam a escola graças a esta atividade. Mas muitas pessoas evitam assumir-se como carregadores, por vergonha.
Foto: DW/B. Jequete
Amigos, amigos... Negócios à parte
Os carregadores são amigos, mas apenas de "trincheira". Quando acaba de chegar um camião contendo mercadoria para ser carregada, há muitas vezes troca de "mimos" na disputa pelo trabalho. Não são raros os empurrões para decidir quem ganha mais lotes para transportar: quanto maior for o número de mercadorias, maior será o valor recebido ao final do dia.
Foto: DW/B. Jequete
Carregadores VS Chapas
Também os transportes de passageiros ou chapas são vistos como adversários diretos dos carregadores. Os motoristas acabam por usar a parte de cima dos veículos como bagageira. "Nos últimos dias, não temos tido movimento, porque muitos são enganados pelos cobradores [de bilhetes dos chapas] para que as suas bagagens sejam levadas nos <i>minibuses</i>", diz um carregador ouvido pela DW em Manica.
Foto: DW/B. Jequete
Poupar no transporte
Algumas "mamanas", mulheres moçambicanas, recusam recorrer aos serviços dos carregadores. Percorrem longas distâncias com muito peso à cabeça, mas não desistem de o fazer para poupar dinheiro. Por vezes, os carregadores cobram valores que chegam quase à metade do preço do produto a ser transportado. "Não faz sentido mandar carregar, preferimos fazê-lo sozinhas", afirmam.
Foto: DW/B. Jequete
Descansar o pescoço
Elídio Morais, pai de três filhos, decidiu comprar uma bicicleta após cinco anos a carregar mercadorias à cabeça, numa altura em que já sentia que "o pescoço se atrofiava". Usa a bicicleta para fazer o mesmo trabalho e consegue alimentar a sua família. Encoraja os jovens que se envolvem na criminalidade alegando a falta de emprego a enveredar pela ocupação de carregador: "Há espaço para todos".
Foto: DW/B. Jequete
Trabalho infantil
No Mercado 38mm, o maior mercado grossista em Chimoio, há quem pague às crianças que por ali circulam em busca de produtos rejeitados para carregarem mercadorias. Nestes casos, é o proprietário da carga quem estipula o preço. Mas há quem "contrate" estas crianças a baixo custo. E muitas acabam por abandonar a escola. O peso excessivo das cargas é um risco nesta fase de desenvolvimento.
Foto: DW/B. Jequete
Carregar para estudar
Zacarias Fombe, de 16 anos, é carregador. Frequenta a 10ª classe e carrega mercadorias para pagar os estudos. Quer ser funcionário público e ajudar os irmãos a estudar. "Um dia estava a passear neste mercado e um senhor chamou-me para transportar a sua bagagem. Vi que o meu problema seria resolvido com esta atividade", conta.
Foto: DW/B. Jequete
Pagar para carregar: um desperdício?
Joelma Banda, acompanhada pela irmã, conta à DW que está na fase inicial do seu negócio e, por isso, opta por carregar sozinha o produto. Pagar a um carregador é um desperdício: o valor cobrado pode ser usado para investir no seu negócio ou comprar comida para casa. Quando o negócio aumentar, diz Joelma, já poderá contratar carregadores.
Foto: DW/B. Jequete
A alma do negócio
Abrãao Fazbem, de 18 anos, foi carregador. Mas não por muito tempo. Entrou na atividade com o intuito de ganhar dinheiro para começar o seu próprio negócio. "Fi-lo durante alguns meses. Quando consegui juntar um valor, deixei e parti para o mundo do negócio. Vendo sacos de plástico e temperos", conta o jovem. De manhã, trabalha no mercado, à tarde vai à escola.
Foto: DW/B. Jequete
De carregador para "tchoveiro"
Os "tchovas", carrinhos de mão de tração humana, mudaram a vida de alguns carregadores. Mas os velhos hábitos mantêm-se: quando a carga é pouca, os "tchoveiros" ainda usam a cabeça. Estes e outros veículos são competição direta para os carregadores. Em Manica, cidadãos com viatura própria aproveitam para passar no mercado a caminho do trabalho para carregarem produtos e ganharem um dinheiro extra.
Foto: DW/B. Jequete
As vantagens dos carrinhos de mão
Por vezes, a carga é muita e os carregadores recusam transportar a mercadoria. É aqui
que entram em ação os "tchovas" - um serviço mais caro, mas, ainda assim, mais barato do que alugar uma carrinha. Os carrinhos de mão são os mais solicitados pelos agentes económicos para fazer o transporte dos produtos do mercado grossista para as suas lojas.