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O Presidente Zelensky vai visitar a África do Sul

Dianne Hawker
23 de abril de 2025

Esta será a primeira visita do Presidente ucraniano à África do Sul. Os dois países têm vindo a reforçar os laços nos últimos anos.

Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky durante conferência de imprensa em Kyiv
Foto: Genya Savilov/AFP

Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky visita aÁfrica do Sul pela primeira vez esta quinta-feira, 24 de abril. A ocasião será uma visita de trabalho com o Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, em Pretória, com o objetivo de fortalecer os laços entre os dois países. No entanto, alguns apontam que um possível acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia será provavelmente um dos principais temas em discussão.

"Tenho absoluta certeza de que fará parte da agenda", afirma Oscar van Heerden, investigador associado do Centro para a Diplomacia e Liderança da Universidade de Joanesburgo.

"Acho que o Governo sul-africano não quer criar expectativas... e certamente não quer revelar as suas verdadeiras intenções. Mas sabemos que o Presidente Ramaphosa liderou uma missão de paz africana que foi à Ucrânia, onde se reuniu com Zelensky e outros, assim como com o Presidente Putin. Por isso, há interesse, e estou certo de que em algum momento da visita de trabalho, Ramaphosa e Zelensky vão encontrar tempo para refletir sobre isso." 

Volodymyr Zelensky visitará Pretória pela primeira vezFoto: PHILL MAGAKOE via REUTERS

Acordo de paz em cima da mesa?

A delegação de chefes de Estado africanos viajou à Ucrânia e à Rússia em junho de 2023 com a esperança de facilitar um acordo de paz entre os dois países. Embora as conversações não tenham produzido resultados imediatos, a Ucrânia comprometeu-se desde então a melhorar as relações com os países africanos, partilhando experiências tecnológicas e militares. A Ucrânia também prometeu abrir mais 10 embaixadas em países africanos.

A África do Sul é membro do grupo BRICS, formado pelos países fundadores Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. Através desta filiação, a África do Sul tem um tipo de acesso único à Rússia, o que pode ser vantajoso nas conversações de paz. O Congresso Nacional Africano (ANC), partido liderado por Ramaphosa, mantém laços com a Rússia que precedem a guerra, e a relação próxima do presidente sul-africano com Vladimir Putin tem gerado polémica entre os seus parceiros de coligação da Aliança Democrática (DA).

Ainda assim, por essa razão, Van Heerden vê em Cyril Ramaphosa um possível mediador. "Como a África do Sul faz parte de uma estrutura de aliança como os BRICS, e porque mantém relações amigáveis com a Federação Russa, é melhor que o Presidente Ramaphosa leve diretamente a Putin o que Zelensky está a propor", afirma.

Nos últimos meses, Zelensky reuniu-se com representantes dos Estados Unidos, da União Europeia e das Nações Unidas, na esperança de alcançar um cessar-fogo com a Rússia. Um encontro recente com o presidente dos EUA, Donald Trump, no Salão Oval, rapidamente se deteriorou após acusações do vice-presidente JD Vance de que Zelensky estaria a faltar ao respeito aos EUA. Trump afirmou mais tarde que os EUA abandonariam as conversações de paz se não houvesse acordo. Ainda assim, no domingo, o presidente dos EUA afirmou que um acordo estava iminente, sem fornecer mais detalhes, segundo a Reuters.

Cyril Ramaphosa e o presidente russo Vladimir Putin mantêm relações calorosas há muito tempoFoto: Maxim Shipenkov/AP/picture alliance

A Rússia lançou uma invasão em larga escala à Ucrânia em fevereiro de 2022. Desde então, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) afirma que pelo menos 12.654 civis foram mortos na guerra.

Uma abordagem centrada nos direitos humanos

A presidente honorária da Associação Ucraniana da África do Sul (UAZA), Dzvinka Kachur, acredita que a paz real ainda está longe de acontecer: "Uma paz duradoura na Ucrânia só será possível se a Rússia deixar de ser um império e de procurar transformar a Ucrânia numa colónia." Ainda assim, reconhece que um país isolado, como a África do Sul, tem poucas hipóteses de concretizar tal mudança.

No entanto, Kachur vê outras formas pelas quais a África do Sul pode contribuir: "Existe o aspeto humanitário, no qual a África do Sul pode desempenhar um papel mais importante," diz. "A África do Sul pode mediar o regresso de crianças ucranianas deportadas à força, ou ajudar a travar a tortura na central nuclear ocupada de Zaporizhzhia." Também pode ajudar no retorno de prisioneiros civis de guerra e jornalistas, acrescenta.

Kachur referiu ainda que, desde o início da guerra, a Ucrânia — como muitos países em desenvolvimento — começou a duvidar da capacidade do Conselho de Segurança das Nações Unidas para impedir conflitos.

Os países africanos e sul-americanos há muito tempo consideram que o sistema de governação global é desequilibrado, e defendem um Conselho de Segurança da ONU mais inclusivo, entre outras reformas.

"Conseguimos ver que este sistema internacional não está a funcionar, e isto é algo que os países africanos têm vindo a dizer há muito tempo," prossegue Kachur. "A Rússia invadiu a Ucrânia enquanto presidia ao Conselho de Segurança da ONU, e o conselho ficou completamente bloqueado."

A Associação Ucraniana da África do Sul vai reunir-se com o Presidente Zelensky durante a sua visita a Pretória esta semana.

África do Sul quer reformar a governação global

A África do Sul incluiu a reforma da governação global na agenda da sua presidência do G20 — cargo que manterá até novembro de 2025. Num discurso na Assembleia Geral da ONU em março, o diretor-geral de relações internacionais e cooperação da África do Sul, Zane Dangor, afirmou que o país está a liderar os esforços de reforma das estruturas de governação global.

"Precisamos de reforçar o sistema multilateral e melhorar a cooperação internacional para resolver os complexos desafios que o mundo enfrenta. A erosão do multilateralismo, como já foi referido, representa uma ameaça ao crescimento e estabilidade globais, e devemos todos combater isto com determinação," afirmou Dangor.

Os princípios da Carta das Nações Unidas — incluindo o direito internacional, o direito humanitário internacional e os direitos humanos — devem estar no centro das discussões sobre a situação geopolítica mundial, sublinhou. Afinal, concluiu Dangor, o mundo de hoje é "um lugar diferente daquele que era em 1945, quando a ONU foi criada." 

Porque África quer mediar a guerra da Rússia na Ucrânia

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