Especialistas preveem menos investimentos em cooperação para desenvolvimento. Combate ao terror em regiões estratégicas para os EUA deve aumentar.
Publicidade
As declarações públicas do Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sobre a África até agora limitaram-se às ameaças de que ele próprio ocupar-se-ia da prisão dos Presidentes Robert Mugabe, do Zimbabwe, e Yoweri Museveni, do Uganda. Sobre a África do Sul, Trump diz ter simpatia, mas declara ser um reduto do crime prestes a explodir.
Já em termos económicos, Donald Trump deverá priorizar negócios benéficos ao seu país, acreditam os especialistas. Com o slogan "América em primeiro lugar", diminuem expetativas positivas para os países que recebem ajuda em projetos de cooperação para o desenvolvimento.
“A África não deverá ser prioridade para a política externa norte-americana", diz o analista político queniano Barrack Muluka em entrevista à DW. Os EUA, porém, são parceiros importantes para os Estados africanos. O país é um dos principais doadores em projetos de desenvolvimento, além de ser o segundo maior investidor.
Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (AGOA)
O Presidente eleito estaria interessado nas relações comerciais com benefícios para os EUA. Por isso, analistas acreditam que a Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (AGOA) - que concede isenção de algumas taxas para entrada de produtos africanos nos Estados Unidos - seja revista.
Contudo, o economista e sociólogo alemão Robert Kappel defende que o fato não teria grandes mudanças para os países africanos, pois não são parceiros comerciais suficientemente importantes para os EUA.
A África poderia até mesmo beneficiar-se indiretamente da política comercial protecionista de Trump, acredita o analista, principalmente se ele negar o acordo de comércio entre os EUA e a Europa (Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento - APT).
“As facilidade aduaneiras entre os EUA e a União Europeia tornariam o continente africano ainda mais isolado”; diz Kappel, ex-chefe do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA) em entrevista à DW.
15.11.2016 Trump / Africa - MP3-Mono
África subsaariana
A África subsaariana beneficia-se largamente dos projetos públicos para cooperação e desenvolvimento dos EUA. Desde 2011, esse país gasta em média por ano 8,28 mil milhões de euros, valor cinco vezes maior do que o total em 2001.
Os EUA são por isso o terceiro maior doador para África, atrás da Europa e China.
O governo Trump, porém, seguirá a linha do Partido Republicano e concederá “menos ajuda no concerne aos projetos de cooperação que não beneficiam os EUA”, acredita o economista e sociólogo alemão Robert Kappel.
O projeto “Power Africa”, iniciado pelo atual presidente Obama, poderá não ter continuidade com Trump. O projeto pretende levar eletricidade à 60 milhões de pessoas em África. Até 2018, serão necessários cerca de 6,44 mil milhões de euros do orçamento norte-americano, por isso este projeto de eletrificação corre o risco de ser deixado de lado.
Sobre essa ajuda financeira enviada à África, Trump twittou: "Cada centavo enviado por Obama [à África] será roubado – ali há corrupção desenfreada!", disse.
Considerando-se tais declarações, o mesmo deverá valer para o Plano de Emergência para o Combate ao HIV/Sida (PEPFAR), iniciado pelo então Presidente Republicano George W. Bush.
Cerco ao terrorismo
O Boko Haram na África Ocidental, os extremistas islâmicos no Sahel, o Al-Shabaab e os piratas na Somália: o empenho dos EUA contra o terrorismo e o crime organizado em África é, há anos, parte da estratégia global anti-terror do país.
O engajamento militar dos EUA em África, contudo, pode ser reduzido com Trump. “Não há interesse estratégico dos EUA na região africana ao sul do Saara”; acredita Stephen Chan, Professor do Instituto de Estudos em África e Oriente Médio da Universidade de Londres (SOAS).
Já Zachary Donnenfeld, do Institutito Sul-africano para Estudos em Segurança, acredita que os ataques norte-americanos a África por meio de drones devem aumentar, pois Trump já anunciou que seguirá uma linha dura contra o terrorismo.
Ao lado de sua retórica anti-islâmica, poderiam intensificar-se ofensivas de grupos terroristas "se Trump levar a cabo a política externa que tem anunciado, esse seria o mais efetivo instrumento de recrutamento por organizações terroristas pelo mundo”, diz Donnenfeld.
Donald Trump: Populista, empreendedor, Presidente
Donald Trump é empreendedor imobiliário e estrela de televisão. Muitos não o levavam a sério. Mas ele venceu as eleições e, a partir de 20 de janeiro de 2017, será o 45º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA).
Foto: picture-alliance/dpa/K. Lemm
A família, o seu império
Trump com a sua família: a esposa, Melania (de branco), as filhas Ivanka e Tiffany, os filhos Eric e Donald Junior, e os netos Kai e Donald Junior 3º. Os filhos são "vice-presidentes seniores" do conglomerado Trump.
Foto: picture-alliance/dpa
Frederick Junior, o pai
Donald Trump herdou o dinheiro para os seus investimentos do pai, Frederick, que lhe deu um capital inicial de um milhão de dólares. Após a sua morte, em 1999, Donald e os seus três irmãos herdaram uma fortuna de 400 milhões de dólares.
Foto: imago/ZUMA Press
Capitão Trump
Quando tinha 13 anos, o seu pai enviou Trump para um internato militar em Cornwall-on-Hudson, onde deveria aprender a ser disciplinado. No último ano, ele obteve inclusive uma patente militar. Ele diz que, ali, recebeu mais treinamento militar do que nas Forças Armadas americanas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/
"Very good, very smart"
"Muito bom, muito inteligente", é o que Trump diz de si mesmo. E acrescenta que cursou a escola de elite Wharton (foto), da Universidade de Pensilvânia, na Filadélfia, onde se formou em 1968. É uma das oito universidades integrantes da Ivy League, as universidades mais prestigiadas dos EUA. Mesmo assim, sabe-se pouco sobre o percurso de Trump na faculdade.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B.J. Harpaz
Dispensado da Guerra do Vietname
Devido a um problema no calcanhar, Trump foi dispensado e não lutou na Guerra do Vietname. Na guerra, morreram cerca de 58 mil soldados dos Estados Unidos e aproximadamente três a quatro milhões de vietnamitas dos dois lados, além de outros dois milhões de cambojanos e laocianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Ivana, a primeira esposa
Em 1977, Trump casou-se com a modelo tcheca Ivana Zelníčková, com quem teve três filhos. O relacionamento foi acompanhado de rumores sobre relacionamentos extraconjugais. Foi Ivana quem apelidou Trump de "The Donald".
Foto: Getty Images/AFP/Swerzey
Anos 80: Abertura do Harrah's at Trump Plaza
Esta foto, tirada em 1984, marca a abertura do Harrah's at Trump Plaza, um complexo envolvendo hotel, restaurante e casino em Atlantic City (Nova Jérsia). Este foi um dos primeiros investimentos que tornaram Trump bilionário.
Foto: picture-alliance/AP Images/M. Lederhandler
Família número 2
Em 1990, Trump divorciou-se de Ivana e casou-se com Marla, 17 anos mais jovem que ele. A filha do casal se chama Tiffany.
Foto: picture alliance/AP Photo/J. Minchillo
As meninas de Trump
Em público, Trump não aparece só ao lado de sua esposa. Ele costuma acompanhar concursos de beleza ao lado de jovens modelos. De 1996 a 2015, ele foi o responsável pelo concurso de Miss Universo ("Miss Universe") nos EUA.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Lemm
Livro muito lido e vendido
Como fazer milhões de forma rápida? O best-seller de Trump "A arte da negociação" é um exemplo. O livro é em parte autobiográfico, em parte um livro de dicas para empresários ambiciosos. A publicação não foi somente uma das mais vendidas nos EUA, como também colocou Trump no centro das atenções no país.
Foto: Getty Images/AFP/M. Schwalm
O nome é a marca
Trump investe de forma agressiva, mas também sofre fracassos. Numa perspectiva de longo prazo, no entanto, obtém sucesso, como por exemplo com a Trump Tower em Nova York. Ele calcula a sua fortuna hoje em 10 bilhões de dólares. Especialistas, entretanto, consideram um terço desse valor mais realista. Portanto, cerca de 3 bilhões de dólares.
Foto: Getty Images/D. Angerer
"The Donald" no ringue
Como poucos, Trump consegue chamar a atenção dos mídia. Seu campo de ação inclui até um ringue de luta livre. No seu programa de TV "O Aprendiz" ("The Apprentice"), os candidatos eram contratados ou demitidos. A primeira edição foi ao ar durante o ano de 2004 na cadeia televisiva NBC. A frase favorita de Trump no programa era "Você está demitido!"
Foto: Getty Images/B. Pugliano
Ascenção rápida de Trump na política
Em 16 de junho de 2015, Trump anunciou a candidatura para a corrida presidencial pelo Partido Republicano. O seu slogan foi: "Faça a América grande outra vez" ("Make America great again"). A campanha foi feita ao lado da família e com slogans contra imigrantes, muçulmanos, mulheres e adversários políticos. Investiu muito nos mídia sociais como o Twitter onde tem 13,8 milhões de seguidores.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lane
45º presidente dos Estados Unidos da América
A partir do dia 20 de janeiro de 2017, o populista e showman será o novo Presidente dos Estados Unidos. No início da campanha, poucos pensavam que poderia vencer as eleições do dia 8 de novembro de 2016 contra a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton. Mas a história de Donald J. Trump também mostra que este homem tem a capacidade de se transformar como um camaleão.