O que realmente aconteceu após os confrontos de Mandimba?
Manuel David (Lichinga)
19 de outubro de 2017
Presença da Força de Intervenção Rápida (FIR) não inspira total confiança no seio da população de Mandimba, na província moçambicana do Niassa. Quatro pessoas morreram em confrontos contra a polícia.
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Depois dos recentes distúrbios, em que a população de Mandimba se insurgiu contra a inoperância da policia, a poeira assentou. Porém, em vez de levar tranquilidade à região, a presença das Forças de Intervenção Rápida (FIR) provocou um certo medo no seio da população, sobretudo à noite.
Segundo constatou a DW África no local, é possível notar pelas ruas que a FIR não inspira total confiança entre as pessoas que, a 2 de outubro, se revoltaram contra a polícia, incendiando a casa do comandante. Na altura quatro populares morreram nos confrontos.
Um residente em Mandimba, que preferiu não se identificar por questões de segurança disse à DW África que a circulação pode ser chamada de normal, porque não há um alerta de que a população não possa circular à vontade.
O que realmente aconteceu após os confrontos de Mandimba?
"Nós estamos a circular, embora com uma determinada limitação por causa da unidade de intervenção rápida que se encontra aqui em Mandimba. Não tem feito muitas vezes o seu trabalho de patrulha, e muitos de nós sabemos que a intervenção rápida é famosa naquele aspeto de chambocar (bater nas pessoas). Então, porque os populares temem situações do género preferem não sair de casa. Esta situação já está a afetar os alunos e funcionários, que têm que frequentar aulas à noite e ir para o trabalho. Na primeira semana depois daquele incidente não houve frequência dos alunos nas escolas”, disse o residente em Mandimba, que preferiu não se identificar.
Esse sentimento de uma acalmia aparente é também partilhado por Domingos Singoia, outro residente em Mandimba. "Depois dos confrontos, e para acalmar a população, as autoridades nomearam um outro comandante da PRM, o chefe das operações e todos os guardas de fronteira deixaram a função. Agora o ambiente é calmo e pelo menos não há agitação. Até quase as 20h tudo fica calmo e não se vêm muitas pessoas nas ruas”.
Momento delicado
Com a remodelação da corporação no distrito fronteiriço, o porta-voz da polícia no Niassa, Alves Mate, espera salvaguardar o nome da Polícia de República de Moçambique."A situação da ordem e segurança públicas naquele ponto da província mantém-se calma e estável. É verdade que tivemos que tomar certas medidas e fomos obrigados neste caso a substituir o comandante e o chefe das operações e da polícia de fronteira, isto para preservar a sua integridade física, visto que as suas vidas estavam a ser ameaçadas, porque eram considerados inoperantes pela população”.
Questionado se a policia já encontrou o criminoso que tirou a vida ao cambista, Alves Mate afirmou que esforços estão sendo envidados no sentido deste caso ser esclarecido. "Não só este homicídio, mas os restantes casos que têm ocorrido naquele distrito”, concluiu.
Segundo a polícia, quatro pessoas foram detidas, por suspeita de terem sido cabecilhas da manifestação. Recorde-se que quatro pessoas morreram e seis ficaram gravemente feridas nos confrontos entre a polícia moçambicana e a população de Mandimba, no início deste mês.
As vítimas foram atingidas por balas perdidas, disparadas por elementos da polícia, que alegadamente se defendiam de um ataque da população às instalações.
A morte de um cambista informal motivou a revolta da população contra a polícia, que julga estar envolvida no crime.
Obras sobrefaturadas transformam Vilanculos em cidade-fantasma
Falta de transparência, obras inacabadas e a preços exorbitantes. Corrupção generalizada no Conselho Municipal de Vilanculos, em Inhambane, gera construções inacabadas, que não podem aproveitadas pela população.
Foto: DW/L. da Conceicao
O triplo do preço real
No Conselho Municipal de Vilanculos, na província moçambicana de Inhambane, os preços das obras estão a ser adulterados para beneficiar funcionários que recebem comissões ilegais de empreiteiros depois da adjudicação. Três balneários públicos ainda em construção custaram meio milhão de meticais aos cofres públicos, três vezes acima do preço normal.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Construções desnecessárias
O Conselho Municipal de Vilanculos construiu um alpendre com mais de 50
bancas. O investimento foi de 1,5 milhões de meticais, mas, há dois anos, quase ninguém ocupa esta infraestrutura. Os vendedores negam-se a ocupar as
bancas alegando que "não querem servir de fatura de alguém". A obra
não corresponde ao preço real segundo empreiteiros ouvidos pela DW África.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Obras continuam
As construções continuam em Vilanculos sem que ninguém ocupe as bancas. No mercado central, está a ser construído um novo mercado de peixes financiado pelo programa PROPESCA. O valor é de 9,6 milhões de meticais, quatro vezes acima do preço normal. A obra tem um prazo de 240 dias para ser executada e está a cargo da empresa Vilcon, cujo dono é investigado por fuga ao fisco.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Areia vermelha nas ruas principais
Muitas ruas na vila turística de Vilanculos não têm pavimento, mas o Conselho Municipal gasta mais com a colocação de área vermelha do que com paves. Os munícipes reclamam da degradação dos seus automóveis e questionam: "Por que gastar dinheiro com areia enquanto pode-se colocar paves ou saibro com o mesmo valor?". A colocação da areia vermelha facilita o esquema de corrupção no município.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Ruas em péssimo estado
Todos os anos, a Assembleia Municipal aprova o orçamento para a reabilitação desta rua do Mercado Novo. A via, no entanto, continua esburacada. O dinheiro sempre é dividido em comissões e resta pouco para a execução. A empreiteira selecionada é, há dois anos, a única empresa contratada para o efeito e não é sediada em Vilanculos, gerando o descontentamento de empresários locais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Arrendamento caro
O sistema de corrupção no Conselho Municipal de Vilanculos tem foco na construção de novas bancas para facilitar a divisão do dinheiro entre os empreiteiros e os funcionários do órgão. É o caso concreto destas 12 bancas que foram construídas há dois anos no bairro 19 de Outubro, mas ninguém quer arrendar. Segundo os vendedores, o arrendamento está muito caro e não há rede elétrica.
Foto: DW/L. da Conceicao
Uma residência que custa milhões
As obras superfaturadas em Vilanculos também envolvem o governo da província de Inhambane. Este projeto prevê um investimento de quase 83 milhões de meticais para a construção de uma residência protocolar. Entretanto, falta transparência. A obra tem duração prevista de cinco anos, mas não se sabe quando começou.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cadê o dinheiro?
O conselho empresarial de Vilanculos reclamou recentemente a reabilitação da Rua da Marginal para servir como cartão de visita aos turistas. Entretanto, anualmente tem se colocado areia vermelha para diminuir buracos de modo a permitir a circulação de viaturas, mas a rua continua em estado crítico. Os munícipes sempre questionam: Para onde vai o dinheiro da reabilitação desta via importante?
Foto: DW/L. da Conceicao
Corrupção de barba branca
A corrupção em Vilanculos vem desde há muito tempo. Em 2012, uma obra da reabilitação de uma avenida com quase três quilómetros custou quase 44 milhões de meticais aos cofres do município. A obra esteve a cargo da empresa chinesa Sinohydro e o financiamento veio do fundo de estrada. Até hoje, ninguém sabe
como tanto dinheiro foi gasto nesta obra.
Foto: DW/L. da Conceicao
Funcionários detidos por corrupção
Cerca de dez funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos foram indiciados pelos crimes de corrupção e adjudicação de obras acima do preço normal. Dois foram detidos no ano passado por vender terrenos na zona da costa. Mangais foram destruídos para dar lugar à construção de um hotel residencial. Um flagrante desrespeito à lei ambiental.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mangal vendido para dar lugar a hotéis
Boa parte da terra na costa foi adquirida por um empresário sul-africano que destruiu o mangal para construir condomínios. Alguns funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos ainda estão sendo ouvidos no gabinete de combate à corrupção. A lei ambiental moçambicana proíbe a destruição de mangais e prevê punições.