Constituição reconhece autarquias, poder tradicional e estruturas de participação - incluindo conselhos e associações - como partes integrantes do poder local em Angola. Associações são a ponta frágil nesta estrutura.
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No ano em que está prevista a realização das primeiras eleições autárquicas da História de Angola, muitas questões têm sido levantadas e mesmo contestações têm acontecido nas grandes cidades como Luanda. Em janeiro, por exemplo, o movimento "Jovens pelas Autarquias" manifestou-se diante do Parlamento para exigir a aprovação do pacote eleitoral autárquico até março e a realização das eleições em todo o território nacional.
Este tipo de postura proativa da juventude é vista com uma "novidade" pelo coordenador de Governação do instituto norueguês Christian Michelsen, Aslak Orre.
Segundo o cientista político, há uma movimentação visível da sociedade civil urbana para a realização das eleições, e os jovens parecem comprometidos com um espírito de cidadania e civismo em vez de militância partidária.
"Chamo a atenção para os movimentos juvenis que estão a surgir um pouco por todas as cidades mais importantes. Muitos jovens dizem estar comprometidos com a ideia de democracia e, em contraste com tempos anteriores, já não parecem estar tão apegados a um ou outro partido", explica Orre.
O coordenador do Observatório Eleitoral Angolano (ObEA), Luís Jimbo, alerta que as associações praticamente não têm qualquer expressão. Jimbo lembra que esta fragilidade que atinge frontalmente a sociedade civil não contribuirá para o equilíbrio na gestão das autarquias após as eleições.
Para o observador, essa característica poderá ser prejudicial para o alcance de resultados satisfatórios na governação. Quanto às formas de participação do cidadão, um desafio, segundo Jimbo, está no facto de não existir legislação, nem experiência em organizar as associações locais.
"Temos, sim, as experiências das organizações comunitárias de base, das auscultações nos municípios, mas não há um quadro legal no qual as pessoas se sintam protegidas a nível do município, do bairro, da embala, para participarem na esfera pública. Aqui as associações são nacionais, regionais...", diz o coordenador do ObEA.
O que desequilibra o poder local em Angola?
Agulha no palheiro
De facto, para esta reportagem, encontrar uma associação local foi como achar uma agulha no palheiro, o que faz questionar o verdadeiro papel das associações na estrutura de participação popular do poder local. O presidente da Associação Juvenil do Cazenga, Divaldo Vaz, diz que a sua associação pretende participar na gestão das autarquias promovendo um programa de manutenção da democracia.
Com a iniciativa, a associação quer trabalhar para a sustentabilidade das associações com maior vigilância e combate às desigualdades no município. "Também lutaremos por maior transparência pública, visto que será nas autarquias locais onde tudo dependerá do município".
Ao contrário de Aslak Orre, Jimbo não é tão otimista em relação ao nível de cidadania dos angolanos. O especialista em eleições considera que a falta de consciência de participação ativa é um dos desafios no país.
Para Jimbo, há uma consciência generalizada de que o administrador público é quem resolve todos os problemas, um sentimento de que "eu não tenho de participar na gestão da escola, é o Ministério da Educação que tem de resolver o problema da escola".
"São problemas que chegamos a ter neste processo de instituir tanto o reconhecimento do poder tradicional como das formas de participação do cidadão", avalia.
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.