A DW África fez um apanhado do que foi notícia na imprensa alemã sobre as eleições em Angola.
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O que se supunha "Um novo amanhecer após a 'era Santos'" tornou-se "João Lourenço ganha eleições em Angola". Foi com estes dois títulos que um dos principais periódicos alemães, o "Frankfurter Allgemeiner Zeitung", destacou, em dois artigos, as eleições gerais de 24 de agosto em Angola.
Fundado em 1949, o FAZ é um dos periódicos alemães de circulação nacional mais tradicionais e, nos últimos dias, reportou frequentemente sobre as eleições em Angola. Com particular destaque, observou como Angola – um país rico em petróleo e diamantes, mas ainda refém da pobreza – poderia ter tido agora uma alternância de poder, que acabou por não acontecer.
"Uma mudança de poder poderia ter tido consequências nas relações com a Rússia, o maior fornecedor de armas do país. O líder da oposição Adalberto Costa Júnior critica a guerra na Ucrânia. O Governo angolano absteve-se numa votação na Assembleia Geral das Nações Unidas."
O periódico destacou a rapidez com que os resultados eleitorais foram publicados este ano: "Já na quinta-feira, um dia após o escrutínio, mais de 80% dos boletins de voto tinham sido processados".
"Nas últimas eleições gerais, de 2017, foram necessárias duas semanas para se obter um resultado. A pressa pode também estar relacionada com o funeral de Estado do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, no domingo (28.08)", acrescentou.
O funeral de Eduardo dos Santos
A chegada do corpo de José Eduardo dos Santos a Angola pouco antes das eleições e o funeral do antigo chefe de Estado no domingo também foi tema de destaque na página online da revista "Der Spiegel", uma dos mais lidas na Alemanha.
Com o título "Do exílio espanhol de volta a Angola", o periódico destacou nesta segunda-feira (29.08) que as exéquias de JES foram ensombradas pela disputa sobre o vencedor das eleições gerais de quarta-feira passado. É que mesmo quando 97% dos votos contados já davam vitória ao MPLA, com 51,07 %, o maior partido da oposição, a UNITA, exigia uma verificação independente.
Sobre os resultados eleitorais, o canal público "Tagesschau", que tem um dos noticiários mais antigos na televisão alemã, salientou, num artigo online, que, pela primeira vez desde o fim da guerra civil em Angola, as coisas poderiam ficar "apertadas" para o MPLA.
"Uma mudança de poder em Angola parecia possível, mas o partido no poder ganhou novamente", lê-se na página. O MPLA, partido que foi no passado apoiado pelo socialismo soviético, "governa o país há quase 50 anos, e o seu maior adversário, a UNITA, não teve qualquer hipótese em todas as rondas eleitorais até agora", escreveram.
MPLA - cada vez mais "rural"
"MPLA e UNITA - parece que a guerra da independência contra Portugal ainda está em curso [...] num país que é independente desde 1975. Mas Angola é também um país onde prevaleceu a guerra civil até 2002 e que, durante muitos anos, foi - e em grande medida ainda é - um símbolo de corrupção e nepotismo", acrescentou o veículo alemão.
Por outro lado, o "Tagesschau" alertou também para o papel que os jovens desempenham nestas eleições angolanas, que estão a ser acompanhadas de contestação nas ruas. "Parece que os jovens angolanos desempenharão o papel decisivo na eleição. Diz-se que seus valores e crenças são dramaticamente diferentes dos dos que estão no poder."
Já a destacar a queda do apoio ao MPLA na cidades, o jornal alemão de esquerda liberal TAZ escreveu num artigo publicado esta segunda-feira que existe uma tendência crescente dos jovens angolanos nas grandes cidades de não apoiarem mais o MPLA.
Ainda segundo este órgão, Angola está a reproduzir uma tendência de outros países da região, como a África do Sul e o Zimbabué, onde os antigos movimentos de libertação no poder se estão a tornar cada vez mais partidos rurais. "As grandes cidades, com as suas populações largamente jovens, desempregadas e descontentes, que experimentam poucas oportunidades de progresso e muita corrupção na sua vida quotidiana, estão a tornar-se bastiões da oposição", lê-se.
Angola: As eleições em imagens
Esta quarta-feira é dia de Angola decidir quem será o próximo Presidente e os deputados da Assembleia Nacional. A DW compilou as imagens desta manhã de eleições, no dia em que 14 milhões de angolanos vão às urnas.
Foto: Adolfo Guerra/DW
Longas filas no dia de decidir
As mesas de voto só abriram às 07h00, mas as filas para votar nas eleições mais disputadas de sempre em Angola começaram a formar-se bem cedo. Cabe aos eleitores decidir se "a força do povo" continua do lado do MPLA, mantendo no poder o partido que governa o país desde a independência, ou se dizem "sim" ao apelo de mudança da oposição liderada pela UNITA.
Foto: John Wessels/AFP
Oito partidos na corrida
Além dos rivais Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), concorrem Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Partido de Renovação Social (PRS), Aliança Patriótica Nacional (APN), Partido Nacionalista para a Justiça (P-NJANGO), Partido Humanista de Angola e a coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE).
Foto: António Cascais/DW
Madrugar para votar
Aos 79 anos, Adélia Namalange exerce hoje o seu direito de voto pela quinta vez. A idosa chegou às 5h00 à assembleia de voto número 9658, no município do Lobito, em Benguela, e esperou duas horas pela abertura das urnas, no dia que 14 milhões de angolanos decidem o futuro político do país.
Foto: Daniel Vasconcelos/DW
João Lourenço apela ao voto: "É Angola que ganha"
"Acabámos de exercer o nosso direito de voto, é rápido e é simples", disse João Lourenço, na assembleia de voto n.º 105, em Luanda, convidando os eleitores a fazerem o mesmo. No meio de uma enorme confusão de jornalistas que queriam registar o momento, o candidato do MPLA salientou que todos saem a ganhar: "É a democracia que ganha, é Angola que ganha."
Foto: AP Photo/picture alliance
Adalberto Costa Júnior critica processo
O líder da UNITA votou no bairro 28 de Agosto, em Luanda, onde foi fortemente aplaudido pelos eleitores presentes. "Fiquei satisfeito e votei no meio do meu povo e constatei que a votação está a ser feita sem cadernos eleitorais aos fiscais, apenas um caderno eleitoral na mesa", afirmou Adalberto Costa Júnior, que defendeu mais uma vez a afixação dos resultados nas assembleias de voto.
Foto: John Wessels/AFP
Manuel Fernandes "plenamente" confiante na vitória
Manuel Fernandes, o candidato da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), votou esta manhã no Bairro Militar, em Talatona, Luanda. Depois de votar, manifestou "plena confiança" no resultado eleitoral do atual terceiro partido com mais assentos no parlamento angolano.
Foto: Borralho Ndomba/DW
"Grande expetativa" de Nimi Ya Simbi é ganhar eleições
Nimi Ya Simbi, candidato da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), votou em Viana, um dos mais populosos municípios de Luanda. Minutos depois, Nimi disse que a sua "grande expetativa é ganhar as eleições." O líder da FNLA acredita que o seu partido "vai vencer" as eleições, "porque quem vai para o combate não vai para perder", tendo enaltecido o cumprimento do seu dever cívico.
Foto: Nelson Francisco Sul/DW
Benedito Daniel exorta à afixação das atas
O candidato do Partido de Renovação Social (PRS) exerceu o seu direito de voto no Instituto Superior Politécnico do Bita, em Luanda. Após votar, Benedito Daniel manifestou um "sentimento de alegria e de dever cumprido", exortando à afixação das atas sínteses nas assembleias. Disse também esperar que a CNE possa corresponder às expetativas dos eleitores.
Foto: DW/M. Luamba
Bela Malaquias insite em "humanizar" Angola
A líder do Partido Humanista de Angola (PHA), Florbela Malaquias, manifestou um "sentimento de realização" após votar e reiterou a promessa de humanizar Angola, "que se encontra completamente desumanizada em todos os sentidos", sublinhou a única mulher a liderar um partido político em Angola, depois de votar no bairro do Maculusso, distrito urbano da Ingombota, em Luanda.
Quintino Moreira, líder da Aliança Patriótica Nacional (APN), sem assento no Parlamento angolano, manifestou-se "otimista" em relação à obtenção de uma "bancada parlamentar vasta", para que não haja maiorias absolutas na "casa das leis", afirmou esta manhã, depois de depositar o seu voto numa assembleia de voto, em Talatona, perto da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dinho Chingunji contra "Votou, Sentou"
O candidato do Partido Nacional para a Justiça em Angola (P-Njango) considerou hoje as eleições como "ocasião soberana" para escolha dos governantes e exortou os eleitores a esperarem os resultados em casa, contrariando o movimento "Votou, Sentou". Chingunji, que votou no município do Kilamba Kiaxi, em Luanda, exortou "os cidadãos a regressarem para as suas casas e a esperar pelos resultados".
Foto: Borralho Ndomba/DW
CNE diz que está tudo a funcionar
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que as 13.238 assembleias de voto espalhadas pelos 164 municípios angolanos "estão abertas e em perfeito funcionamento" e "não há registo de qualquer incidente" que possa beliscar a votação. Também foram constituídas 45 mesas de voto no estrangeiro, para as quais foram recrutados 105.952 membros.
Foto: António Cascais/DW
UNITA denuncia irregularidades no Bengo
No Bengo, a UNITA chamou os jornalistas para denunciar supostas irregularidades na votação. De acordo com o partido do "galo negro", a CNE local está a proibir que os delegados de lista suplentes exerçam o direito de voto nas assembleias para as quais estão destacados, contrariando, desta forma, uma circular da própria Comissão Nacional de Eleições.
Foto: António Ambrósio/DW
Queixas de eleitores em Cabinda
A votação em Cabinda está a decorrer com alguma normalidade, mas com várias queixas por parte dos eleitores que dizem desconhecer as suas mesas de voto. Os cidadãos são obrigados a percorrer longas distâncias para votar, já que foram colocados em pontos longínquos da província e da capital. E há delegados de lista de partidos que não foram credenciados.
Foto: Simão Lelo/DW
Delegados monitorizam processo
Delegados de lista dos partidos políticos controlam o processo de votação no Bairro da Cuca, em Luanda, a capital. Durante a campanha eleitoral, o polémico movimento "Votou, Sentou", propalado por alguns partidos e membros da sociedade civil, também pediu aos eleitores para permanecerem nas imediações das assembleias de voto.
Foto: Manuel Luamba/DW
O voto da diáspora em Portugal
O ator Daniel Martinho, a viver há cerca de 40 anos em Portugal, foi ao Consulado Geral de Angola em Lisboa votar, feliz por ser a primeira vez que foi dada à comunidade radicada no exterior a possibilidade de exercer o direito de voto. "Era uma aspiração que nos incomodava", contou à DW. "É uma forma de contribuirmos para um país melhor, porque nós na diáspora também fazemos Angola", precisou.