Presidente Sassou Nguesso, há 37 anos no poder, é o favorito nas eleições de domingo. Oposição aposta no "desejo de mudança" dos cidadãos, mas é realista: "Sabermos que está em marcha o mecanismo de fraude eleitoral".
Publicidade
A República do Congo terá no domingo (21.03) uma eleição na qual seis candidatos tentam impedir mais um mandato do Presidente Denis Sassou Nguesso, no poder há 37 anos. Poucos analistas acreditam, entretanto, que isso seja possível.
Entre os adversários mais sonantes de Nguesso estão o antigo ministro das Finanças, Mathias Dzon, e o antigo candidato presidencial Parfait Kolélas. No entanto, os observadores dão-lhes poucas hipóteses.
"Nguesso está no poder há 37 anos, há mais de sete mandatos. Em 2015, foi submetido a um referendo que lhe deu mais três mandatos de cinco anos cada um. Na prática, isso significa que ele tem mais 10 anos de mandato daqui em diante", opina a jornalista Sadio Kanté-Morel, acrescenta que a eleição será um "exercício com resultado já pré-determinado".
Kanté-Morel não duvida que Nguesso manter-se-á no poder, nem que para isso tenha de recorrer ao uso da força.
Perseguição política
A jornalista fala por experiência própria. Foi forçada a abandonar Brazzaville e a exilar-se em França em 2014 devido à pressão do regime. Kanté-Morel foi perseguida e detida várias vezes por protestar contra o prolongamento do mandato do atual Presidente.
Também a Conferência Episcopal - que já em fevereiro mostrou "sérias reservas" sobre a organização das eleições presidenciais - não acredita num processo transparente.
Para além da falta de observadores eleitorais independentes, aponta que vários candidatos foram excluídos da corrida, o que também é indicativo de que o processo voltará a ser controlado pelo Partido Trabalhista Congolês, de Nguesso.
Publicidade
Crédulos ou realistas?
Mesmo assim, há quem esteja otimista. O diretor de campanha do candidato da oposição Parfait Kolélas, crê que, desta vez, há uma situação diferente das eleições de 2016.
"As pessoas querem mesmo uma mudança política, por isso irão às urnas em grande número. Ganharemos estas eleições apesar de sabermos que Nguesso já pôs em marcha o seu mecanismo de fraude eleitoral", diz Rodrigue Mayanda.
O sentimento é partilhado pelo antigo ministro das Finanças, Mathias Dzon, que é agora o candidato da Presidência da União Patriótica para a Renovação Nacional.
"O mundo inteiro sabe que Denis Sassou Nguesso nunca ganhou uma eleição na República do Congo na sua vida. Só tem conseguido vencer à força. Esperamos que desta vez os congoleses digam não a Nguesso", declara Dzon.
Fortemente armado
Um relatório divulgado recentemente pelo Projeto Crime Organizado e Corrupção dá conta que, nos últimos anos, a República do Congo importou "discretamente" 500 toneladas de armas do Azerbaijão, tendo a entrega mais recente sido feita em janeiro deste ano.
Os dados aumentaram ainda mais os receios de que Nguesso possa estar a pensar em assegurar outro mandato com a ajuda do exército.
"Contra quem é que ele vai usar estas armas, contra o seu próprio povo? Desde 2015, a República do Congo comprou um arsenal de armas, 16 carregamentos, mais de 800 toneladas. Estará ele a tentar manter o poder à força?", questiona Kanté-Morel.
Apesar de ser um país rico em matérias-primas, a maioria da população da República do Congo vive na pobreza.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.