Teodato Hunguana, da FRELIMO, e Raúl Domingos, antigo número dois da RENAMO, são unânimes na necessidade de reconciliar o país e passar à sua despartidarização.
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Em Moçambique foram assinados, desde 1992, três tratados de paz. Todos fracassaram e o país voltou a mergulhar em guerra. Teodato Hunguana, do partido governamental Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e o antigo número dois da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Raúl Domingos, concordam que o que falhou foi a não inclusão da reconciliação nacional como parte do protocolo do Acordo Geral de Paz, assinado em Roma, em 1992.
Domingos, que na altura era chefe da delegação da RENAMO, refere que a questão da reconciliação é séria e devia estar acima de temas como as eleições. O país "precisa de algo programático, que permita este convívio entre os moçambicanos. A partir deste conhecimento, podemos ter solução para outras questões. Porque uma das prioridades da paz é a confiança. Construímos a confiança e foi assim que tivemos protocolos de garantia", disse Domingos à DW África.
Colocar fim à partidarização
Este político aponta igualmente as alegadas fraudes eleitorais por que Moçambique passou desde 1994 como outra causa dos conflitos armados. Além disso, destaca que as instituições do Estado devem servir os interesses de todos os moçambicanos e não apenas de alguns: "Tornar a administração pública num serviço público neutro e destinado a servir todo o povo é uma exigência que também se impõe ao nível da União Africana e das Nações Unidas, através de convenções para eleições democráticas e boa governação, entre outros importantes instrumentos nacionais e internacionais".
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O constitucionalista Teodato Hunguana, que fez parte da delegação do Governo nas conversações de paz em Roma, também considera que a não despartidarização do aparelho do Estado é uma falha no país. Hunguana diz mesmo que o país sofre de uma doença chamada "partidismo" e apela à emancipação das instituições públicas.
A questão da moçambicanidade
"Partidismo significa que nós ficamos em compartimentos distantes e a moçambicanidade fica dividida. Nós ficamos com uma nação da RENAMO e outra da FRELIMO. Nós não vivemos com este conceito de pátria entre nós", disse.
Hunguana, que também foi deputado da FRELIMO na primeira legislatura, avisa que se deve discutir a questão da moçambicanidade, porque: "Nós vamos ver os problemas do país pelo buraco, pela janela do nosso partido. E não vamos partilhar [esses problemas]. Eu penso que este é um drama da nossa sociedade e não estamos a deixar um bom legado que se consolide cada vez mais na nação."
Acordo de Paz histórico em Moçambique
Em Moçambique, o Presidente Filipe Nyusi e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, formalizaram na quinta-feira (01.08) o fim das hostilidades militares no país. O acordo, já considerado histórico, é o terceiro em 25 anos.
Foto: DW/A. Sebastião
Acordo histórico
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, erguem o acordo de paz e fim das hostilidades, que foi assinado na Serra da Gorongosa, província de Sofala, centro do país. O local é conhecido como bastião da RENAMO. O acordo tem como objetivo acabar com os confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/A. Sebastião
Anos de hostilidade
"Estamos aqui em Gorongosa para dizer a todos moçambicanos e ao mundo inteiro que acabámos de dar mais um passo, que mostra que a marcha rumo à paz efetiva é mesmo irreversível", declarou Filipe Nyusi, referindo-se ao acordo assinado com a RENAMO. É o terceiro documento após anos de hostilidades. O primeiro foi assinado em 1992, em Itália - o chamado Acordo Geral de Paz de Roma.
Foto: DW/A. Sebastião
Virar a página
"Com esta assinatura do acordo de cessação das hostilidades militares, queremos garantir ao nosso povo e ao mundo que enterramos a lógica da violência como forma de resolução das nossas diferenças", afirmou o líder da RENAMO, Ossufo Momade, ressaltando que "a convivência multipartidária será o apanágio de todos partidos políticos".
Foto: DW/A. Sebastião
Silenciar das armas
O pacto cala oficialmente as armas e prolonga de forma definitiva uma trégua que durava desde dezembro de 2016, depois de vários anos de confrontos armados entre as forças governamentais e o braço armado da RENAMO.
Foto: DW/A. Sebastião
Abraço da paz
Na cerimónia de assinatura do acordo, o Presidente de Moçambique Filipe Nyusi mostrou-se otimista em relação aos próximos anos, dizendo que "a incerteza deu ligar à esperança e o futuro de Moçambique é promissor".
Foto: DW/A. Sebastião
"Paz vai ser testada nas eleições"
Este novo acordo é um passo muito importante para Moçambique e também para todos os partidos. Daviz Simango, líder do MDM, esteve na cerimónia e alertou: "Temos que trabalhar muito neste processo eleitoral que se avizinha. Portanto, se o STAE nos proporcionar o teatro, que tem vindo a fazer de ciclo em ciclo eleitoral, pode proporcionar o retorno a essas situações de conflitos militares".
Foto: DW/A. Sebastião
Unidos pelo acordo
Horas depois da assinatura do acordo, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse na Beira que o Governo e a RENAMO vão unir-se para debelar qualquer tentativa de prejudicar o acordo de cessação definitiva de hostilidades militares.