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PolíticaCamarões

O que mantém Paul Biya no poder há tanto tempo?

Martina Schwikowski
24 de julho de 2025

Aos 92 anos, Paul Biya já é o chefe de Estado mais velho do mundo. Em outubro, ele pretende ser reeleito. O seu aparato de poder é mantido estável através da dureza e do medo da perda de privilégios.

Paul Biya | Presidente dos Camarões
Aos 92 anos de idade, Paul Biya quer ser releito pela oitava vez Presidente dos CamarõesFoto: Jacovides Dominique/Pool/ABACA/picture alliance

"O melhor ainda está por vir." É esta a promessa com que Paul Biya, atual Presidente dos Camarões, se apresenta a um oitavo mandato. Aos 92 anos, o chefe de Estado mais velho do mundo está no poder desde 1982. Se vencer as eleições marcadas para 12 de outubro, poderá governar até perto do seu centésimo aniversário.

Ao fim de mais de quatro décadas de liderança, muitos camaronenses mostram-se descrentes quanto à possibilidade de um futuro melhor sob a presidência de Biya. As maiores preocupações da população mantêm-se inalteradas: o desemprego, a fraca qualidade da educação e o acesso limitado aos cuidados de saúde.

Apesar disso, a nova candidatura do Presidente gera, em muitos casos, apatia. Para Olivier Njoya, estudante universitário, "não é nenhuma surpresa. É simplesmente uma pena que haja pessoas que não pensam no bem comum, mas apenas nos seus próprios interesses."

Há décadas que a população dos Camarões espera por uma mudança política que reforme o país.Foto: Blaise Eyong

Christian Klatt, diretor da Fundação Friedrich Ebert nos Camarões, sublinha a longevidade política de Biya como um fenómeno digno de nota: "O que se ouve repetidamente de todos os lados, sejam adversários políticos ou mesmo do seu próprio campo, é que ele é uma pessoa muito tática e política, que sabe como colocar os concorrentes uns contra os outros."

Oposição fragmentada e frágil

Para Klatt, essa capacidade tem impedido o surgimento de um verdadeiro sucessor, seja dentro do seu próprio partido ou entre os partidos da oposição.

As tentativas de formar uma frente unida contra Biya têm falhado sistematicamente. A mais recente coligação, conhecida como Grupo Douala, desfez-se antes mesmo de formalizar uma candidatura à presidência. As divisões ideológicas e estratégicas entre os partidos opositores continuam a minar qualquer esforço de mudança.

Grande parte da população camaronense é composta por jovens – muitos acreditam que as suas vozes não são ouvidas pela políticaFoto: Henri Fotso/DW

Entretanto, cresce a perceção de que o Presidente é, na verdade, o rosto de um sistema mais amplo e opaco. Philippe Nanga, ativista de direitos humanos, afirma que "assim que outro assumir oficialmente o poder, o partido irá dividir-se. Já existem profundas divisões internas." Segundo o ativista, vários funcionários discordam da recandidatura de Biya, mas optam pelo silêncio por receio de represálias.

Medo sustenta o regime

A ONG Freedom House documenta, no seu relatório mais recente, uma tendência de repressão crescente, com ataques a "meios de comunicação independentes, partidos da oposição e organizações da sociedade civil, que foram confrontados com proibições e perseguições."

Philippe Nanga: "vários funcionários discordam da recandidatura de Biya, mas optam pelo silêncio por receio de represálias"Foto: Kepseu/Xinhua/picture alliance

Para o politólogo Ernesto Yene, o controlo do poder por Biya é sustentado por um sistema que se alimenta do medo e da autopreservação: "E quem ousar bater a porta será rapidamente marginalizado. Na realidade, todos se escondem atrás da candidatura de Paul Biya, porque ela garante a todos a preservação dos seus privilégios dentro do aparato do poder. Se outro candidato surgisse, o partido correria o risco de implodir."

À medida que se aproxima o dia das eleições, o país parece preso a um ciclo político que muitos consideram esgotado, mas do qual poucos conseguem — ou ousam — libertar-se.

Paul Chouta, um jornalista em risco de vida nos Camarões

02:18

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