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TerrorismoNigéria

O que muda com a morte do líder do Boko Haram?

Henry-Laur Allik | az
9 de junho de 2021

Forças de segurança ainda tentam verificar se Abubakar Shekau realmente está morto. Analistas acreditam que morte de líder do Boko Haram poderá causar mais problemas para o Governo da Nigéria e dos países vizinhos.

Fahndungsfoto Abubakar Shekau
Foto: Getty Images

O líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, teria morrido no dia 18 de maio durante um confronto com militantes jihadistas do Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP). Ele teria se explodido numa floresta de Borno, no noroeste da Nigéria. 

A informação sobre a morte de Shekau foi avançada pelo ISWAP. O que gera ainda algum ceticismo sobre a morte do líder do Boko Haram é que não é primeira vez que ele é declarado morto. Várias vezes, circularam informações sobre a sua morte, mas o líder jihadista reapareceu em vídeos, provocando o Governo do Presidente Muhammadu Buhari.

O especialista em segurança, Kabir Adamu, acredita que desta vez Shekau foi morto, porque a informação foi confirmada por todas as fontes que poderiam verifica-la. "Os únicos que ainda estão em dúvida são as forças militares que querem fazer uma investigação com teste de ADN para saber o que realmente aconteceu", disse Adamu em entrevista à DW África.

Shekau ficou conhecido pelo rapto de centenas de raparigas em 2014Foto: Reuters

Explosão em confronto

Adamu lembra, no entanto, que tal investigação poderá ser dificultada pelas circunstâncias da morte. Sheku teria explodido a si próprio e "quaisquer restos mortais serão difíceis de obter".

Até a data, o Boko Haram também ainda não confirmou a morte do seu líder. Mas isto dever-se-ia, segundo Adamu, principalmente a "desordem" do grupo depois da suposta morte do líder.

"Nos últimos meses, os seus comandantes foram presos. A maioria aceitou a liderança da ISWAP ou foi morta. Talvez seja por isso que [a organização] ainda não se pronunciou sobre a morte", explica.

Shekau chegou à liderança do Boko Haram em 2009 depois do fundador do grupo, Mohammed Yusuf ter morrido sob custódia policial. De lá para cá, tornou-se no líder mais antigo num grupo jihadista em atividade pelo mundo. Sua liderança foi sempre marcada pelo medo e pelo seu estilo implacável. "Matava comandantes e seguidores se estes discordassem da sua agenda", lembra Adamu.

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Conflito de interesses

Outro analista de segurança, Yahuza Getso não está convencida de que uma diferença de estratégia seja suficiente para explicar a violência entre as duas organizações jihadistas. "A questão é, porque é que o ISWAP luta contra Boko Haram? Se as duas milícias islâmicas estão a lutar uma contra a outra, algo está definitivamente errado algures", disse Getso à DW.

Ele suspeita de um forte envolvimento de interesses externos, ligados à rivalidade local entre a Nigéria anglófona e os seus vizinhos francófonos, bem como os interesses das "superpotências na Bacia do Lago Chade".

Kabir Adamu não tem dúvidas de que os rebeldes recebem ajuda do exterior, incluindo outros grupos jihadistas. Mas ele diz que é "quase impossível" verificar as várias teorias da conspiração que circulam. "Mesmo que os atores estatais os apoiem, eles não o farão diretamente. É provável que o façam através de atores não estatais que estejam a operar na região", disse ele.

Ambos os analistas também concordam que embora o governo de Buhari possa sentir uma sensação de alívio por se ver livre do seu mais notório terrorista, a morte de Shekau pode acabar por causar mais problemas para a região.

"Mais problemas para o governo nigeriano. Mais problemas para o governo camaronês. Mais conflitos e um possível reagrupamento dos rebeldes no Chade", disse Getso.

A consolidação do ISWAP

Um ISWAP reforçado será mais capaz de coordenar operações através das fronteiras para atingir o seu objetivo declarado de estabelecer um califado. Segundo Adamu, "é muito provável que vamos assistir a consolidação do ISWAP no Sahel e na Bacia do Lago Chade", colocando-os em posição de obter mais fundos do "Estado Islâmico" e atrair mais recrutas.

Presidente Buhari defende resposta armada vigorosa contra terrorismoFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

A popularidade do ISWAP está a crescer não só porque evita atingir civis. Os jihadistas tentam oferecer à população serviços públicos em áreas onde o Estado está largamente ausente. "As queixas centradas em torno da desigualdade, pobreza, segregação, em torno de uma estrutura política que não permite a participação da população no Governo, são reais. Continuarão a ser exploradas pelo ISWAP para o recrutamento e a definição de objetivos", explicou Adamu.

Combate às causas profundas

Nos últimos doze anos, o Presidente Buhari tem dado prioridade a uma resposta armada maciça e vigorosa à ameaça terrorista, uma estratégia que tem tido pouco sucesso. Atualmente, "nenhum território é administrado pelos grupos jihadistas", admitiu Adamu, observando que houve também uma redução significativa no número de compromissos diretos com as for e segurança ças d do governo central.

"Mas não vimos sucesso na tentativa de parar o fluxo de armas, parar a capacidade de geração de financiamento, prender a liderança, ou matá-los", disse o analista. E a morte de Shekau enquanto lutava contra os seus rivais jihadistas não ajudará a aumentar a confiança dos nigerianos num exército percebido como fraco, abusivo e corrupto.

Abuja tem uma estratégia antiterrorista que visa atacar as causas profundas do conflito. O analista Adamu acredita que este tipo de abordagem precisa de ser seriamente expandida. "Só então veremos algum sucesso por parte do governo nigeriano", disse ele.

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