Até bem pouco tempo Palma era um distrito esquecido em Moçambique. Mas o gás veio dar um lugar a Palma no mapa. A região está na mira de algumas multinacionais porque possui uma das maiores reservas de gás do mundo.
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A DW África entrevistou David Machimbuko, administrador de Palma, província de Cabo Delgado no norte de Moçambique, que esteve aqui em Bona recentemente para participar no encontro anual da ICLEI (International Council for Local Environmental Initiatives), um Fórum que tem por objetivo envolver Governos locais em prol da Sustentabilidade.
DW África: O que mudou no distrito de Palma com o investimentos na área do gás?
David Machimbuko (DM): Para além dos investimentos para a área de produção ou processamento de gás, temos agora, o nascimento de empresas ligadas ao turismo, que são hotéis que às vezes ou nalgum momento, já se equiparam aos hotéis na cidade de Pemba. E então a população também tem as suas oportunidades de colocar o seu produto no mercado, uma vez que o nível de crescimento populacional corre atrás daquilo que são os investimentos.
Atendendo que há procura de emprego as diferentes áreas que neste preciso momento estão a prestar serviços recrutam o pessoal local e isso é uma mais-valia que a própria população vem ganhando o emprego assim como, na promoção dos seus produtos que localmente produzem.
DW África: É possível mencionar ganhos obtidos já em Palma com esses investimentos quer na área do gás quer na área do turismo?
DM: Na área de turismo já temos quatro hotéis de quatro estrelas, na área económica também ligada ao emprego há mais pessoas que estão a ser empregadas por causa das compensações que estão a acontecer a própria população já consegue promover o autoemprego fazendo atividades económicas como neste caso venda ou compra de produtos colocados no mercado local.
DW África: Em termos de serviços prestados à população, refiro-me à saúde e à educação. Qual foi o ganho que as comunidades obtiveram até agora?
DM: Com base naquilo que são as responsabilidades sociais das empresas, nós temos um bloco operatório que é de renome com um sistema que não se equipara a qualquer um ao nível do país.
Temos um sistema de iluminação que existe ou montado para o hospital local nem o hospital central de Maputo tem. Até agora nós ressentimos a capacidade de fornecimento de energia que afinal a própria qualidade não chega a arrancar todo o equipamento.
Só para sala de observação questões de Raio X, também temos máquinas modernas com capacidade também de serem reparadas ao nível local. Temos laboratório com capacidade de análise de bioquímicas que no entanto equiparamos ao hospital provincial.
O que mudou em Palma com os investimentos no setor do gás?
Para dizer que temos mais ganhos, tivemos também apoios na área da educação o apetrechamento das escolas temos a única escola secundária do nosso distrito, o equipamento que nós recebemos a partir de carteiras da biblioteca, assim como, da sala de informática veio das empresas multinacionais que estão a operar no distrito.
Isto que estamos a falar agora é na fase da prospeção, aliás da construção para garantir que se construam as fábricas. Construíram também equipamento para produção de oxigénio na cidade de Pemba com base naquelas que são as empresas multi-nacionais que estão sediadas em Palma.
DW África: E quem financia esses serviços fundamentais para as comunidades?
DM: Aqui falamos de duas empresas que neste preciso momento já estão a dar a sua mão que é a Eni West África o que apetrechou o bloco operatório, construiu Casas mãe-sspera, apetrechou o bloco de análise e o laboratório, assim como de Raio X, construiu também algumas fontes para fornecimento de água a partir de furos que no entanto consegue abastecer pouco mais de 4 a 5 mil pessoas ao nível da sede do distrito. Enquanto que Anadarco deu um passo no equipamento informático da escola secundária e fornecimento de carteiras na mesma escola. Ainda na cidade de Pemba que o benefício foi de construir uma fábrica de produção de oxigénio que tem a capacidade de distribuir oxigénio em toda província e também fornece a toda as províncias vizinhas isto foi a Eni West África de novo.
Os coqueiros de Inhambane
O coqueiro é muito usado na província de Inhambane, no sul de Moçambique. Seja na construção de casas, salas de aulas, estâncias turísticas e até na gastronomia, esta palmeira garante o sustento de muitas famílias.
Foto: DW/L. da Conceição
"A vida começa assim"
O coqueiro dá novos horizontes principalmente aos jovens que não têm oportunidades de emprego depois de formados. Eles dedicam-se à construção de barracas (casas típicas da região) suportadas pelas ripas de madeira proveniente do coqueiro, cujas folhas são aproveitadas também para vedação dos quintais. As pessoas que vivem nestas condições habitacionais dizem que "a vida começa assim".
Foto: DW/L. da Conceição
Baixa produção
Inhambane chegou a transportar cerca de 1.500 toneladas de derivados de coco, mas nos últimos 10 anos as rendas baixaram e as plantações de coqueiro foram afetadas por pragas. Os cidadãos são prejudicados pelo encerramento de fábricas que tinham como matéria-prima aqueles derivados. O silêncio do Governo preocupa o conselho empresarial, que apela para o uso sustentável dos coqueiros.
Foto: DW/L. da Conceição
Água de coco
É um cartão de visita na região. Composta por vitaminas e sais minerais ricos em benefícios para a saúde, que vão da hidratação à prevenção de doenças, a água de coco é comercializada nos centros das cidades por mulheres oriundas dos subúrbios. Nas praias, é um excelente negócio para adolescentes e jovens. Os vendedores dizem que conseguem um rendimento médio de 10 euros por dia.
Foto: DW/L. da Conceição
De Inhambane a Maputo
José Alfredo, comerciante de coco desde a década 90 em Inhambane, mudou a rota do seu negócio ao Lourenço Marques, hoje Maputo (capital de Moçambique), para conseguir mais lucros. Conseguiu construir duas casas com material convencional e tem algumas cabeças de gado. E ele afirma que os seus filhos nunca deixaram de frequentar a escola.
Foto: DW/L. da Conceição
Fábricas de sabão e óleo
A província de Inhambane tem fábricas para o beneficiamento do coco, empregando cidadãos locais e alguns estrangeiros. Mas, os agricultores reclamam do preço baixo para a venda dos derivados de coco, que são exportados para países da África Austral, Europa, América e Ásia. Nos últimos cinco anos, quatro fábricas já fecharam as portas por falta de matéria-prima.
Foto: DW/L. da Conceição
"Vivo na casa de coqueiro"
Uma frase que todo visitante escuta dos residentes de Inhambane, principalmente os cidadãos com baixo poder aquisitivo. Essa casa alberga cinco pessoas num dos bairros suburbanos. Como forma de proteger a terra, tem-se emprestado o espaço para habitação, mas não se pode construir com material convencional.
Foto: DW/L. da Conceição
"Não tive outra escolha"
Zaqueu Guiamba, jovem que trabalha numa das serrações de madeira na região sul de Moçambique, diz que não teve "outra escolha" depois de concluir o ensino médio. Casado e pai de dois filhos, com este trabalho ele tem rendimento médio de 3 euros por dia - o que dificulta o seu futuro. Zaqueu ainda está de olho em novas oportunidades.
Foto: DW/L. da Conceição
Capela de coqueiro
Principalmente nas zonas rurais, onde muitos grupos religiosos professam cultos, as estacas, ripas, barrotes, madeira e macuti são usados para a construção. O custo do material é muito barato e os próprios fiéis são responsáveis nas reabilitações.
Foto: DW/L. da Conceição
Sura, a bebida do coqueiro
Sura é um líquido extraído das palmeiras e que dá origem a uma bebida alcoólica tradicional na região. Ele também é o ingrediente de bolinhos e pães de sura, que são vendidos nas paragens dos auto-carros. Muitas pessoas, principalmente mulheres, sobrevivem com este negócio. Visitantes desta região sempre provam a iguaria. Uma tradição antiga preservada pelo povo.
Foto: DW/L. da Conceição
Escassez de coco nos mercados
O preço do coco duplicou nos últimos anos e as vendedoras dizem que é devido ao abate constante dos coqueiros, que afeta a sua produção e, consequentemente, os negócios de quem vive desta palmeira. E os clientes reclamam da qualidade do coco, muito utilizado na gastronomia típica da região.
Foto: DW/L. da Conceição
Atração turística
Os coqueiros também servem o tursimo de Inhambane. Várias estâncias turísticas são construídas com as matérias provenientes do coqueiro, principalmente os troncos e as folhas, que são usadas para forrar o telhado.
Foto: DW/L. da Conceição
Bom negócio
Romao Wacela dedica-se ao negócio do tronco de coqueiro há mais de 10 anos na cidade de Maxixe. Ele vende tábuas para porta, barrotes, ripas e prancha. Por dia consegue arrecadar cerca de 10 euros e diz que "coqueiro dá bom negócio". O comerciante sustenta a sua família e ainda tem projetos em carteira para utilizar o coqueiro mesmo sabendo que não está fácil encontrá-lo para o abate.
Foto: DW/L. da Conceição
Indústrias encerradas
A falta de políticas para a produção do coco e a sua reposição levou o encerramento de algumas fabricas que operavam apenas com o material fornecido pelo coqueiro. Esta indústria pertence a um grupo de investidores sul-africanos, mas não funciona há mais de um ano, deixando dezenas de cidadãos sem emprego.