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PolíticaÁfrica do Sul

África em 2025: Resistência à turbulência global?

6 de janeiro de 2025

Com Trump de volta à Casa Branca, crises na Europa e ameaças de guerras comerciais, 2025 promete ser turbulento. Como poderão as nações africanas resistir a esta tempestade?

Presidente Cyril Ramaphosa
A África do Sul pretende situar a sua posição global entre o AGOA apoiado pelos EUA, que dá a algumas nações africanas acesso isento de impostos aos mercados dos EUA, e o crescente grupo BRICS.Foto: SIPHIWE SIBEKO/REUTERS

À medida que 2025 começa, os países africanos enfrentam um panorama político global incerto. A guerra prolongada da Rússia na Ucrânia continua sem fim à vista, os Estados Unidos estão prestes a empossar um líder imprevisível em Donald Trump, e as duas maiores economias da União Europeia — França e Alemanha —, que são também parceiras comerciais tradicionais dos países africanos, enfrentam turbulências políticas.

"Estamos frequentemente numa posição de desvantagem, seja em relação ao Ocidente ou ao Oriente. Muitas vezes ficamos à mercê da forma como os grandes gigantes económicos lidam connosco", disse Tessa Dooms, socióloga e analista política sul-africana.

Turbulência económica através de tarifas comerciais?

Alguns destes ventos contrários poderão vir dos Estados Unidos sob a liderança de Trump. De acordo com Dooms, a maior economia do mundo já deu sinais de que uma guerra comercial global pode estar no horizonte. Os EUA já indicaram a intenção de impor tarifas comerciais a concorrentes, como a China, mas também a aliados, como o México e o Canadá.

O presidente eleito Donald Trump conta com o apoio do sul-africano Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo e CEO da Tesla e da Space X. No entanto, poucos acreditam que Trump priorizará a ÁfricaFoto: Alex Brandon/AP Photo/picture alliance

"Isto poderá impactar não apenas o custo dos bens, mas também as cadeias de produção de determinadas regiões", afirmou Dooms.

Durante o seu primeiro mandato como presidente, Trump pareceu ignorar amplamente o continente africano como parceiro comercial, e muitos analistas esperam mais do mesmo no seu segundo mandato. Em contraste, o presidente cessante Joe Biden comprometeu-se a investir cerca de 55 mil milhões de dólares (€53 mil milhões) no continente africano em 2022 e visitou Angola em dezembro.

Contudo, embora as nações africanas possam não ser alvos diretos das tarifas comerciais ou de uma guerra comercial promovida por Trump, países como a China podem recorrer a África para mitigar o impacto de condições comerciais difíceis.

"A China tem laços bastante fortes com o continente africano, e o crescente bloco BRICS pode definitivamente ver isto como uma oportunidade para reagir contra os EUA, tanto no que diz respeito ao comércio quanto à produção", explicou Dooms. No entanto, ela não acredita que os BRICS (compostos por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irão, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos) possam preencher totalmente o vazio.

"Haverá, sem dúvida, oportunidades para engajamento e para reimaginar os padrões de comércio económico. Os EUA subestimam claramente o poder dos novos blocos económicos. Até a União Europeia tem opções e vê África como parte dessas opções", disse Dooms à DW.

Grandes testes para novos governos

Num cenário incerto, novos líderes assumirão as rédeas do poder. As grandes eleições africanas de 2024 resultaram na derrota de incumbentes no Senegal, Gana e Botsuana. Os eleitores derrubaram o Partido Democrático do Botsuana, que estava no poder há 58 anos desde a independência do Reino Unido.

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Na vizinha Namíbia, o partido governante SWAPO estendeu os seus 34 anos no poder, mas por uma margem mínima, registando o seu pior resultado eleitoral de sempre. Em maio, o Congresso Nacional Africano da África do Sul foi forçado a formar um governo de coligação pela primeira vez na história democrática do país.

Embora os resultados eleitorais nesses países possam indicar uma mudança de paradigma, afastando-se de governos dominados por movimentos de libertação, os novos líderes da Namíbia, Gana e Botsuana estão sob pressão para cumprir as promessas eleitorais.

"A mudança geracional é um fator importante nas placas tectónicas políticas que estamos a observar", afirmou o cientista político Nic Cheeseman à Associated Press. "As pessoas querem empregos e dignidade — não se pode comer memórias."

Enquanto os resultados das eleições preocupam os membros do establishment dos movimentos de libertação, muitos observadores veem a mudança de poder nas nações da África Austral como um sinal de que os processos democráticos estão a funcionar. A exceção é a eleição disputada em Moçambique, onde a violência pós-eleitoral é responsável pela morte de quase 300 pessoas. Nas últimas semanas, cerca de 13 mil moçambicanos cruzaram para o vizinho Malawi para fugir à violência.

"Precisamos de fazer uma avaliação séria sobre onde estão os nossos países, o que está a funcionar, o que não está e porquê, para que possamos contribuir para a conversa global mais ampla sobre o futuro da democracia", disse a analista Dooms. "Podemos fazê-lo a partir de uma perspetiva exclusivamente africana, e perguntar como construir democracias que sejam adequadas ao propósito e que sirvam os povos africanos em vez de beneficiar apenas alguns."

Surpresas nas urnas podem voltar a acontecer, já que 2025 verá 11 nações africanas realizarem eleições importantes, incluindo os Camarões, República Centro-Africana, Egito, Costa do Marfim, Tanzânia e Togo. 

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