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O sonho da independência torna-se realidade no Sudão

6 de julho de 2011

Um sonho vai tornar-se realidade para muitas pessoas no Sul do Sudão, quando o país declarar a sua independência no sábado, 9 de julho de 2011. Ponto final de uma das guerras civis mais longas e sangrentas de África.

A partir de 9 de julho de 2011, o Sudão será o 193º membro da comunidade internacionalFoto: picture alliance/dpa

Só nas últimas décadas morreram nesta guerra mais de dois milhões de pessoas. Quatro milhões tiveram que procurar refúgio longe de casa. O conflito começou ainda antes da independência do Sudão em 1955, que trouxe graves problemas a uma nação desenhada com o esquadro e a régua pelas potências coloniais e que reunia em si duas partes em permanente confronto. Por exemplo, já no século dezanove os comerciantes do norte escravizavam os habitantes do sul.

A era colonial britânica aprofundou o fosso, por expediente político e interesses económicos. Londres concentrou-se no desenvolvimento de estruturas administrativas no norte, relegando para segundo plano todo o sul, cujos habitantes sempre se sentiram preteridos em favor da população árabe. Em 1955, em vésperas da indpendência nacional, os soldados do sul revoltaram-se porque não queriam servir debaixo das ordens de oficiais do norte. Foi o tiro de partida da guerra civil

A guerra no Sul do Sudão resultou em dois milhões de mortos e quatro milhões de refugiadosFoto: AP

A ilusão da paz

Em 1972 a paz parecia uma realidade: Cartum e os rebeldes assinaram um acordo que conferia a autonomia política ao sul, incluindo o seu próprio governo. Mas o Governo do norte voltou a retirar ao sul a autonomia concedida em 1983, após a descoberta de reservas de petróleo naquela região do país. Nessa altura, o antigo oficial do exército, John Garang fundou o Exército de Libertação do Sul do Sudão, ou SPLA, com o qual pretendia lutar “por um novo Sudão”.

Garang não se referia a uma cisão do Estado em dois, mas a um estado unitário composto pelo norte e pelo sul. Nem toda a gente o aplaudiu, explica o historiador sul-sudanês, Alfred Lokuji: "Garang queria um país secular, sem religião estatal. Um Estado no qual os africanos e os árabes pudessem coexistir em paz. Uma noção muito teórica”. Sobretudo, diz o professor, porque no sul a violação do acordo de 1972 despertou uma grande raiva e reforçou a reivindicação pela independência.

A independência incontornável


Após muitos anos de negociações, finalmente em 2005 os rebeldes do SPLA e o governo de Cartum assinaram um acordo de paz. O sul voltou a obter a autonomia. Nessa altura, foi criado um governo de união para as duas partes do país, até 2011, data em que seria realizado um referendo sobre uma eventual divisão. Com a morte de John Garang, o seu sucessor, Salva Kiir, começou a lutar abertamente pela independência do sul. Em janeiro de 2011, quase 98 por cento dos sul-sudaneses votaram a favor da independência. De modo que a partir do próximo sábado, a África passará a ter 54 estados.

O Presidente do Sudão, Omar Hassan Al-Bashir, é procurado por crimes de guerra pelo Tribunal Penal InternacionalFoto: AP

Autor: Daniel Pelz

Edição: Cristina Krippahl/António Rocha

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